Isaura Daniel e Marina Sarruf
São Paulo – O ministro assistente de Comércio e Indústria da Arábia Saudita, Abdullah Alhamoudi, pediu ontem, durante o segundo dia de debates da 11ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad), que o organismo dê um maior enfoque ao comércio entre os países em desenvolvimento. "É necessário criar parcerias para o desenvolvimento do comércio sul-sul", completou.
A Arábia Saudita é uma das nações que devem participar da Cúpula América do Sul-Países Árabes, que ocorrerá no início do próximo ano, no Brasil, e pode resultar num acordo de livre comércio entre as duas regiões. As relações comerciais entre a Arábia Saudita e o Brasil, na verdade, já vêm crescendo nos últimos anos. No ano passado o fluxo de comércio entre os dois países aumentou US$ 348 milhões em relação a 2002 e alcançou US$ 1,5 bilhão.
Diante de um auditório com autoridades de mais de 20 países, o ministro também fez uma reflexão a respeito do papel da Unctad. Alhamoudi disse que o comércio mundial é um dos meios de os países menos ricos combaterem a pobreza e solicitou que a Unctad trabalhe para reforçar regras globais que levem em conta as necessidades das nações em desenvolvimento. "Os países em desenvolvimento precisam garantir seus dividendos através de negociações comerciais e a Unctad tem que ser uma parceira mais eficiente neste contexto", disse.
De acordo com Alhamoudi, um dos problemas que os países em desenvolvimento devem superar para se inserirem no comércio mundial é a oferta restrita de produtos. "A solução é a diversificação", afirmou. A tese do ministro assistente da Arábia Saudita foi defendida também pelo secretário-geral da Unctad, Rubens Ricupero, em discussões anteriores da Conferência.
De acordo com Ricupero, cerca de 38 países têm mais da metade das suas exportações dependentes de uma só commodity, o que dificulta o crescimento das suas relações comerciais com o resto do mundo.
O representante da Arábia Saudita falou ainda sobre a preocupante queda das cotações de produtos agrícolas. "Testemunhamos o fenômeno alarmante do declínio dos preços dos produtos básicos. É preciso soluções nacionais e internacionais", disse.
Esse é justamente um dos problemas que podem ser resolvidos a partir da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), na qual está sendo formatado um acordo pelo fim dos subsídios agrícolas por parte da União Européia (UE) e Estados Unidos. Os subsídios acabam favorecendo o achatamento dos preços mundiais das commodities.
Catar
O ministro de Economia e Comércio do Catar, Mohamed Bin Ahmed, no seu pronunciamento, ontem, durante os debates da Unctad, também falou sobre a Rodada Doha. Ahmed lembrou que foi prometida uma rodada real de desenvolvimento e que pela primeira vez o interesse dos países em desenvolvimento está no cerne das negociações. O ministro disse que o Catar está disposto a colocar em prática as decisões que forem tomadas na Unctad.
Ahmed convidou os colegas a refletirem sobre como podem buscar juntos o acesso aos mercados e o incentivo aos investimentos estrangeiros em suas nações. O Catar também é um dos países que vêm aumentando o seu fluxo de comércio com o Brasil. A corrente comercial entre as duas nações cresceu 37% no ano passado em relação a 2002.
Iraque
O discurso do ministro do comércio do Iraque, Mohammed Mustafa Al-Jibouri, destacou que a liberalização do comércio não é suficiente para estimular e acelerar uma distribuição de renda mais equilibrada. "Se a liberalização comercial é para ser aceita, então é preciso muita atenção para realizar programas de reforma social junto com reformas agrícolas e de educação", disse.

