Alexandre Rocha, enviado especial
alexandre.rocha@anba.com.br
Dubai – A participação brasileira na feira da indústria de alimentos Gulfood, em Dubai, e a missão institucional realizada no emirado e na Arábia Saudita foram cheias de descobertas para os representantes do Ministério da Agricultura e para autoridades e empresários da região. Ao fazer um balanço das atividades que ocorreram entre os dias 24 e 28 de fevereiro, eles ficaram surpresos com a demanda existente por produtos agropecuários, assim como surpreenderam os interlocutores com os dados sobre o setor no Brasil.
“A gente imagina que todo mundo sabe da grandeza do Brasil, especialmente na área agrícola, mas de todas as pessoas que a gente visitou a maioria não sabia, só uma”, disse à ANBA o secretário de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Célio Porto. Ele e o Diretor do Departamento de Promoção Comercial do ministério, Eduardo Sampaio Marques, acompanhados de diretores da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, mantiveram encontros com vários representantes dos setores público e privado dos Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita ligados ao ramo de alimentos.
“A demanda surpreendeu muito, mesmo dentro de um contexto onde o mundo inteiro está demandando mais. É impressionante mesmo como eles querem diversificar os fornecedores”, acrescentou Marques. Durante os cinco dias de viagem eles estiveram na Gulfood, onde a Câmara e o ministério organizaram um estande com 12 empresas, e visitaram órgãos públicos das áreas agrícola e comercial, supermercados, câmaras de comércio e empresas de grande porte.
Além do estante do ministério e da Câmara, a Gulfood contou com outras empresas brasileiras que tinham estandes próprios ou participaram dos pavilhões da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef) e do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf). Levantamento feito pelo ministério com os expositores que estiveram em seu estande mostrou que foram fechados US$ 10 milhões em negócios durante o evento, com perspectivas de mais US$ 60 milhões nos próximos 12 meses. Leia abaixo os principais trechos da entrevista com Porto e Marques:
ANBA – Qual a avaliação dos senhores sobre a feira e as reuniões mantidas em Dubai e na Arábia Saudita?
Célio Porto – Missões como essa são novas no ministério, igualzinha a essa nós nunca fizemos, pelo menos não em tempos mais recentes. Fizemos outras viagens para o México, Alemanha, França e Oriente, mas com formatos diferentes. A impressão é que os empresários estão voltando entusiasmados com as possibilidades concretas de negócios. Pegamos uma região aberta. O que mais me chamou a atenção é que essa missão pode representar um marco nas nossas iniciativas de promoção comercial, pois mostrou que precisamos investir mais em mercados emergentes. Quais são os outros “hubs” de comércio? Na Ásia são Cingapura e Malásia, na América Latina é provavelmente o Panamá e no Oriente Médio é aqui. Falta a gente descobrir um na África e outro no Leste Europeu e focar nossas ações nesses “hubs”. É melhor isso do que ir de país em país, por não termos estrutura para tanto.
E do ponto de vista institucional?
Marques – O fato de vir o secretário é importante para fomentar as relações. A gente visitou países com quem não temos problemas comerciais, pois dizem que a gente só faz visitas quando há algum problema.
Porto – Isso, dizem que a gente só visita um país quando há algum problema, não quando as coisas estão indo bem. A visita de autoridades do governo ajuda a lubrificar os canais internacionais, sua demanda sai de baixo da pilha e vai para o topo. E aqui vale muito a relação pessoal. A gente imagina que todo mundo sabe da grandeza do Brasil, especialmente na área agrícola, mas de todas as pessoas que a gente visitou a maioria não sabia, só uma (o presidente da empresa Al Islami, grande importador de frango do Brasil). Geralmente eles desconhecem o que o Brasil produz, a qualidade, etc. Precisamos vender a imagem do país.
E o papel do setor privado?
Porto – Como governo nós temos dificuldade em personalizar as relações comerciais, temos que trazer via Câmara os empresários que operam na região. Os setores público e privado têm que andar juntos. Essa complementação entre o trabalho do governo e da Câmara é algo que ainda não tínhamos percebido. Ao chegar com os empresários nós mostramos os interesses privados e os representantes do poder público mostram os interesses difusos. Esse é um aspecto interessante que torna a missão mais sólida.
Como os senhores avaliam a demanda que eles apresentaram para vários produtos?
Marques – De certa forma surpreendeu muito a demanda, mesmo dentro de um contexto onde o mundo inteiro está demandando mais. É impressionante mesmo como eles querem diversificar os fornecedores.
Porto – O caso dos ovos, por exemplo, foi bem sintomático (durante as reuniões, empresários e autoridades dos Emirados e Sauditas falaram muito sobre a necessidade de ampliação da oferta de ovos no mercado). Eles eram muito dependentes de uma região (Ásia), aí ocorreu o problema da gripe aviária e eles foram prejudicados. O pessoal descobriu isso (a necessidade de diversificação) e aí há potencial. São surpreendentes os produtos e as quantidades que eles demandam. Nos lácteos, por exemplo, acho que vão haver muitos negócios, apesar de concorrermos com a União Européia, que concede subsídios ao setor. O óleo de soja também, nos supermercados nós vimos muito óleo de milho e um pouco de óleos de palma e girassol, mas não óleo de soja. No mesmo sentido, foi surpresa o interesse deles por condimentos e pelas flores.
E os convites de visitas ao Brasil que foram feitos às autoridades locais?
Marques – Vamos formalizar isso para todos, dirigindo-os às feiras e às visitas mais adequadas.
O que vocês acharam da Gulfood?
Marques – Nossa presença aumentou muito e ocorreram contatos com diversos mercados onde as empresas ainda não tinham negócios.
Porto – Chamou a atenção como outros países se apresentaram de forma organizada, inclusive países menores que o Brasil, que tinham estandes com boa identificação nacional e com as empresas juntas. Nós estávamos um pouco espalhados e nossa imagem acho que não foi tão forte quanto à de países com menos importância nesse setor como nós.

