São Paulo – Energia verde e segurança alimentar são dois dos principais setores em que a Arábia Saudita tem interesse em investir no Brasil. Os setores financeiro, automotivo, agrícola, de transporte e logística, infraestrutura, ecoturismo e entretenimento foram outros mencionados pelo ministro de Investimentos da Arábia Saudita, Khalid Al-Falih, durante o Fórum de Investimentos Brasil-Arábia Saudita, que ocorreu na manhã desta segunda-feira (31) na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na capital paulista.
“Com a evolução do Sul Global atrelado com os valores compartilhados entre Brasil e Arábia Saudita, interesses estratégicos alinhados, setores privados fortes, pelos quais temos tanto respeito, por que não poderíamos nos tornar um dos cinco principais investidores na economia um do outro? Acredito que podemos e devemos e que é possível. Esse é o objetivo de cada membro da delegação tanto setor público como privado, essa foi a orientação que recebemos da nossa liderança com essa missão histórica que estamos realizando”, declarou Al-Falih em seu discurso no evento. A delegação saudita conta com cerca de 100 pessoas.
Al-Falih afirmou que o Brasil e a Arábia Saudita têm muitas qualidades comuns, apesar da distância geográfica. “Somos dois membros orgulhosos do G20 e grandes produtores de energia. Estamos bem posicionados para sermos parceiros estratégicos, sendo os líderes econômicos das nossas respectivas regiões”, afirmou.
Falando sobre mudanças climáticas, ele lembrou que os objetivos de zerar as emissões de carbono também estão próximos. “O objetivo do Brasil a longo prazo é ter emissão zero até 2050 e de reduzir as emissões em 50% até 2030, e o Reino pretende zerar as emissões até 2060, o que será bastante desafiador para a Arábia Saudita, considerando que somos um grande produtor de hidrocarbonetos [petróleo e gás] e um país muito industrializado. Não temos as bênçãos da Amazônia para absorver nossas emissões de carbono mas estamos buscando isso”, disse.
O ministro mencionou um projeto saudita de hidrogênio verde que tem mais de US$ 10 bilhões em investimentos e que o seu país quer replicar no Brasil. “Também lançamos as iniciativas verdes da Arábia Saudita e Oriente Médio para aumentar a energia renovável e também a economia circular, além do projeto para plantar 50 bilhões de árvores, sendo 10 bilhões na Arábia Saudita”, contou.
O Reino também vem avançando no setor automotivo e pretende produzir meio milhão de carros elétricos por ano e o ministro disse que precisarão de investimento em baterias e outros materiais.
Os sauditas ainda vêm investindo para que o país se torne um hub para a segurança alimentar da região, e quer investir na produção agrícola brasileira e continuar sendo um grande fornecedor de fertilizantes.
“Para isso, precisamos de um setor forte de transporte e logística, considerando o amplo território do Brasil e a escala econômica. Essa necessidade se aplica para garantir que tudo ocorra de forma tranquila, principalmente na cadeia de suprimento global, para as commodities e os produtos importados. Uma melhoria na infraestrutura vai diminuir os custos de logística do Brasil”, declarou.
A Arábia Saudita pretende atrair 100 milhões de turistas até 2030, e para isso, vem investindo no ecoturismo e entretenimento e vê o Brasil como referência nesses setores. Ele mencionou ainda que o Hotel Fasano assinou um memorando para investir em um ou dois projetos na Arábia Saudita.
A Arábia Saudita quer investir também em biocombustíveis e bioquímicos brasileiros e vê esse mercado com grande potencial. O país pretende ser a sede da Expo 2030 e há otimismo de que isso aconteça.
“O que mencionei aqui são apenas alguns dos muitos setores que encontramos grande potencial. Mas nosso interesse e apoio se estende a todas as oportunidades para grandes, médias e pequenas empresas e também startups inovadoras”, disse. Ele mencionou interesse ainda nas indústrias farmacêutica, de biotecnologia, agrotecnologia e na aeroespacial e disse que irá visitar a Embraer. O setor financeiro brasileiro também foi mencionado.
O ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio e vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, também falou no evento. Ele lembrou que os árabes estão fortemente presentes na cultura brasileira e no estado de São Paulo e disse que seu nome pode ser de origem árabe.
Para o vice-presidente, há grandes oportunidades de parcerias e investimentos entre os países, como nas áreas de petroquímicos, energética, automotiva, do etanol, de biocombustível de aviação (SAF) e infraestrutura.
Ele falou que o Brasil possui uma importante reserva de lítio e fez sua primeira exportação do minério extraído do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, saindo por um porto do Espírito Santo. “Agora temos o desafio de dar o passo mais importante, que é a produção da célula e das baterias para os carros elétricos”, disse.
Alckmin afirmou que o Brasil vem se desenvolvendo com estabilidade e previsibilidade. “O Brasil está crescendo, o PIB cresceu, o desemprego caiu, o real se valorizou, a bolsa subiu. Mas isso deve nos estimular a fazer ainda mais reformas e buscar mais eficiência econômica”, disse. Ele destacou que a reforma tributária irá estimular a indústria brasileira com a redução do custo Brasil e desonerar investimentos no Brasil e nas exportações.
O ministro e vice-presidente mencionou ainda a redução do desmatamento no primeiro semestre deste ano. “Podemos registrar com orgulho que o desmatamento caiu mais de 50% nesse primeiro semestre. O Brasil tem compromisso com o combate às mudanças climáticas e com a floresta amazônica”, disse.
O fórum foi uma parceria da Fiesp, Sete Partners e Invest Saudi, agência de investimentos da Arábia Saudita, com apoio na realização pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira.