Geovana Pagel
São Paulo – Os resultados positivos da economia brasileira este ano se devem principalmente ao grande volume de exportações. Atentos a essa realidade, cada vez mais os micro e pequenos empresários se preparam para conquistar o mercado externo.
Os números fornecidos pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae/SP) permitem dar uma idéia de quantas novas oportunidades podem ser geradas. A começar pelo fato de que 99% das empresas brasileiras são de pequeno porte.
“No Brasil existem 14,5 milhões de pequenas e microempresas, sendo que 4,5 milhões são informais. Em São Paulo, existem 1,2 milhão de micro e pequenas formais e 4,5 milhões informais. No universo formal, 17 mil pequenas e microempresas brasileiras exportam”, explica José Luiz Ricca, diretor-superintendente da entidade.
Dados da Câmara de Comércio Exterior (Camex) mostram que do total de empresas exportadoras do país, 14% são pequenas. Segundo a pesquisa “A Alca e as MPEs Paulista”, realizada pelo Sebrae/SP em 2002, 3% das micro e pequenas indústrias com pelo menos um empregado realizavam atividades de exportação com alguma regularidade.
O Sebrae apóia atualmente as atividades de 4 consórcios de exportação e 5 Programas Setoriais Integrados (PSIs) em todo o estado. Outros 5 estão em fase de implantação.
O diretor-superintendente José Luiz Ricca acredita que a união entre empresas do mesmo setor, por meio de consórcios, é a principal saída para as exportações das micro e pequenas empresas. “Elas deixam de ser concorrentes e passam a ser parceiras”, diz.
"As pequenas que ainda não são consorciadas costumam mandar as mercadorias pelo Exporta Fácil, dos correios", conta o diretor.
Hoje, segundo Ricca, os setores que mais exportam são os de confecções, alimentos, jóias e artesanato. Países do Mercosul, Estados Unidos, Europa, Oriente Médio e África são os principais mercados. “A indústria pequena trabalha mais como fornecedora de componentes, como, por exemplo, o fornecendo autopeças que serão utilizadas no carro que é exportado”, explica.
De acordo com o executivo, a própria consolidação da empresa como exportadora depende muito de sua real possibilidade de atingir o mercado. “No dia-a-dia observamos muita dificuldade em saltar obstáculos”, conta.
“É um caminho difícil, a burocracia, os tributos, certificações e o grande volume exigido para exportação muitas vezes emperram o processo”, alerta. “É preciso administrar a empresa sob esta nova dimensão exigida pelo mercado externo”, ensina.
A ausência de um plano de negócio, na opinião do executivo, é o principal entrave no acesso a novos mercados. “É preciso planejar novos produtos, com novo patamar de qualidade, novo patamar de produção”, ensina.
De acordo com Ricca, é justamente nesta hora que começa o trabalho do Sebrae, junto com o governo federal, na busca pela simplificação da burocracia e tributos exigidos.
O diretor comenta que a criação do imposto super simples possibilitaria às empresas terem um único tributo que possa cobrir todos os impostos. “O que a pequena quer não é a isenção da carga tributária, mas a simplificação”, destaca.
Segundo ele, a principal característica do perfil das pequenas é: “se industrias empregam entre 60 e 70 pessoas. Se de serviços geram entre 30 e 40 empregos”.
Ricca também ressalta a importância do aumento de linhas de financiamento próprias para facilitar o processo. “Normalmente elas têm pouco dinheiro, precisam de agilidade e simplificação para liberar logo o financiamento”, Segundo ele, as mais utilizadas atualmente são as do Banco do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal.
Feiras e rodadas de negócios
“O Sebrae facilita por meio de feiras e missões comerciais. Tanto levando empresários para o exterior, quanto trazendo importadores para cá”, explica Ricca.
Em 2003, o Sebrae/SP subsidiou a participação de empresas em 31 feiras na capital e em 15 rodadas de negócios.
As feiras envolvem 1041 empresas expositoras. A estimativa de negócios gerados durante as feiras foi de aproximadamente R$ 15,5 milhões. A estimativa para os seis meses posteriores é de R$ 133 milhões.
Nas 15 rodadas realizadas em 2003, foram 926 empresas participantes, 174 compradoras e 752 vendedoras, gerando 3.527 oportunidades de negócios e uma estimativa de negócios no valor de R$ 54 milhões. Para 2004 já está acertada a participação do Sebrae/SP em 22 feiras e a realização de 22 rodadas de negócios.
Apoio tecnológico
O Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Progex), parceiro do Sebrae e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), tem como objetivo adaptar o produto ao mercado externo quanto à qualidade, redução de custos, atendimento às normas técnicas, pré-qualificação do produto para certificação, adaptação de design e adequação de embalagem.
No período de 1999-2003 a parceria realizou estudos de viabilidade técnica de 240 produtos e a adequação técnica de 198. Nessa etapa, o Sebrae/SP investiu R$ 3,6 milhões. Até 2005 serão investidos R$ 2,4 milhões, estimando-se os estudos de viabilidade técnica de 150 produtos e a adequação técnica de 132 deles.
Pesquisa com micro e pequenos
A Câmara de Desenvolvimento da Micro e Pequena Indústria (Cadempi) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) realizou pesquisa com esse público específico, batizada de Conhecendo a Pequena Empresa, no ano passado.
O levantamento ouviu 849 empresários com o propósito de traçar o perfil e identificar as principais necessidades das micro e pequenas empresas instaladas no estado de São Paulo. E concluiu que 30% das micro e pequenas indústrias que participam da pesquisa realizam atividades regulares de exportação.
Essa participação foi considerada pouco expressiva pelo mercado, porém, pois quando se analisam os dados sobre o comércio exterior brasileiro, nota-se que o número de micro e pequenas indústrias que exportam é baixo em relação ao total de micro e pequenas indústrias existentes no país.
Segundo a pesquisa “A Alca e as MPEs Paulista”, realizada pelo Sebrae/SP em 2002, 3% das micro e pequenas indústrias com pelo menos um empregado realizavam atividades de exportação com alguma regularidade.
De acordo com o estudo “Desempenho e Potencial Exportador das MPEs Paulistas”, desenvolvido pelo Sebrae/SP e Funcex, 1958 micro e pequenas indústrias paulistas exportaram em 1996, o que representava cerca de 1% das empresas industriais paulistas àquela época.
Os estudos realizados pelo Sebrae/SP ajudam a entender por que essa participação é baixa. Segundo o “Perfil Comparativo Micro e Pequenas versus Médias Grandes Empresas”, realizado em 1998, 37% das micro e pequenas indústrias que não exportavam alegavam como principal causa a pequena escala de produção, 31% a falta de informação sobre os mercados externos, como clientes e normas técnicas, e 24% a burocracia.
Assim, o Sebrae/SP tem dado ênfase a programas como formação de consórcios e informação, para promover as exportações desse segmento.
Além disso, segundo o mesmo estudo do Sebrae/SP, 22% das micro e pequenas indústrias que não exportavam alegavam que o mercado interno era sua prioridade.
Classificação de empresas por número de empregados
ME (Microempresa) – na indústria até 19 empregados e no comércio/serviço até 9 empregados;
PE (Pequena Empresa) – na indústria de 20 a 99 empregados e no comércio/serviço de 10 a 49 empregados;
MDE (Média Empresa) – na indústria de 100 a 499 empregados e no comércio/serviço de 50 a 99 empregados
A classificação do porte também poderá ser estabelecida pelo faturamento da empresa, porém, o Sebrae/SP não dispõe de nenhuma fonte oficial ou base de dados que forneça essas informações.
É considerado, então, como critério oficial e exclusivo do Sebrae apenas o setor de atividade econômica e o número de empregados, informações disponíveis, por exemplo, nas bases de dados estatísticas do MTE – Ministério do Trabalho e Emprego (RAIS, CAGED e CEE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas – IBGE (Cadastro Central de Empresas – CEMPRE).

