Isaura Daniel
São Paulo – Os Estados Unidos e o Japão estão perdendo participação nas exportações brasileiras em termos percentuais. Os norte-americanos responderam por 22,52% das vendas do país ao exterior em maio de 2003, número que caiu para 20,51% no mesmo mês deste ano. Já a fatia dos japoneses diminuiu de 3,19% para 2,76%.
Longe de ser uma má notícia, a variação dos números é justificada, em grande parte, pelo aumento das exportações para destinos menos tradicionais como África, Oriente Médio, China e Rússia. A diversificação dos clientes do país no exterior está fazendo com que os tradicionais compradores, como Estados Unidos, União Européia (UE) e o Japão, pesem menos na balança comercial.
Os norte-americanos, por exemplo, apesar de terem aumentado as suas importações em US$ 1,3 bilhão de 2002 para 2003, caíram de uma participação de 25,44% para 22,84% no mesmo período. O mesmo ocorreu com a UE, que comprou US$ 3 bilhões a mais, mas perdeu pontos em representação: de 25,4% para 24,77%.
"Os mercados mais consolidados foram criando um grande número de restrições não-tarifárias e o Brasil foi buscar outros mercados", diz o especialista em Economia Internacional da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Evaldo Alves, em referência aos Estados Unidos e à União Européia.
Entre as barreiras estão o estabelecimento de quotas de importação para determinados tipos de produtos, exigências fitossanitárias e os subsídios agrícolas.
O Brasil está vendendo para estes países chamados alternativos justamente os produtos agrícolas que enfrentam dificuldades para entrar nos EUA e na UE. Há ações brasileiras na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as duas regiões discutindo, por exemplo, a comercialização de soja, milho, algodão e laranja.
Os novos parceiros
Enquanto isso, novos parceiros ganham peso. A África, por exemplo, aumentou em 21% as suas importações do Brasil no passado em relação a 2002, o Oriente Médio em 20%, a China em 79% e a Rússia em 19%. A receita de US$ 1,2 bilhão obtida com as vendas ao Oriente Médio, entre janeiro e maio deste ano, por exemplo, já ultrapassou a do Japão, de US$ 988 milhões, um parceiro comercial antigo do Brasil.
A região passou de uma participação de 3,10% como destino das exportações brasileiras em maio do ano passado para 3,77% em maio de 2004. A África saiu de 3,6% para 3,7%.
O faturamento das exportações para estes mercados alternativos ainda é pequeno se comparado com os norte-americanos e europeus, que adquiriram mais de US$ 30 bilhões no ano passado, quase metade das exportações brasileiras. Os embarques, porém, devem continuar a crescer.
Acordos de livre comércio negociados entre os países sul-americanos e árabes, como entre o Mercosul e o Egito por exemplo, devem ajudar a aumentar os negócios. O mesmo deve ocorrer se for posto em prática o acordo comercial que há entre o Brasil, Rússia, Índia e China.
Diversificação
O superintendente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Benedito de Sanctis Pires de Almeida, diz que é saudável para o Brasil a diversificação. "O Brasil precisa trabalhar para aumentar o número de mercados, produtos vendidos e também empresas exportadoras", diz.
De acordo com Pires de Almeida, o país tem condições de continuar atendendo os seus mercados tradicionais e ainda vender para novos destinos. No ano passado 17,6 mil empresas brasileiras exportaram. "Mas o Brasil tem ao redor de 30 mil empresas habilitadas a exportar. Precisamos fazer com que elas participem do comércio exterior de forma contínua e não apenas ocasionalmente", diz.
O economista da FGV, Evaldo Alves, lembra que o Brasil exporta apenas 10% a 12% da sua produção, enquanto os chamados "Tigres Asiáticos" vendem 40% dos seus produtos no exterior. "Há muito espaço para crescer", diz Alves.

