São Paulo – O mundo dos negócios como se conhece vai mudar. Novas oportunidades vão se abrir, novas frentes de negociação, uma nova família de hardwares talvez seja necessária em breve e você vai poder estar quase fisicamente aqui, ali ou em qualquer lugar. O metaverso vai entrar na vida das pessoas, que também vão entrar no metaverso.
Ao se propor uma mistura de presença real no mundo virtual, de colocar a rede social dentro de um jogo de computador, de viver em um ambiente que não é físico, o metaverso abre oportunidades de interação. Pode ser, por exemplo, que se uma reunião de negócios ocorrer em Xangai, na China, os participantes brasileiros que estarão no Rio de Janeiro sejam representados neste encontro por seus hologramas, que é a projeção real da sua imagem em uma sala de reuniões como se estivessem lá.
“O metaverso altera a questão do espaço, do uso da informação e do espaço. Ele vai propiciar um contato maior entre as pessoas, mesmo à distância, e com novas interações, novas formas de se apresentar um produto. A relação de espaço vai mudar”, diz o professor e pesquisador de jogos e ambientes virtuais Francisco Tupy.
Para que isso aconteça, diz o pesquisador, poderá ser preciso tornar smartphones e computadores mais potentes. Projetores e óculos de realidade aumentada, assim como a internet 5G, serão essenciais. Um mundo de oportunidades poderá surgir daí.
Uma das referências mais conhecidas do metaverso é o “jogo” lançado ainda em 2003 Second Life. O que essa atração propunha era a interação de pessoas reais dentro dos computadores. Todos os participantes podiam criar bonecos com as suas características físicas, chamados de avatares, e interagir ali. “No Brasil, o Second Life até fez publicidade, algumas ações pontuais, mas lá nos Estados Unidos seu alcance foi muito maior. Dava para assistir a aulas em grandes universidades, estudar idiomas”, recorda Tupy.
Hoje, grandes marcas de moda, por exemplo, já estão criando produtos para serem vendidos exclusivamente em jogos que utilizam o conceito do metaverso em novas formas de promoção publicitária, experiência de marca e comercialização.
Como surgiu
Metaverso foi um termo utilizado pela primeira vez em 1992, no livro de ficção científica Snow Crash escrito por Neal Stephenson. No entanto, o conceito que se tem hoje é mais recente e pode ter interpretações variadas. Gerente de contas e especialista de tendências da WGSN, empresa que é líder em tendências e comportamentos de consumo, Liliah Angelini afirma que a companhia identificou o metaverso em 2018.
“A internet está se transformando no metaverso, e o que é ele? Um espaço digital compartilhado que vai influenciar a cultura e o design, possibilitando novos modos de expressão e experiências. O metaverso será a plataforma de suporte para todas as nossas interações futuras – tanto online quanto off-line”, afirmou Liliah à ANBA em entrevista por e-mail.
Ela também chama atenção para o fato de que, por ainda ser “emergente”, ainda não há uma definição universal do que é o metaverso. Algumas características, contudo, identificam o conceito: ser experiência ao vivo e em tempo real; hospedar qualquer tamanho de público; ter uma economia em pleno funcionamento; abranger todas as plataformas, bem como domínios físicos e digitais; permitir que ativos digitais transitem entre plataformas; conter experiências e conteúdos criados por usuários individuais e por grandes corporações.
São elas, as grandes corporações que estão liderando esta mudança. No final de outubro, o Facebook anunciou o novo nome da empresa: Meta. Dentro desta companhia continuam a existir e operar as redes sociais Facebook, Instagram e o aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp. Mas o novo nome da companhia também representou, na visão do seu CEO e fundador, Mark Zuckerberg, um novo passo em direção ao futuro, que é justamente o metaverso.
A Meta tem uma visão e enxerga uma aplicação para o conceito, que pode variar de empresa para empresa. Todas as big techs, como são conhecidas as grandes companhias de tecnologia, porém, estão com seus projetos baseados no metaverso a caminho. E não só elas. “É o momento também de pequenas empresas, de startups, de alguém ter uma ideia única e vir a ser uma gigante. É uma corrida do ouro que se abre”, diz Tupy.
Quando o metaverso estará entre nós? De alguma forma, ele já esteve, com o Second Life, e já está também com o Second Life e em jogos como Fortnite, Roblox e Minecraft. Não são, segundo Liliah, o metaverso “em si mesmo”. “Mas são destinos dentro dele”.
Para o universo e além
A palavra metaverso é formada por outras duas: meta, do grego “além”, e verso, em referência a “universo”. Pode parecer exagero? Advogada especialista em direito cibernético, mestranda em Criminalidade Cibernética pela Faculdade Politécnica da Universidade de Nebrija, Espanha, e mestranda em Compliance pela Faculdade de Direito da Universidade de Castilla La Mancha, também na Espanha, Carolina Christofoletti define o metaverso como “mais” do que tudo o que conhecemos.
“O metaverso é mais do que o comércio em criptomoedas, mais do que as redes sociais, mais do que os contratos inteligentes e mais do que a realidade virtual: é um local em que tudo isso se encontra, e em que os novos botões e funcionalidades estarão em perpétua e constante expansão. O metaverso aceita, por fim, tudo”, diz. Criptomoedas são as moedas comercializadas apenas virtualmente, mas com valores “reais” que ultrapassam as dezenas de milhares de dólares.
Nos negócios
E de que outras formas o metaverso vai impactar o mundo dos negócios? Carolina cita um exemplo: imagine que, ao procurar um produto típico árabe no Google, o comprador pudesse clicar em um botão, “abrir as portas virtuais do metaverso”, viajar até um país árabe e lá ter contato com artesão que faz o produto.
“A experiência negocial é, no metaverso, elevada ao limite para, por fim, reconstruí-lo novamente. Para além das fronteiras físicas, o metaverso é um lugar onde as “Arábias”, como ambiente cultural, podem finalmente existir – e mais do que isso, estarem acessíveis a uma audiência mundial”, diz Carolina.
Em outro exemplo de evolução do comércio, Tupy cita o turismo. “As possibilidades do metaverso não vão suplantar o turismo em si, mas pode ser que uma pessoa que não tenha dinheiro para viajar até um país árabe, por exemplo, possa visitar e conhecer esse país por meio da interação virtual e até ser impactada por uma publicidade durante esta viagem. Já quem tem os recursos, poderá ser impactado no ambiente do metaverso e viajar e consumir também no destino físico”, exemplifica Tupy.
“É importante mencionar que dentro desse contexto, novas formas de publicidade irão se desenvolver à medida que o metaverso evolui. As marcas precisam explorar esse espaço, não só pensando no awareness (consciência de marca) e em se tornarem conhecidas para os consumidores, por meio da promoção de entretenimento, mas também considerando focar no que mais pode ser oferecido a eles”, completa Liliah.
*Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA.