São Paulo – O Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, disse nesta segunda-feira (13), em São Paulo, que os resultados da última missão empresarial ao Oriente Médio promovida por sua pasta, na semana retrasada, foram "excelentes".
"Nós fizemos importantes contatos de governo, fizemos também importantes contatos com fundos soberanos, e os empresários, em todos os países, fizeram negócios, bons negócios", destacou Jorge, em entrevista coletiva realizada antes de almoço em sua homenagem na Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
A delegação brasileira, com representantes de mais de 70 empresas, passou por Damasco, na Síria, Cidade do Kuwait, Doha, no Catar, Riad, na Arábia Saudita, e Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos.
Ele ressaltou, no entanto, que os contatos feitos durante a missão têm que ser mantidos. “Eu acho importante que a gente possa manter esse tipo de trabalho, porque você não vende indo apenas uma vez no lugar, você vende voltando, fazendo novos contatos, olhando nos olhos das pessoas. Principalmente no mundo árabe, onde grande parte do negócio se faz base da confiança”, afirmou.
Investimentos
Na seara dos fundos soberanos, Jorge contou que a Abu Dhabi Investment Authority (Adia), maior fundo soberano do mundo, pretende enviar uma delegação para prospectar oportunidades de investimentos no Brasil ainda no primeiro trimestre de 2011.
“Trabalhamos muito para atrair investimentos dos fundos soberanos, principalmente para a área de infraestrutura. Tivemos muitas conversas nesse sentido [na missão]”, declarou o ministro em discurso no almoço.
Ele acrescentou que o apoio pessoal do presidente da Câmara Árabe, Salim Taufic Schahin, e da entidade “foi fundamental para a realização da missão de muito sucesso, que trará resultados importantes para o Brasil no médio e longo prazos”.
Mais tarde, após o almoço, ele ressaltou que o mercado brasileiro precisa de linhas de crédito de longo prazo, mas há escassez desse tipo de financiamento nos bancos comerciais brasileiros, ficando a maior parte dessa responsabilidade nas mãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Os fundos soberanos de países árabes têm justamente interesse em investimentos de longo prazo. Schahin destacou que, durante a reunião que ele e Jorge tiveram com a cúpula da Adia, em Al Ain, no interior de Abu Dhabi, os executivos árabes manifestaram “interesse real” em investimentos de longo prazo no Brasil. Na reunião, foram citadas áreas como hidrelétricas, portos, aeroportos, estradas e a exploração de petróleo no pré-sal brasileiro. “Eles estão sempre procurando investimentos de longa maturação”, afirmou Schahin.
A Adia assinou um memorando de intenções com o BNDES com o objetivo de prospectar oportunidades de investimentos conjuntos no Brasil e fora dele. Segundo Schahin, a entidade quer que a Câmara Árabe ajude também na busca por possibilidades no país.
Prioridade de governo
O ministro falou ainda sobre a ampliação das relações comerciais com o mundo árabe durante os oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Foi muito gratificante ter participado desse esforço, como ministro e como descendente de árabe”, declarou. Ele ressaltou que a aproximação com o mundo árabe foi uma das prioridades da política externa do governo Lula.
O presidente da Câmara Árabe destacou que, nos últimos quatro anos, quando Jorge esteve à frente do ministério, a exportação do Brasil ao mundo árabe “dobrou de novo”. Segundo ele, o ministro usou a tradição dos mascates árabes no comércio exterior brasileiro. De janeiro a novembro deste ano, as vendas do Brasil aos árabes renderam US$ 11,3 bilhões.
Schahin acrescentou que a Câmara Árabe espera que o governo da presidente eleita Dilma Roussef, que assume no dia 01 de janeiro, mantenha a política de aproximação com os países árabes. Jorge respondeu que “tem certeza que o novo governo vai dar toda a atenção às relações com o mundo árabe”.
Antes de deixar o governo, o ministro ainda vai participar da Cúpula do Mercosul, em Foz do Iguaçu, no final desta semana, onde serão assinados acordos-quadro entre o bloco sul-americano, a Síria, a Jordânia e Palestina, que Lula recentemente reconheceu como estado. Tais tratados vão marcar o início de negociações de acordos de livre comércio.
Homenagem
Sobre a homenagem da entidade, Jorge destacou: “É uma honra para mim, principalmente como filho de libanês, ser homenageado.” E brincou: “Embora eu seja meio contrabando, porque eu sou metade árabe e metade italiano.”
Jorge vai ser substituído na pasta pelo ex-prefeito de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Ele disse que agora vai descansar na Bahia e cumprir o período de quarentena a que está obrigado ao deixar o governo. “Eu vou para a Bahia, e eu não sei o que fazer, porque eu estou em uma situação muito estranha: pela primeira vez na vida eu saio [de um trabalho] sem ter outro emprego, então eu vou ter que me adaptar a essa situação, que é realmente muito estranha”, concluiu o ministro, que é jornalista, foi diretor do jornal O Estado de S. Paulo, um dos maiores do Brasil, e executivo de multinacionais como Volkswagen e Santander.
Em seu discurso, Schahin destacou: “Queremos que o senhor (Jorge) passe mais tempo nessa casa (a Câmara Árabe), que é lar e templo dos mascates.”

