São Paulo – A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina (foto acima), manifestou nesta segunda-feira (26) a vontade de ver investimentos árabes no agronegócio brasileiro. A ministra falou sobre o tema em evento na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na capital paulista, da qual participaram empresários, principalmente de empresas associadas da entidade, e autoridades convidadas.
Segundo a ministra, há espaço para ampliação dos negócios entre Brasil e países árabes por meio dos investimentos. “A Liga Árabe contempla alguns dos principais investidores mundiais, que vêm ampliando suas inversões em várias partes do mundo”, disse ela, lembrando que o Brasil não figura entre os maiores destinos de investimentos destes países, apesar de estar entre os dez principais receptores de recursos do mundo.
A ministra afirmou que há oportunidades maduras para investimentos em várias cadeias produtivas do agronegócio, como insumos, maquinário, produção, processamento, estocagem, distribuição, transporte, pesquisa, tecnologia e inovação. “A retomada do crescimento brasileiro depende de recursos internos e externos, a serem aplicados em diversos setores da economia, especialmente associados direta ou indiretamente ao agronegócio, como no caso da infraestrutura”, disse Tereza Cristina.
Segundo a ministra, o Brasil possui alta produtividade no campo, mas alguns aspectos, da porteira ao porto, diminuem a competitividade internacional do País. Dentro disso, um dos maiores gargalos enfrentados atualmente é a necessidade de modernização e expansão da infraestrutura nacional para escoamento da produção. “Desafio que demanda parcerias internacionais para ser superado”, afirmou.
Tereza Cristina também apresentou como setor para investimentos a produção de suco de frutas, lembrando que o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de matéria-prima para suco de fruta e o maior exportador de suco de laranja. “Em breves exemplos, ilustramos aqui que há muito espaço para parcerias estratégicas de longo prazo, com ganhos múltiplos. Nesse sentido, as relações fraternas entre a comunidade árabe e o Brasil são, sem dúvida alguma, um ótimo fiador dessas parcerias”, falou.
A ministra também falou sobre a parceria que árabes e brasileiros têm no comércio, principalmente de produtos do agronegócio. “Estamos familiarizados com as exigências dos mercados árabes, e os seus consumidores conhecem e aprovam os nossos produtos. Orgulhamo-nos de ser hoje um dos maiores exportadores de proteína halal de todo o mundo”, disse a ministra, sendo que o comércio das duas regiões é de US$ 20 bilhões ao ano, dos quais 70% são gerados no agronegócio.
Mas a ministra quer ver esse comércio aumentar, tanto com o incremento do volume de produtos já vendidos, como com o ingresso de novos itens na pauta de exportação. “O Brasil tem condições de ampliar o fornecimento de diversos produtos agrícolas já importados pela Liga Árabe, mas que ainda tem representação ínfima na pauta de exportação brasileira a esses países, como o caso do algodão, cacau e frutas secas ou frescas, como goiaba, manga e limão”, disse a ministra.
Tereza Cristina também contou aos presentes que fará uma viagem aos países árabes entre os dias 11 e 23 de setembro, passando por Egito, Arábia Saudita, Kuwait e Emirados Árabes Unidos. “Com o intuito de conhecer suas demandas, perspectivas e avançar nas relações comerciais e de investimentos com o Brasil”, explicou. Ela afirmou que assim como os países árabes, os brasileiros prezam relacionamentos duradouros, baseados no respeito, na transparência, na reciprocidade. “Essas coincidências de valores nos trouxeram até aqui e, certamente, nos levarão muito mais adiante”, afirmou ela.
A ministra falou brevemente no evento sobre a questão que atraiu a atenção internacional para o Brasil nos últimos dias, que são as queimadas na Amazônia. Tereza Cristina chamou de oportunistas as declarações do presidente da França, Emmanuel Macron, sobre os incêndios. “Prejudica sim a imagem do Brasil, que já não anda muito bem”, afirmou, complementando que, no entanto, o bom senso prevaleceu na discussão do G7 sobre o tema. “Tivemos lá o apoio de sete países dizendo que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”, afirmou a ministra.
Tereza acredita que a atitude de Macron tem a ver com a assinatura do acordo União Europeia-Mercosul. “Deixou, com certeza, alguns países preocupados, pela pujança do nosso agronegócio, pelo mercado que nós podemos tirar, principalmente a Irlanda, a gente sentiu nas negociações a preocupação com as carnes, e a França também, não é de hoje que os produtores rurais da França vêm se insurgindo contra os produtos brasileiros, querendo denegrir a imagem dos nossos produtos por um problema de comércio e não um problema realmente dos produtos”, disse.
O encontro na Câmara Árabe foi aberto pelo presidente da entidade, Rubens Hannun, que afirmou que a ministra tem sido muito importante no apoio e estímulo do comércio do Brasil com os países árabes. Hannun contou para Tereza Cristina e para os presentes que a Câmara Árabe tem reforçado seu foco no agronegócio nos últimos anos e está preparando, em parceria com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), um estudo profundo sobre a segurança alimentar nos países árabes e o papel do Brasil.
“Queremos ultrapassar os limites dos pontuais movimentos de compra e venda de produtos alimentícios e agrícolas com os países árabes, para estabelecermos uma verdadeira parceria estratégica”, disse Hannun. Segundo ele, a partir do estudo, que levará em conta as esferas do cultivo, logística e investimentos, será feita uma ampla discussão sobre o tema a respeito de um plano de ação a ser adotado.
Alguns encontros já previstos farão parte desse debate, como um fórum de segurança alimentar que vai ocorrer no final deste ano nos Emirados, e um fórum sobre logística no começo do ano que vem no Egito. “Tudo isso vai sendo discutido e permitindo que nossos associados brasileiros e árabes possam olhar o futuro, estabelecer metas, junto com os governos árabes e o governo brasileiro, e aproveitar as oportunidades do presente”, disse Rubens Hannun.
O evento teve a participação de lideranças da Câmara Árabe, entre eles o diretor-tesoureiro Nahid Chicani, o vice-presidente de Relações Internacionais e embaixador Osmar Chohfi, o vice-presidente de Comércio Exterior, Ruy Carlos Cury, o vice-presidente Administrativo, Mohamed Orra Mourad, os diretores Daniel Hannun, William Atui e Mohamad Abdouni Neto, e os ex-presidentes Orlando Sarhan e Marcelo Sallum.
Também participaram outras autoridades, como o empresário e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, a chefe do escritório do Itamaraty em São Paulo, Débora Vainer Barenboim-Salej, o cônsul comercial do Egito em São Paulo, Mohamed Elkhatib, entre outros.