São Paulo – A empresa brasileira Milhão Ingredients encontrou na demanda por produtos saudáveis dos países árabes uma oportunidade para os ingredientes de milho não transgênicos que produz. A companhia se voltou ao mercado árabe há um ano e, já presente no Egito, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Catar, pretende crescer mais na região, segundo o gerente-executivo de Comércio Exterior, Valdo Rodrigues.
Quando o Brasil liberou o cultivo dos grãos transgênicos em território nacional, a Milhão resolveu se firmar na mão contrária, mantendo a sua produção livre da transgenia e assim a certificando. A empresa se deparou com um mercado que só cresce e que teve impulso recente diante do acirramento das preocupações mundiais com sustentabilidade e saudabilidade tanto na lavoura quanto na mesa.
A Milhão produz ingredientes de milho não transgênicos. São mais de 45 variações de farinha de milho, fubá, canjica, grits e óleo de milho. Apesar de que a empresa entrega eventualmente grãos de milho a clientes que precisam, o seu grande negócio é o ingrediente. Os fregueses da Milhão são empresas que usam os itens nas formulações dos seus produtos e os comercializam ao consumidor final.
“A gente não vende commodities aqui, a gente vende ingredientes. Por mais que o milho seja tratado como uma commodity, a gente trabalha com a venda de ingredientes”, afirma Rodrigues. Diferente da maioria das empresas que atuam com milho, a Milhão produz voltada à nutrição humana. A divisão de nutrição animal existe, mas não é o foco principal, e eventualmente a Milhão fornece os produtos no padrão da nutrição humana para o mercado pet food, de rações muito nobres, que assim o solicita.
Dentro das variações que oferece em produtos, a empresa navega em uma série de possibilidades baseada nas certificações que possui. Os ingredientes de milho podem ser orgânicos, veganos, vegetarianos, sem glúten, halal, kosher, entre outros. “Se você precisar de milho não transgênico convencional, temos, se você precisar de milhão não transgênico orgânico, temos também”, diz Rodrigues.
O mundo quer milho
Existente no mercado há 22 anos, a Milhão processa 60 mil toneladas de milho por mês. A empresa começou a exportar em 2008 e hoje está presente em 67 países. A meta, porém, é crescer muito mais lá fora nos próximos cinco a dez anos. “O foco na exportação é muito grande dentro da companhia”, afirma o gerente. Segundo ele, os maiores mercados da empresa no exterior são Oriente Médio e Europa.
Rodrigues percebe que a demanda por milho não transgênico nos países árabes vem crescendo. “O Egito é um país foco por ser grande e por ter uma das maiores taxas de natalidade do mundo”, diz. Ele vê nos países árabes, além da preocupação com saudabilidade, também uma elevação do poder aquisitivo. “A gente vê um Catar, um Bahrein muito interessados em nossos produtos”, afirma o gerente.
A certificação halal impulsiona os negócios com a região, segundo Rodrigues. Neste ano a Milhão passou a integrar o Projeto Halal do Brasil, que é levado adiante pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) para aumentar o fornecimento de alimentos brasileiros com valor agregado aos mercados internacionais muçulmanos.
A Milhão foi fundada pelos irmãos Luciano e Leandro Carneiro. No começo deste ano, a multinacional brasileira Amaggi comprou participação da empresa. A Milhão tem quatro unidades produtivas, voltadas principalmente ao processamento do milho, em Goianira, Goiânia e Rio Verde, todas cidades do estado de Goiás. Em 2025, quando nova planta passa a operar, a empresa terá mil funcionários.
Parcerias para regenerar
A empresa tem cultivo próprio de milho, mas também possui parceria com cerca de 180 produtores rurais que fornecem o grão. Esses agricultores são signatários de um guideline, em um programa de agricultura regenerativa da Milhão que estabelece boas práticas agrícolas. Há requisitos básicos obrigatórios a seguir para que a produção seja não transgênica e há práticas adicionais que vão rendendo bonificações aos parceiros na medida que eles as adotam.
Dentro dessas diretrizes há desde a obrigatoriedade do uso apenas de pesticidas biológicos para o controle das pragas até a adoção da rotação de culturas e do plantio direto, a premissa de não cortar árvores naturais nem destruir florestas ou usar áreas ilegais, entre outras práticas. “O trabalho de agricultura regenerativa e sustentabilidade é muito maduro, muito sério na Milhão”, diz o gerente-executivo.
A empresa tem o compromisso de zerar emissões de carbono até 2030 e só abastece seus veículos com etanol. De acordo com o gerente, a Milhão possui 25 certificações, uma delas a Non-GMO Project, um dos selos mais rigorosos e criteriosos de não transgenia do mundo. Segundo Rodrigues, o milho produzido pela Milhão é praticamente zero em toxinas, o que o permite entrar em vários mercados.
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