Túnis – O presidente da Tunísia, Béji Caïd Essebsi, morreu nesta quinta-feira (25), aos 92 anos, no Hospital Militar de Túnis, informou em comunicado a Presidência da República do país. Segundo a agência de notícias tunisiana TAP, Essebsi faleceu às 10h25, no horário local, poucas horas após ser internado em terapia intensiva. Ele já havia sido hospitalizado recentemente.
O presidente da Assembleia dos Representantes do Povo, o Parlamento tunisiano, Mohamed Ennaceur, assumiu interinamente a Presidência.
A porta-voz da Instituição Superior Independente para as Eleições (Isie), que organiza os pleitos no país, Hasna Ben Slimane, anunciou que as eleições presidenciais serão antecipadas para 15 de setembro de 2019. Inicialmente, o pleito estava previsto para ocorrer em novembro.
O primeiro-ministro, Youssef Chahed, decretou sete dias de luto oficial e decidiu suspender todas as atividades artísticas e culturais em todas as regiões do país.
Essebsi liderou a transição democrática no país após a Primavera Árabe, que na Tunísia ficou conhecida como Revolução de Jasmim, que em janeiro de 2011 resultou na queda do regime de Zine El Abdine Ben Ali, então há mais de 20 anos no poder.
De acordo com a TAP, o político nasceu em 29 de novembro de 1926, em Sidi Bousaïd, um povoado histórico ao norte da capital Túnis. Ele se formou advogado na Faculdade de Direito de Paris, na França, em 1950 e se inscreveu na ordem dos advogados de Túnis dois anos depois. Na época, a Tunísia ainda era uma colônia francesa.
Desde jovem, militou no partido Néo-Destour, de Habib Bourguiba, líder da independência tunisiana e primeiro presidente da República da Tunísia. Segundo a TAP, após a independência (1956), Essebsi foi chamado por Bourguiba para ser seu assessor e depois diretor da administração regional no Ministério do Interior.
Posteriormente, em 1963, ele foi nomeado diretor-geral da polícia nacional – poucos meses após um golpe de estado frustrado contra Bourguiba -, dois anos depois assumiu o cargo de ministro do Interior, e de 1969 a 1970 foi ministro da Defesa.
No final de 1971, Essebsi foi suspenso e posteriormente expulso do partido por ter se mobilizado a favor de reformas democráticas no governo de Bourguiba, de acordo com a TAP.
Em 1978, ele se filiou ao Movimento dos Democratas Socialistas, fundado e liderado por Ahmed Mestiri, advogado e político tunisiano. Na época, este partido fazia oposição ao regime e Essebsi dirigiu o jornal em francês da agremiação, o “Démocratie” (Democracia).
No final de 1980, Essebsi voltou a integrar o governo, primeiro como integrante do gabinete do então primeiro-ministro Mohamed Mzali e posteriormente como ministro das Relações Exteriores.
Essebsi serviu também como embaixador da Tunísia em Paris e em Bonn, então capital da Alemanha Ocidental.
Em 1989, ele foi eleito deputado e se tornou presidente da Câmara dos Deputados na legislatura 1990-91. Depois deste período, passou a se dedicar ao seu escritório de advocacia.
Após a Primavera Árabe, em janeiro de 2011, Essebsi assumiu a chefia do governo de transição até a realização de eleições parlamentares em 23 de outubro do mesmo ano.
No ano seguinte, fundou seu partido atual, o Nidaa Tounes (“Chamado da Tunísia”, em tradução livre), que conquistou 86 cadeiras no Parlamento nas eleições de outubro de 2014. Em dezembro do mesmo ano, Essebsi foi eleito presidente da República.
Ele deixa mulher e quatro filhos.
Repercussão
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou que “a França perde um amigo e a República Tunisiana um líder corajoso que presidiu seu país num momento crucial de sua história, no qual ele tem resistido a todos os obscurantismos para construir o futuro, a democracia e o progresso”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que Essebsi “foi um personagem central da história e da independência da Tunísia”. Em comunicado, a União Europeia lamentou a perda de “um líder corajoso e respeitado da vida democrática tunisiana”.
O secretário-geral da Liga dos Estados Árabes, Ahmed Abou Gheit, apresentou suas condolências ao povo e ao governo da Tunísia. A Jordânia, o Líbano e a Palestina decretaram luto oficial de três dias.
Brasil
Em Brasília, o Itamaraty divulgou nota lamentando a morte do presidente tunisiano. “Durante os mais de cinquenta anos que dedicou à atividade política, Béji Caïd Essebsi desempenhou importante papel no processo de independência e consolidação do estado tunisiano, e esteve à frente da transição política iniciada em 2011”, declarou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
De acordo com o comunicado, após sua eleição, “Essebsi contribuiu para a renovação e o adensamento sem precedentes das relações entre Brasil e Tunísia, cujos laços de amizade e cooperação têm-se pautado, cada vez mais, pelas aspirações comuns de nossos povos à democracia, à liberdade religiosa e à promoção do desenvolvimento econômico e social”.