Débora Rubin
debora.rubin@anba.com.br
São Paulo – Imagine cursar um mestrado na área de ecologia e sustentabilidade morando em um campus in loco, isto é, no meio do mato. Pois a partir da primeira semana de março, oito alunos selecionados entre 200 vão estrear o primeiro mestrado profissionalizante em ecologia do Brasil, oferecido pela Escola Superior de Conservação Ambiental (Escas). A Escola é um projeto do Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas), uma das mais tradicionais organizações socioambientais do país, em parceria com a Natura, empresa conhecida por seus produtos e conduta ecologicamente corretas.
“Esse curso é um sonho antigo. Mas só agora deu certo”, explica Cláudio Pádua, que criou o Ipê em 1992, mas que já atua na área de conservação ambiental desde os anos 80. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) liberou a autorização para o curso no ano passado.
O campus, no entanto, só vai ficar pronto daqui dois anos. Isso porque será uma construção completamente verde, feita com madeira certificada, tratamento de esgoto diferenciado, energia solar, entre outras coisas. “Ele será todo feito no conceito de ‘green building’. E já está chamando tanta atenção que estudantes de arquitetura querem acompanhar a construção”, conta Pádua. Estima-se que as obras custarão em torno de R$ 10 milhões.
O campus será em Nazaré Paulista, a uma hora de São Paulo, onde fica a sede do Ipê. Enquanto não fica pronto, a primeira turma vai começar em uma chácara que foi alugada especialmente para isso. Os alunos poderão fazer o curso no período de um ano ou dois. No primeiro ano, entretanto, elas devem morar no campus, para não só estudar, mas vivenciar o mestrado em ecologia. A chácara também fica em Nazaré.
“Me inspirei em um curso que eu mesmo fiz no exterior no qual ficávamos imersos nos estudos em um lugar isolado. Eu aprendia tanto dentro da sala de aula como fora dela. Fora que quando você está preso ao trabalho e estudando ao mesmo tempo, nunca tem tempo suficiente para ler com calma”, conta Pádua.
A idéia é formar um profissional que aplique esses conceitos de conservação da biodiversidade e de desenvolvimento sustentável em seu trabalho posteriormente. Tipo de profissional cada vez mais requisitado por grandes empresas que, por sua vez, estão cada vez mais dispostas a produzir de forma responsável, conservando o meio ambiente.
A princípio, o curso foi idealizado para biólogos e, de preferência, pessoas que atuam em órgãos governamentais e não-governamentais ligados ao meio ambiente. Ou seja, pessoas ligadas ao tema, mas não necessariamente do mundo acadêmico. “Mas, no final das contas, tem de tudo um pouco entre os selecionados. Biólogo, pedagogo, gente nova, profissionais com mais tempo de carreira”, conta o idealizador do Ipê, ao lado de Suzana Pádua, atual presidente da ONG. O curso custa R$ 1.200 mensais. Para os que não podem bancar tal mensalidade, existe a opção de trabalhar no Campus em troca do curso.
Os professores são doutores que atuam como pesquisadores do Ipê, mas também há convidados de universidades parceiras do Instituto. Todos, no entanto, atuam com pesquisas aplicadas na área da Biologia da Conservação ou na área Socioambiental e de Sustentabilidade.
Ipê
Considerada a terceira maior ONG ambiental do país, o Ipê foi inaugurado em 1992 com o Projeto Mico-Leão-Preto, que visava a preservação da espécie no Pontal do Paranapanema, em São Paulo. Hoje, segundo Pádua, conta com mais de cem profissionais atuando em projetos em seis pontos do país. No Paranapanema, em Nazaré Paulista, no Amazonas, no Pará, no Pantanal e no litoral do Paraná. São cerca de 30 projetos espalhados por esses lugares. “E os nossos pesquisadores não moram nas grandes cidades e fazem pesquisas esporádicas, eles vivem nos lugares onde atuam”, conta Pádua.
Os projetos do Ipê se apóiam no tripé social-ambiental-econômico. Ou seja, visam a conservação da natureza, envolvendo as comunidades dos locais onde há projetos e, de preferência, gerando uma atividade que garanta renda a essas comunidades. Por seu trabalho, o Ipê já ganhou diversos prêmios como o Tecnologia Social da Fundação Banco do Brasil, o Whitley Gold Award e o Prêmio Bem Eficiente, que premia as 50 entidades mais bem administradas do país. Além da Natura, a Petrobras, o Grupo Martins e a Alpargatas são alguns dos parceiros do Ipê.
Saiba mais
www.ipe.org.br

