São Paulo – A cena é um tanto quanto inédita. Mas todas as manhãs quem entra na sala da diretoria de Desenvolvimento de Negócios da Maaden, mineradora que está entre as maiores empresas da Arábia Saudita, e ocupa a cadeira principal é homem que fala português. Apesar de estar a alguns oceanos e a muitas milhas de distância da América do Sul, a companhia saudita contratou um brasileiro para atuar no lançamento de novos produtos, buscar negócios, discutir joint-ventures e fazer planejamentos na empresa. O nome dele é Pedro Bottesi Neto, de Campinas, interior paulista.
"Foi o meu currículo e a minha carreira como um todo", diz Bottesi, explicando, em entrevista por telefone à ANBA, os motivos da sua contratação. O executivo tem 50 anos, é formado em Geologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e já trabalhou em várias multinacionais. Mas o que pesou mesmo, acredita ele, no convite para se juntar aos sauditas – conhecidos mundo afora por seu poderio econômico – foi a combinação do seu conhecimento técnico com o administrativo e comercial, principalmente na área de mineração. O brasileiro é diretor para a área de minérios industriais.
Bottesi está na Arábia Saudita há quase dois anos. Se mudou da Londres, na Inglaterra, onde morou por um ano e sete meses, em função do novo trabalho. Apesar de no país árabe as mulheres andarem de corpo e cabeça cobertos, de não ser permitido beber álcool e nem comer carne de porco, quando está trabalhando o brasileiro nem sente que está em terras estranhas ou tão diferentes da sua culturalmente. "Na Maaden é muito parecido com qualquer outra empresa no Ocidente. Há muitos expatriados", explica.
A Maaden atua com exploração e vendas de alumínio, fosfato, ouro e minérios industriais e tem capital misto. O controle da companhia é do governo saudita, mas a empresa também tem ações negociadas no mercado. As operações estão todas concentradas na Arábia Saudita, mas a Maaden também exporta. Apesar de estar no mais árabe dos países árabes, dentro das paredes da mineradora, o idioma falado é o inglês. “Mesmo quando há vários sauditas em uma reunião, eles falam inglês para os demais entenderem”, explica Bottesi.
Bottesi é casado e tem dois filhos, mas está só na Arábia Saudita. A família ficou no Brasil, já que os dois filhos estão em idade universitária. Enquanto ele morou em Londres, a família também ficou no Brasil. A mulher, por enquanto, toma conta dos filhos, mas há possibilidade de que quando os dois estiverem mais independentes, conta Bottesi, ela vá morar com o marido. Enquanto isso, a vida do campineiro é trabalhar, ir a shopping centers, restaurantes, conviver com os demais estrangeiros que moram no país e viajar para casa quando dá.
Mas o brasileiro está satisfeito morando ao lado do deserto e diz que não tem planos de se mudar da Arábia Saudita no curto prazo. Fazer uma carreira internacional, na verdade, sempre esteve no planejamento de Bottesi. Além da graduação na Unesp, o executivo participou de um programa de trainee na London Business School. No currículo ele tem ainda a passagem na Samsung, em Londres, como gerente de Desenvolvimento de Negócios na área de mineração, pela Netzsch, Imerys, ECC International e International Paper, no Brasil. Botessi também chegou a ter a própria empresa, que vendeu após alguns anos, e atuou como consultor.

