Cairo – O ministro do Comércio e Indústria do Egito, Rachid Mohamed Rachid, disse que durante sua visita ao Brasil, em agosto, tomou conhecimento do interesse de grandes empresas brasileiras em investir no país árabe. Em entrevista exclusiva à ANBA, ele citou projetos em estudo pela Coteminas, Sadia, Friboi e Copersucar.
Segundo o ministro, que se reuniu com representantes das companhias, a Coteminas, do setor têxtil, está de olho em uma área próxima a Alexandria para instalação de uma fábrica. A Sadia, de acordo com ele, também cogita a abertura de unidades industriais no país. O grupo JBS-Friboi, por sua vez, pretende investir em armazéns refrigerados e canais de distribuição. Já a Copersucar tem intenção de comprar 20% de uma refinaria em Suez.
Rachid citou ainda a joint-venture formada recentemente pela Marcopolo, fabricante brasileira de carrocerias para ônibus, com a montadora egípcia Ghabbour Auto, que vai resultar na instalação de uma fábrica também em Suez. Ele já garantiu presença na inauguração.
O ministro disse também que seu país tem interesse na tecnologia brasileira na área de cana-de-açúcar e que discutiu com as autoridades do Brasil uma maior abertura do mercado egípcio para produtos como carne e frango e a facilitação da emissão de vistos para turistas. Seguem os principais trechos da entrevista:
ANBA – Qual sua avaliação da visita feita ao Brasil em agosto?
Rachid Mohamed Rachid – Posso dizer sem hesitação que esta visita foi um grande sucesso. Ela confirmou o que já sabíamos, que muito ainda pode ser feito para desenvolver as relações entre o Egito e o Brasil. Existem muitas razões que justificam o crescimento de nossas relações comerciais. Uma delas é a boa vontade e o bom entendimento que já prevalece entre os dois governos, as duas comunidades empresariais e os dois povos. Além disso, não é segredo para ninguém que a economia brasileira está atravessando um de seus melhores momentos e seu crescimento atrai as atenções em todas as partes do mundo.
Como membro do governo egípcio considero que a visita nos trouxe muito mais do que esperávamos. Todas as reuniões que tivemos com os ministros brasileiros foram extremamente positivas e nos confirmaram a boa vontade das duas partes. Creio ter estado com cinco ou seis ministros brasileiros: o das Relações Exteriores, do Comércio, dos Transportes, da Agricultura, da Energia e com o vice-governador do estado de Minas Gerais. Além disso, tive a oportunidade de estar em São Paulo com inúmeros intelectuais e antigos membros do governo brasileiro, que me ajudaram a compreender e ter uma perspectiva clara do potencial de aproximação. Senti que os empresários brasileiros estão mais dinâmicos, mais do que nunca eles estão olhando para o exterior, tentando realmente se destacar na seara internacional.
Acredito que devemos aproveitar a existência de um grande número de brasileiros de origem árabe que demonstram um grande dinamismo para ajudar nossa comunicação. Em minha opinião, esse fato cria uma oportunidade única de aproximação que deve ser aproveitada.
Como as relações comerciais, econômicas e de cooperação entre o Egito e o Brasil podem ser desenvolvidas?
Os números mostram que nosso comércio aumentou visivelmente nos últimos anos. E não vejo nenhum inconveniente em que aumente ainda muito mais. Vejo que existe uma grande complementaridade entre o que o Brasil pode nos oferecer e o que podemos oferecer ao Brasil.
Em termos específicos, quais são as possibilidades existentes?
Tivemos encontros e discussões muito proveitosas com a comunidade empresarial em São Paulo e em Minas Gerais. Estivemos com representantes de companhias de setores específicos, como o automobilístico e de autopeças, e notei que companhias brasileiras estão com grande interesse em explorar a possibilidade de investir no Egito.
Um dos objetivos principais de sua visita ao Brasil era atrair investimentos brasileiros para o Egito. Quais foram progressos feitos em termos de investimentos recíprocos e parcerias?
