São Paulo – Quatro andares e o saguão do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo estão tomados. Dedicados inteiramente a uma história milenar. A exposição “Egito Antigo: do cotidiano à eternidade”, é organizada de cima para baixo. Faz sentido. Quanto mais eu descia com o grupo de jornalistas guiados pelo curador da mostra, Pieter Tjabbes (foto acima), mais fundo íamos em um objetivo que alimentava os egípcios antigos. Em comum, faraós, sacerdotes e população pobre, todos eles pareciam dedicar seu tempo a encontrar o caminho para a vida que teriam após a morte.
Tudo pela eternidade. Mas nada disso sem aproveitar a experiência terrena. O 4º andar, iluminado pelos tons amarelos, é cheio do apreço pela vida cotidiana. Potes de maquiagem. Esculturas e pinturas. A vida do povo, em torno do Rio Nilo. Cultura e vaidade. Como disse o Pieter, “É confortante ver que nada mudou. Naquela época já havia amor, amizade, lutas pelo poder, religião, tudo que temos hoje”. Pequenas coisas que trazem o Egito Antigo bem mais próximo da nossa realidade.
Tão perto que no 3º andar, o da ‘Religião’, quase consigo ver o ‘conto do vigário’ na versão ‘conto do sacerdote’. A vida eterna exigia dedicação de tempo. E dinheiro. Fazer altares, oferendas, estátuas, e, claro, bancar múmias. Nem os bichinhos de estimação ficavam de fora. Por isso, gatos não tão fofos se espalham pela mostra. Talvez não mais fofos porque eram gatos mumificados. Ou nem gatos eram? “Foram encontrados tantos exemplares dedicados à deusa Bastet, que em um estudo, descobriram que muitas delas tinham apenas partes de corpos de gato. Às vezes, gato nenhum”, contou Pieter.
Mas os felinos são aperitivos perto do que vem no 2º andar da mostra. Múmias humanas. Deitadas em seus sarcófagos enfileirados. E um livro com uma missão: levar os mumificados até a esperada Eternidade. O Livro Dos Mortos hoje seria algo como ‘Guia prático para não se perder até a eternidade’. Só o exemplar da exposição tem três metros de papiro com as dicas mais atualizadas de orações para ‘acordar múmia’ e passar no tal do julgamento final.
E não bastava explicar o caminho uma vez só. Era no papiro e ‘me mumifica abraçado nesse livro, pelo amor dos deuses!’. Ah, e por precaução, desenha todas essas dicas nas paredes da tumba! Mas, e se me tirarem de lá para morar na minha tumba? Vamos escrever no sarcófago então, mais seguro. Só não vai esquecer de desenhar minhas comidas preferidas aí, hein? Vou comer o que pelo resto dos milênios? Como bem observou o Pieter, uma espécie de ‘Seguro de morte com 300 apólices”.
Perceba, não bastava ter dinheiro para bancar a mumificação, a tumba e toda pompa em volta. Havia o caminho a se percorrer, e ainda a prova final. Uma espécie de ‘teste para cardíaco’ onde o jogador era o coração do defunto. “No livro, eles escreviam orações a diversos deuses, pedindo ajuda. Também era comum um pedido especial ao próprio coração, para que ele não depusesse contra na hora do julgamento. Eles acreditavam que o coração seria colocado em uma balança e não poderia pesar mais do que uma pluma”, falou o Pieter.
E só na exposição ainda tem pirâmide, selfies com a esfinge, vídeos, obras originais vindas direto do Museu Egípcio de Turim, na Itália, e até uma réplica da tumba de Nefertari. Pedaços reais dessa história enorme. Uma trabalheira só, pela eternidade. Parece uma troca que vale à pena. Afinal, depois de se dedicar a vida toda para passar nesse Enem da vida após a morte, nada mais justo do que não ter hora para ir embora.
Serviço
Egito Antigo: do cotidiano à eternidade
De 19 de fevereiro a 11 de maio
Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico, Triângulo SP, São Paulo–SP
Aberto todos os dias, das 9h às 21h, exceto às terças
Informações: (11) 4298-1270
Entrada gratuita
CCBB Distrito Federal: 02/06/2020 a 30/08/2020
CCBB Belo Horizonte: 16/09/2020 a 23/11/2020