Túnis – Terra de heróis, sábios e santos, a Tunísia é daqueles lugares em que para onde quer que você olhe há sempre um monumento, algum vestígio de uma antiga civilização ou de um fato histórico importante. De lá, Aníbal saiu com seu exército e seus elefantes, cruzou os Pirineus e os Alpes, e invadiu a Itália. Lá morreu Luís IX, da França, o São Luís, ao tentar tomar Túnis à frente de uma cruzada. E lá nasceu o historiador Ibn Khaldun, um dos pais da sociologia.
Nossa viagem por alguns dos sítios históricos da Tunísia começa por Kerkouane, ruínas de uma cidade cartaginesa na península de Cap Bon, na região nordeste do país. O local, de frente para as águas azuis do Mediterrâneo, reúne os vestígios de casas que provavelmente pertenceram a cartagineses ricos, pois contam com banheiros privativos, coisa difícil na época.
As ruínas são especialmente importantes por serem 100% cartaginesas. Os romanos não construíram nada em cima depois da destruição de Cartago, na terceira guerra púnica, em 146 a.C., como fizeram em outros sítios da região. O local permite um vislumbre da vida dos abastados no auge da civilização do Norte da África. Em uma das casas, por exemplo, um mosaico mostra o símbolo de Tanit, que junto com Baal formava a dupla de divindades locais. A figura foi provavelmente inspirada na cruz egípcia chamada Ankh que simboliza a vida.
“Delenda Cartago (Cartago deve ser destruída)”, dizia Marco Pórcio Catão no senado romano. E de fato, Cartago foi arrasada pelas tropas de Scipião, o Africano, mas os romanos reconstruíram a cidade, que viria a se tornar a terceira maior do império, atrás apenas de Alexandria, no Egito, e da própria Roma. O local da metrópole é hoje um subúrbio de classe alta de Túnis pontilhado por vestígios dos períodos púnico e romano.
A colina de Byrsa era o centro religioso e civil. Os romanos aterraram o que restara das construções cartaginesas e lá construíram o fórum, onde hoje está o Museu de Cartago, templos, a basílica judiciária, biblioteca e outros prédios públicos. Quando o sítio foi escavado por pesquisadores a partir do século 19, foram encontradas as fundações de um quarteirão púnico da época de Aníbal sob as ruínas romanas.
Pouco restou das construções em Byrsa, mas no museu há maquetes e desenhos que mostram como Cartago deve ter sido na antiguidade, além de artefatos encontrados nas escavações. O sítio oferece também uma fantástica vista panorâmica do Golfo de Túnis e da própria cidade.
No século 19, os franceses construíram no local a Catedral de São Luís, consagrada ao rei cruzado. O edifício de estilo mouro-bizantino não é mais utilizado como igreja e hoje serve como sala de concertos sob o nome de Acropolium, em referência ao nome do sítio: Acrópole de Byrsa.
Outras atrações da antiga cidade, algumas bastantes distantes entre si, são os Portos Púnicos, construídos pelos cartagineses, um para navios mercantes e outros para naus de guerra, cujos contornos ainda podem ser vistos, sendo que o último tem uma curiosa forma circular com uma ilha artificial no meio; a necrópole de Cartago, que ainda contém lápides do período púnico; o impressionante reservatório de água da cidade, que era abastecido por um aqueduto de 123 quilômetros de extensão e que tem vários trechos ainda de pé; as belas ruínas das Termas Antoninas, que começaram a ser construídas pelo imperador Adriano e foram concluídas por Antonio Pio, no século 2 d.C.; e o anfiteatro.
Por falar em anfiteatros, o sítio de Uthina, localizado ao sul de Túnis, tem um belo exemplo de arena romana. A edificação foi construída de modo a ficar encaixada numa colina e, por esta razão, está em bom estado de conservação. Em menor escala, ela lembra o Estádio do Pacaembu, em São Paulo. A paisagem rural da região, com montanhas ao redor, é belíssima, e Uthina conta ainda com vestígios de casas romanas, termas, que ainda têm belos mosaicos originais, e o capitólio, local de um templo dedicado aos deuses Júpiter, Juno e Minerva.