Como todos já sabem, há uma importante parceria entre a companhia Marcopolo, do Brasil, e a Ghabbour, do Egito, no valor de US$ 70 milhões. Uma fábrica está sendo construída na cidade de Suez e deverá ser inaugurada em meados de 2009. Eu já aceitei o convite para inaugurá-la.
Durante minha visita ao Brasil também foi discutido um projeto com a Coteminas, que é uma das maiores empresas no setor de algodão em todo o mundo e que já esta buscando um espaço perto de Alexandria para inaugurar sua fábrica e produzir aqui mesmo, no Egito. Estive também com os fornecedores do setor de carne e de frango para o Egito e a boa noticia é que a Sadia esta com intenção de investir no país, criando aqui algumas usinas de processamento de frangos. Quanto ao Friboi, que é um grande fornecedor de carne para o mercado egípcio, eles estão com um projeto de investir no setor de armazéns refrigerados e canais de distribuição no Egito.
Um outro projeto de investimento brasileiro no Egito é o da empresa Copersucar, que pretende comprar uma parte de 20% de uma refinaria egípcia na cidade de Suez de seus atuais proprietários sauditas. Estive também, em Minas Gerais onde inaugurei o primeiro investimento egípcio no Brasil no setor de cabos elétricos.
E na área de cooperação como o senhor avalia os resultados de sua visita?
Todas as áreas e possibilidades de cooperação foram abordadas durante minha visita. Discutimos sobre uma maior cooperação no setor de agricultura e, por essa razão, nosso ministro da Agricultura deverá ir ao Brasil para tratar deste assunto. Mas isto não é tudo. Minha visita serviu para abrir inúmeras portas para a cooperação entre nossos países, como nas áreas de energia e turismo. Por isso nossos ministros da Energia e do Turismo deverão viajar ao Brasil nos próximos seis meses.
E que tipo de projeto de cooperação está sendo considerado pelas duas partes?
Estamos pensando em cooperação técnica e de assistência técnica. Queremos desenvolver pesquisa na área da agricultura. Gostaríamos muito de aprender, por exemplo, com a experiência brasileira na área da cana-de-açúcar. Mas também discutimos sobre uma cooperação em termos de maior abertura para importação de produtos brasileiros como carne e frangos.
Em que pé se encontram as negociações para o acordo de comércio entre o Egito e o Mercosul?
Estamos nos movimentando num ritmo positivo. Já conseguimos a aprovação dos governos e vamos entrar num processo de negociações dos detalhes do acordo, que será feito por uma delegação do Mercosul que deverá nos visitar no Cairo durante a segunda semana de outubro.
Como se pode explorar melhor o potencial do turismo entre os dois países?
Estamos tentando encorajar um maior fluxo de turistas entre os dois países. Notamos com o fortalecimento do real que existe um número maior de turistas brasileiros viajando para fora do país, e muitos deles gostariam de vir ao Egito. Por isso devemos criar uma infra-estrutura para facilitar esse intercâmbio, que é uma área de cooperação que também promete muito.
O comércio entre o Brasil e o Egito tem aumentado nos últimos anos, mas a balança comercial continua muito favorável ao Brasil. O que deve ser feito para que esta situação possa ser melhorada?
Não me importo muito em tentar equilibrar a balança comercial. O que me importa mais é aumentar o comércio. Porque, se estou comprando mais do Brasil, isso significa que os produtos brasileiros me trazem alguma vantagem. Pouco importo se compro dos Estados Unidos ou do Canadá, o que nos interessa são as melhores condições para o comércio e a qualidade dos produtos. Mas, ao mesmo tempo, estamos encorajando cada vez mais nossos empresários a conhecer e explorar melhor as possibilidades oferecidas pelo mercado brasileiro.
Para mim o mais importante é abrir os canais que facilitem o comércio, o conhecimento mútuo e o movimento de bens e de pessoas entre os dois países. Para isso também deveremos receber, no inicio do ano que vem, a visita do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, brasileiro que será bastante importante para nós.