São Paulo – O deserto e as tradições culturais são os dois elementos centrais nas criações de artistas da Arábia Saudita na exposição “Iluminações poéticas”, em cartaz no Paço Imperial, no Rio de Janeiro até o começo de 2025. A mostra faz sua estreia mundial no Brasil. Chegou ao País em 13 de novembro como parte da participação saudita no encontro de cúpula do G20, grupo das maiores economias globais, que foi presidido e sediado pelo Brasil.
Em entrevista por e-mail à ANBA, a curadora de “Iluminações poéticas”, Diana Wechsler, afirma que hoje se vive em uma era de “Googleização”, em referência ao nome do site de buscas, em que as pessoas recebem grande quantidade de informações de forma desordenada e sem hierarquia ou organização.
Tal fato e a percepção de que a arte tem a capacidade de lançar luz sobre a realidade levaram à busca e exibição de obras de artistas como Muhannad Shono, com a instalação de areia de fundição usada para criar moldes “The ground day breaks” (2024). Se, nesta instalação, a referência que se faz é ao deserto, em Arabi Gharbi (2022), de Nasser Al Salem, o protagonismo se materializa na arte árabe da caligrafia e no diálogo entre palavras formadas em um painel de luz neon.
Em outra forma de expressão artística, o filme “Niun” (2018), de Ahaad Alamoudi, reflete sobre o futuro do país, entre eles a construção da cidade futurista Neom. Esse filme avalia os esforços do país para atingir metas de desenvolvimento e como essa busca por uma nova realidade impacta a Arábia Saudita. Transformação e mudanças são temas de outras obras expostas, como no filme “The return of old ones” (2020), de Ayman Zedani, e na instalação com tecidos “Five Women” (2021), de Filwa Nazer.
“Dois vetores principais emergem do repertório da exposição. O primeiro é o deserto como definição de espaço, infinidade e vida; o outro é a singularidade da tradição cultural e o desenvolvimento de uma cultura visual por si, envolvendo diversos passados e presentes. As duas questões se unem a outras como memória, consciência ambiental, origens e identidade. Nesta rica teia de preocupações, a história da Arábia Saudita é tecida em termos artísticos, enriquecida pelas questões do presente”, diz a curadora.
“Acredito que toda exposição tem o dever de proporcionar novos horizontes aos espectadores. Também acredito que uma exposição é uma experiência de descoberta e um desafio à inércia do pensamento. Neste caso, acho crucial porque esta é a primeira coletânea expositiva de arte saudita a ser exposta no exterior”, afirma.
Exposição de arte faz estreia no Brasil
Wechsler afirma que a decisão de apresentar a “perspectiva contemporânea saudita por meio da arte” durante o G20 foi uma proposta do Ministério da Cultura local, e diz ainda que a Arábia Saudita foi o único participante daquele encontro a promover uma ação cultural junto da sua presença no G20.
“Acredito que esta exposição contribuirá para ‘iluminar poeticamente’ e expandir a imagem internacional da Arábia Saudita, ao mesmo tempo que oferece a possibilidade ao público de cruzar fronteiras culturais e encontrar não apenas as singularidades do mundo saudita e sua cultura, mas, também, as convergências com outros horizontes socioculturais”, diz Wechsler.
O Paço Imperial foi escolhido como espaço expositivo, explica a curadora, em razão da “nobreza do prédio”, da sua história e localização na cidade do Rio de Janeiro: o Centro. Fica em uma área de público diverso e recebe aproximadamente três mil visitantes por dia. Construído entre 1733 e 1743, o Paço Imperial teve diversos usos antes de se tornar um centro cultural. Foi residência de vice-reis ainda no século 18 e, chamado de Paço Real, sede administrativa do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarves, entre 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, até 1822. A partir de então, foi batizado como Paço Imperial.
A exposição “Iluminações poéticas” reúne 25 obras de 17 artistas, todos sauditas: Lina Gazzaz, Ahmed Mater, Shadia Alem, Ahmad Angawi, Moat Alofi, Emy Kat (Mohamed Al Khatib), Manal Aldowayan, Ayman Yossri Daydban, Ahaad Alamoudi, Daniah Alsaleh, Basmah Felembah, Sarah Brahim e Faisal Samra. Após passar pelo Rio, a turnê segue para Riad, a capital da Arábia Saudita, e, depois, se instala no Museu Nacional da China, em Pequim.
Serviço
Iluminações Poéticas
Terça-feira a domingo e feriados, das 12h às 18h
Paço Imperial – Praça Quinze de Novembro, 48, Centro, Rio de Janeiro – RJ
+55 (21) 2215-2093
Entrada gratuita
Em cartaz até 12/01/2025
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