São Paulo – Todos os segmentos de consumo do mercado islâmico, com exceção do turismo, retornarão aos níveis pré-pandêmicos ainda em 2021. Essa foi uma das boas notícias divulgadas no fórum de negócios Global Halal Brazil, que teve seu primeiro dia nesta segunda-feira (06). Em função da pandemia, o evento ocorreu em formato híbrido, com participação de grupo restrito de convidados no Hotel Renaissance, na capital paulista.
O dado sobre a retomada do consumo foi apresentado pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Osmar Chohfi (foto acima), com base na última edição do The State of Islamic Economic Report. O relatório aponta perspectivas promissoras para esse mercado, que movimenta US$ 4,8 trilhões ao ano, considerando os setores de alimentos, cosméticos, fármacos, vestuário, entretenimento, turismo e serviços financeiros.
Segundo Chohfi, até 2024 a movimentação do mercado islâmico deve crescer 18% para US$ 5,7 trilhões, com avanço na casa dos dois dígitos, com exceção do turismo, que crescerá menos, 7%. Os produtos halal são aqueles produzidos de acordo com as regras do Islã e apropriados para o consumo de muçulmanos. O turismo trata-se de estruturas apropriadas para atender os muçulmanos, como o oferecimento de locais de reza nos hoteis e alimentação halal nos restaurantes dos empreendimentos.
O mercado islâmico é formado por 1,9 bilhão de consumidores dos 57 países que formam a Organização para Cooperação Islâmica (OCI) e de outros que abrigam grandes comunidades muçulmanas, como França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos. Segundo Chohfi, esse mercado vai avançar nos próximos anos impulsionado pelo crescimento da população islâmica e pelos investimentos na economia halal.
A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil, Tereza Cristina, participou remotamente do fórum e frisou a posição do Brasil como fornecedor internacional de produtos halal. “Já somos o principal fornecedor desses produtos a muitos países da OCI e em certos casos o Brasil tem participação de mais de 75% de alguns mercados, como na carne de aves”, falou a ministra, parabenizando o trabalho da Federação das Associações Muçulmanas, a Fambras Halal, certificadora de halal. “Ano a ano vocês têm feito a diferença em nosso país”, disse.
A Fambras Halal é promotora do fórum juntamente com a Câmara Árabe. O presidente da Fambras Halal, Mohamed Zoghbi falou na abertura do evento e contou que o halal deixou de ser algo exclusivo aos muçulmanos para se tornar um selo mundial de qualidade, valorizado por veganos e pelos que adotam o consumo consciente.
O Brasil já está estabelecido como fornecedor de proteína animal, mas os organizadores do fórum querem tornar o país um importante player também em outros segmentos do halal. “Sabemos que as indústrias brasileiras, com sua criatividade, potencial e qualidade, podem exportar uma infinidade de produtos não só alimentícios, mas também, matérias-primas, cosméticos, fármacos e muito mais”, afirmou Zoghbi.
Participando dos seus países, autoridades e especialistas árabes desejaram sucesso ao Brasil no intuito de crescer como fornecedor de halal. “Sucesso ao Brasil, que alcance as metas almejadas”, disse o ministro de Obras, Assuntos Municipais e Planejamento Urbano do Bahrein, Essam Bin Abdulla Khalaf. Khalaf afirmou que a indústria de produtos halal é uma das que mais cresce no mundo. Ele contou do trabalho dos países muçulmanos, principalmente do Golfo, pela unificação das regras da emissão da certificação halal e disse que o Bahrein participou ativamente disso.
Falando da Arábia Saudita, o presidente da Câmara Islâmica de Comércio, Indústria e Agricultura, Abdullah Saleh Kamel, contou do trabalho da instituição pelo mercado halal e desejou sucesso para a Câmara Árabe no estreitamento do relacionamento do Brasil com os países islâmicos. Ele falou sobre o futuro desse mercado e das metas que enxerga para ele: a integração da economia islâmica, o posicionamento do halal como princípio ético e a expansão para os não muçulmanos.
Participando de forma remota do Egito, o secretário-geral da União das Câmaras Árabes, Khaled Hanafy, afirmou que a adesão ao comércio halal aumenta a cada dia e que todos os países vêm se interessando pelo tema. Ele também destacou o trabalho da Câmara Árabe no incentivo ao atendimento desse mercado e falou das várias áreas que ele envolve.
Falando do Egito e em nome do secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Aboul Gheit, a chefe do Departamento das Américas da Liga Árabe, Soudad Najm, destacou a posição de destaque do Brasil na indústria halal. “A Liga apoia todas essas iniciativas que visam fortalecer a relação do Brasil e os países árabes”, disse. Najm frisou que apesar das mudanças políticas, a relação do Brasil e os países árabes permanece forte.
O decano do Conselho dos Embaixadores Árabes no Brasil, Ibraim Alzeben, também embaixador da Palestina no Brasil, falou no fórum presencialmente. Ele disse que a participação no evento traduz o interesse do conselho na construção de diálogo construtivo com resultados benéficos para o Brasil e os países árabes e para que se tenha produtos seguros para o consumo.
Também falou na abertura do evento o presidente da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), Augusto Pestana (leia outra reportagem abaixo), e o ex-presidente do Brasil, Michel Temer, fez a palestra principal do dia (leia reportagem abaixo). Em seguida, especialistas, empresários e representantes do setor público e de instituições do exterior e do Brasil discutiram o tema do halal em painéis.
O fórum ocorre até esta quarta-feira (08) com o patrocínio da Apex-Brasil, BRF, Pantanal Trading, Portonave e a Iceport. Ele pode ser acompanhado pelo site do evento mediante inscrição prévia ou pelo canal da Câmara Árabe no YouTube. Há tradução simultânea para o inglês e o português.
Leia outras reportagens sobre o fórum:
- Para Temer, halal deve ir além de mercado islâmico
- Para ampliar pauta halal, Brasil precisa promover imagem
- Educação em economia islâmica foi impactada pela covid-19
- Apex-Brasil quer levar halal a pequenas empresas
- Alimentos prontos para consumo são tendência no halal
- Pós-pandemia, mundo investirá em saúde pública
- Halal: Alimento brasileiro é seguro e sustentável