São Paulo – O Brasil perdeu um dos seus grandes mestres da cultura árabe e defensor das causas do Oriente. O egípcio radicado no Brasil, Mohamed Ezz El Din Mostafa Habib, morreu nesta quarta-feira, 26 de janeiro, aos 80 anos, após construir uma trajetória de 40 anos no País marcada por ampla participação e notável protagonismo acadêmico e social.
Mohamed Habib foi presidente da Instituto da Cultura Árabe (ICArabe) desde 2017 até o ano passado e era atualmente professor colaborador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), de onde se aposentou há alguns anos. Também atuava como professor da pós-graduação na Universidade Santa Cecília (Unisanta) nas áreas de Ecologia e Desenvolvimento Sustentável.
Residente em Campinas, interior paulista, Habib chegou no Brasil já graduado em Engenharia Agronômica e com mestrado em Entomologia pela Universidade de Alexandria, no Egito. Ele seguiu os estudos na Unicamp, onde fez doutorado em Ciências Biológicas, foi professor, dirigiu o Instituto de Biologia, coordenou as Relações Internacionais e foi Pró-Reitor de Assuntos Comunitários.
Uma referência na área acadêmica, Habib não restringiu sua atuação apenas à biologia e ao meio ambiente, mas participou ativamente da difusão e formação de conhecimento no Brasil sobre imigração árabe, cultura árabe, as causas árabes e as questões do Islã. Do ICArabe, que é uma instituição difusora da cultura árabe, Habib também foi vice-presidente de 2008 a 2012.
Defensor da causa palestina, Mohamed Habib era conhecido por seus posicionamentos bem embasados, com ampla participação em debates envolvendo o mundo árabe. O acadêmico também escreveu e publicou centenas de trabalhos científicos no Brasil e no exterior, orientou teses de mestrado e doutorado e foi premiado várias vezes.
A partida nesta quarta-feira causou comoção entre a comunidade que cercava e conhecia Mohamed Habib. Amigos e admiradores se manifestaram nas redes sociais, entidades e instituições emitiram comunicados de pesar. A Câmara de Comércio Árabe Brasileira divulgou nota na qual destacou a trajetória de Habib.
“Além da brilhante carreira acadêmica, o Professor Habib se destacava pelo profundo conhecimento sobre a cultura árabe, tema apresentado com maestria durante suas palestras realizadas em nossa entidade. Neste momento de grande tristeza, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira oferece aos seus familiares e aos muitos amigos de Mohamed Habib suas sinceras condolências”, divulgou a Câmara Árabe.
O ICArabe também emitiu nota pela morte do seu ex-presidente. “A Diretoria do ICArabe, em nome de todos os seus associados, solidariza-se com a família do amigo Habib, um grande defensor da cultura árabe, da causa palestina e da convivência entre os povos. Habib deixa um legado de amor e dedicação ao conhecimento e, acima de tudo, de luta pela paz e pela justiça social”, disse o instituto.
A Unicamp publicou texto em homenagem ao seu professor. “O professor Mohamed nos deixa, mas ficam conosco não somente as lembranças dos momentos compartilhados, ficam também suas diversas realizações, que marcam a história da Unicamp”, disse o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles, segundo publicação no site da universidade. A instituição destacou o papel do acadêmico na administração universitária pautado pelo “diálogo, compromisso democrático, rigor acadêmico, espírito inclusivo e voltado para o estreitamento de laços”.
De acordo com informação divulgada pela Unicamp, Habib morreu em decorrência de um câncer. Habib deixa a esposa, Sawsan Mohamed Ahmed, os filhos Nader, Mona e Shadi, e a neta Dora. O enterro estava previsto para esta quinta-feira (27), às 15 horas, no Cemitério Parque das Acácias, em Campinas.