São Paulo – O comportamento do consumidor e o varejo estão em mudança no mercado árabe e trazem novos desafios para empresas brasileiras interessadas em vender seus produtos na região. Especialistas no assunto trouxeram a visão do que está acontecendo nesse segmento nos países árabes em um ciclo de palestras sobre o assunto na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, nesta terça-feira (12).
A consultora de Inteligência Estratégica para Mercados do Oriente Médio e Norte da África da Euromonitor, Kinda Chebib (foto acima), foi uma das palestrantes e falou principalmente sobre os canais digitais, que vêm crescendo como forma de varejo nos países árabes, e da transformação dos pontos de vendas físicos em locais não apenas de comercialização de produtos, mas de experiência para o consumidor.
Dados apresentados por Kinda mostram que no ano passado 68% dos domicílios do Oriente Médio e Norte da África (Mena) tinham smartphones, o que passará para 85% em 2023. Mais da metade – 52% – das transações de varejo pela internet se darão por smartphones ou tablets no ano que vem na região, segundo a consultora. “Haverá muito mais compras por dispositivos móveis”, afirmou Kinda Chebib.
Ela falou também que o Oriente Médio e o Norte da África estão em segundo lugar no ranking de regiões com consumidores multicanais, que são aqueles que usam para comprar desde computadores até aplicativos, celulares e lojas físicas. No ano passado, o percentual de consumidores da região que tinham esse perfil era de 33%.
A consultora relatou um crescimento expressivo nos canais digitais para venda de alimentos nos países árabes, como assinaturas de serviços de refeição, aplicativo para entregas de comidas e para compras em supermercados, reflexo de um consumidor mais ocupado, que trabalha e quer adquirir alimentos de alta qualidade. Segundo Kinda Chebib, os supermercadistas da região fizeram parcerias com aplicativos.
Alessandra Frisso, diretora comercial da H2R Pesquisas, empresa de pesquisa especialista em países árabes, também falou sobre as mudanças que estão ocorrendo no consumo na região, baseadas principalmente no perfil dos jovens. Ela chama esse consumidor de “novo normal”, termo que também é usado por outros especialistas estrangeiros. “Tem a ver com essa juventude que está chegando, essa juventude é uma força impulsionadora de novas mudanças, é mais digital, está ligada no mundo e se posiciona para o mundo”, disse Alessandra à ANBA.
Esse novo consumidor, no entanto, tem relação também com outras transformações no mundo árabe. “Essa região é muito dinâmica, os movimentos que estão acontecendo, e eu não digo só movimentos sociais não, mas de tecnologia, de ruptura com padrões de negócios tão antigos como petróleo, indo para energia limpa, uma sociedade que antes não pensava em crise e agora tenta economizar”, descreve.
Alessandra apresentou características desse novo consumidor dos países árabes, como valorização de promoções e programas de fidelidade, a lealdade às marcas condicionada ao preço justo e à qualidade, e a busca pelas lojas físicas com perfil de showroom, para contato com o produto. “O contato com o produto ocorre dentro da loja física e depois o consumidor vai para uma experiência online multicanal, as marcas conversam com ele independentemente do local”, afirmou Alessandra.
Com base em pesquisas realizadas pela H2R, Alessandra apresentou ainda outras peculiaridades sobre o consumo nos países árabes e sobre como os árabes percebem o Brasil. Ela lembrou que cada país ou região tem seu código cultural, o que se reflete no consumo. “Código cultural de um país é toda aquela formação que a gente tem, como a gente aprende, o que a gente valoriza, desde um carro, desde o tipo de comida, o relacionamento, as marcas, como a gente valoriza essas marcas”, afirma.
Kinda Chebib apresentou ainda dados sobre o varejo nos países árabes que podem ser úteis para formulação de estratégia de mercado para as empresas. Segundo ela, em países do Norte da África como Tunísia e Argélia a maior parte do varejo é voltada para alimentos embalados, enquanto em países do Golfo como Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita o varejo é voltado principalmente para vestuário e calçados.
A gerente de exportações da Minerva Foods, Janaína Azevedo, contou sobre sua experiência de 23 anos com o mercado consumidor árabe. Além da Minerva, empresa que produz principalmente carne bovina, a executiva trabalhou com os setores de lácteos e frangos. Segundo ela, a relação de confiança é algo priorizado pelos árabes. Janaína acredita na importância da relação próxima com os clientes. Uma vez por ano pelo menos os clientes são visitados. “O sucesso deles é o nosso também”, disse. A executiva afirma que aprendeu muito com os árabes, principalmente a negociar. “É um povo que gosta de negociar”, afirmou para os empresários presentes.
Em entrevista à ANBA, o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, se mostrou satisfeito com a abordagem de um assunto tão estratégico para a entrada das empresas no mercado árabe. “É preciso saber como é o consumidor, como é o varejo, é preciso entender o contexto para se adequar, e como queremos agregar outros produtos além das commodities na pauta de exportação aos países árabes, isso é mais importante ainda”, afirmou o presidente. A gerente comercial da Câmara Árabe, Daniella Ribeiro Leite, conduziu a conversa do público com as palestrantes.