O templo, aliás, já foi um ponto de encontro entre o passado remoto e o recente. Na época da colonização francesa, as terras ao redor formavam uma fazenda, e a sede foi construída no alto das escadas que levavam ao interior do templo. Posteriormente, a casa foi demolida durante a restauração do sítio.
Mais a sudoeste, em meio às flores silvestres da primavera, surgem as ruínas de Thuturbo Majus, outro sítio romano, que tem como destaques o ginásio, as termas e as latrinas públicas. Na “palestra”, área dedicada a exercícios físicos, os frisos revelam o patrocinador do empreendimento: Petronius Felix. Ao lado, as latrinas públicas utilizavam água de reuso proveniente dos banhos.
Período árabe
Avançamos agora alguns séculos para o período da ocupação árabe. A Medina de Túnis, centro histórico da capital tunisiana, é um emaranhado de ruas, vielas e becos, onde se destacam as muxarabias, sacadas de madeira com treliças, e as portas em formato de fechadura. A cidadela medieval traz um exemplo do efeito de acontecimentos recentes sobre obras do passado: suas muralhas foram destruídas na 2ª Guerra.
Além de diversos marcos arquitetônicos e religiosos, a medina abriga 23 souqs, ou mercados, que vendem todos os tipos de produtos, como chechias (chapéu típico), tapetes, roupas, joias, especiarias e outros. É o local por excelência para comprar suvenires e presentes, mas, como em qualquer país árabe, nunca deixe de barganhar.
Próxima a Cartago encontramos a simpática Sidi Bou Saïd, uma vila do século 13 de arquitetura árabe-andaluz onde todas as casas são brancas e têm as portas e janelas azuis. É ponto de encontro de turistas e locais e oferece boas opções de lojas, restaurantes e cafés, além de uma vista de tirar o fôlego.
Outra atração de destaque em Túnis é o Museu do Bardo, objeto de uma reportagem em separado que pode ser acessada no link https://anba.com.br/noticia/21867515/turismo/museu-do-bardo-depois-do-terror/.
Algumas informações úteis para os visitantes: brasileiros não precisam de visto para ir à Tunísia, mas para sair do país é preciso comprar um selo pelo valor de 30 dinares (R$ 45,81 pelo câmbio atual). Ele pode ser adquirido em hotéis e também nos guichês de bancos existentes no aeroporto. É preciso fazer isso antes de passar pela imigração, e o selo é bem pequeno, portanto, cuidado para não perdê-lo.
Túnis é uma cidade grande e muitas das atrações ficam distantes entre si. Não faltam táxis, e uma corrida pode custar algo entre 15 dinares (R$ 22,91) e 30 dinares (R$ 45,81). Alguns taxistas usam taxímetro, mas outros não, então lembre-se de combinar o preço antes da corrida. É possível acertar com um motorista para passar o dia com você levando-o para visitar diferentes atrações. A reportagem da ANBA fez isso e pagou 100 dinares (R$ 152,71). O dólar norte-americano vale pouco menos de dois dinares e o euro, um pouco mais.
É recomendável também a contratação de um guia ou levar um livro guia, caso contrário monumentos importantes e fatos curidos da história do país podem passar despercebidos.
Serviço
Algumas agências de viagem que oferecem pacotes para a Tunísia
Lynden
Telefone: +55 (11) 3313 1150
Email: lynden@lynden.com.br
Site: www.lynden.com.br
HR Turismo
Telefone: +55 (11) 3539-8140
E-mail: contato@hrturismo.com.br
Site: www.hrturismo.com.br
Nascimento Turismo
Telefone : +55 (11) 3156-9944
E-mail: vendas.matriz@nascimento.com.br
Site: www.nascimento.com.br
Kaïs El Habib, guia turístico tunisiano, tel.: + 216 9827-2853, e-mail: kais.elhabib@topnet.tn
Site de informações turísticas do governo do país: www.beintunisia.com
*O jornalista viajou a convite do governo tunisiano


