São Paulo – Vivendo há quase 16 anos em solo árabe, o estilista Vincenzo Visciglia lança uma nova coleção de roupas inspirada na pintora mexicana Frida Kahlo. Conhecido entre as compradoras de moda de luxo dos Emirados Árabes Unidos, o brasileiro de 48 anos decidiu trazer novamente inspiração latina para as roupas que cria e comercializa. Na foto acima, um dos conjuntos da coleção.
“Essa é a segunda vez que eu faço uma coleção inspirada na pintora. Na primeira vez, que aconteceu em 2017, eu fiz uma coleção de roupas inspiradas nos quadros da Frida. Nessa segunda vez, pensei em peças que tivessem o estilo de roupa dela, para mostrar esse lado mais pessoal dessa mulher latina, mostrando o quanto ela é forte”, conta Vincenzo. “Na primeira vez, a maioria das mulheres ainda não conheciam a história da pintora, agora ela já se tornou mais popular entre as árabes.”
A nova coleção, lançada em outubro de 2023, traz dois tipos de peças: super luxuosas e streetwear, ou seja, peças mais urbanas. No estilo mais luxuoso a coleção apresenta vestidos e saias que lembram o tipo de roupa que a artista usava quando morava na Europa. Já as peças de moda mais urbana vão desde camisetas até saias menos luxuosas.
Além de serem vendidas em Dubai, Emirados Árabes Unidos, as peças da coleção também estão sendo comercializadas na capital do Catar, Doha, e em alguns países da Ásia. “Esse ano queremos entrar com a marca na Arábia Saudita, mas com um formato diferente. Também queremos começar a vender em outros países do Golfo, como Bahrein e Kuwait. Em algum momento também quero adaptar minhas peças para vender no Brasil”, conta o estilista.
História do estilista brasileiro
Nascido na cidade de Tatuí, interior de São Paulo, Vincenzo Visciglia se mudou ainda adolescente com os pais para os Estados Unidos. No novo país, ele terminou os estudos, fez faculdade de arquitetura e trabalhou como modelo.
Depois de atuar por anos como arquiteto, em 2010 teve a oportunidade de desenvolver o design de casas em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. O projeto que era para durar apenas um mês acabou se estendendo.
Anos depois de trabalhar como arquiteto, o brasileiro decidiu ousar e mudar um pouco de carreira, indo para moda. “Além da minha experiência como modelo, tive vivência com a moda durante os anos em que trabalhei como arquiteto. Pode não parecer, mas as duas áreas têm muitas semelhanças.”
Em 2011, através de uma parceria feita com o estilista libanês Ahmad Ammar, Vincenzo criou a marca AAVVA. “A primeira coleção tinha apenas 14 vestidos. Levei as peças em uma loja de multimarcas de um amigo. Nos primeiros 30 minutos do primeiro dia já tinha vendido oito vestidos. Eu nem tinha conseguido colocar preço nas peças e elas já eram compradas”, relembra o brasileiro.
A marca, que começou como um hobby, aos poucos começou a crescer, ganhar visibilidade e a ser comercializada em algumas lojas. Com o passar do tempo, os vestidos de luxo de festa e de casamento passaram a concorrer com marcas famosas como Carolina Herrera. A expansão da marca passou por uma pausa durante os dois anos da pandemia, onde não foi vendido nenhum vestido.
A hora da sustentabilidade
No pós-pandemia, o brasileiro decidiu mudar o rumo da sua marca com um foco voltado para a sustentabilidade. Quando reiniciou os trabalhos da grife, Vincenzo descosturou as peças da última coleção e utilizou os tecidos para construir uma proposta completamente nova.
“Durante a pandemia eu comecei a pensar em como era moda de luxo e como a vida poderia ser passageira. Por isso mudei muitas coisas no meu ateliê: reutilizei peças antigas, diminuí as horas de trabalho dos meus funcionários, começamos a trabalhar usando mais a luz natural do sol e menos a energia elétrica, e passei a desenvolver coleções menores”, conta Vincenzo.
As novas coleções passaram a ter menos tamanhos disponíveis, mas com a garantia de que os ajustes poderiam ser feitos em poucas horas. Quando há troca de coleção, as peças que sobram são vendidas em outlets para que todos os tecidos realmente sejam usados e assim a marca consiga diminuir a produção de lixo.
“O nosso grande diferencial, na comparação com as concorrentes, é que fazemos peças completamente personalizadas de luxo e trabalhamos com corpos reais. Por isso, desenhamos o que vai ficar bom no corpo real de uma mulher, não naquele corpo extremamente magro que ainda é vendido como normal. Apesar da maioria das compradoras serem árabes, também atendemos russas e chinesas”, diz o estilista.
Hoje a empresa conta com mais de 60 funcionários. O atêlie da AAVVA está localizado na Galeries Lafayette, no Dubai Mall, o maior shopping do mundo. No mesmo espaço, os consumidores podem comprar os vestidos da marca.
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA