Débora Rubin
São Paulo – Com mais de quarenta anos de existência, 312 empresas espalhadas por nove cidades e sete mil empregos diretos, o pólo moveleiro de Ubá é um dos mais tradicionais do país. Durante muito tempo, no entanto, os empresários apostaram na produção mas sem dar muito valor ao design. Desde 2002, graças a uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) local, cerca de 200 empresas do pólo compartilham dos benefícios do núcleo de design, uma central que auxilia na busca de protótipos mais elaborados.
"Durante os anos 80 e 90, só se produzia móveis bem populares, sempre copiados de fora. Nesta década, mudamos isso, cada empresário busca sua própria identidade e passamos a atender a classe B", conta Eliane Rosignoli, técnica do Sebrae Minas para a região de Ubá.
O auxílio valioso veio não só da profissionalização de marceneiros e técnicos por meio de cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Indutrial (Senai) como também de um designer renomado. Com a consultoria do mineiro Dijon de Moraes, que tem doutorado em Milão, o Sebrae criou, em 2004, uma coleção de móveis estilizados. "Foi a partir dessa coleção que conseguimos deixar a má fama, a de que Ubá só fazia móveis de baixa qualidade, para trás", conta a técnica.
Um bom exemplo dessa "mudança de cara" é a empresa Parma Móveis – uma das mais antigas da região. Antes, os móveis eram desenhados na própria fábrica a partir de pesquisas feitas em feiras internacionais. "Mas não tínhamos identidade própria", relembra Silber da Silva Silveira, diretor de marketing da empresa. A Parma tem duas fábricas, 196 funcionários e produz 1,6 mil peças por mês. "Hoje, além de pesquisas de tendências, existe o investimento em design para dar identidade, inovar e tornar nossas peças exclusivas".
A aposta deu tão certo que a Parma recebeu um prêmio pela poltrona Dimitra no Salão de Design da Femur 2006, feira de móveis de Minas Gerais. Além disso, ganhou fôlego para exportar. Hoje, a empresa participa de um grupo de nove moveleiras que se juntaram em 2005 para fortalecer as vendas para outros países. A Parma já exporta para a América Latina. Segundo Eliane Rosignoli, há um outro grupo, mais antigo, criado em 2000, que já exporta inclusive para os países árabes e que tem um showroom permanente em Dubai.
Ecologicamente corretos
Em Ubá, 95% das empresas trabalham com madeira de reflorestamento como o MDF e aglomerados. Poucos utilizam madeira maciça. As empresas, no entanto, pagavam altas taxas de funcionamento para a Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). Entre 2004 e 2005, um acordo foi feito: a Feam baixaria o valor das taxas desde que as empresas se enquadrassem nas exigências ambientais feitas pela Fundação.
Um dos resultados dessa negociação foi a licença para usar novos tipos de madeira. Por outro lado, as empresas se uniram e construíram uma usina de tratamento líquido em Ubá. Ou seja, em uma única central é feito o tratamento de um aglomerado de empresas. E ainda para este ano está prevista a construção de uma usina de tratamento de resíduos industriais. A prefeitura de Ubá doou um terreno e as obras já começaram.
"A Universidade Federal de Viçosa fez um levantamento da quantidade de resíduos sólidos que o pólo gera. É algo em torno de 15 toneladas por mês. É muita coisa", diz Eliane, do Sebrae. "Com a usina, poderemos reciclar materiais produzindo briquetes, tintas e até usar os pedaços de MDF para artesanato."
Os empresários também buscam suas soluções caseiras. Na Parma Móveis, além da madeira de reflorestamento, os móveis são feitos com fibras naturais como ratan, bambu, pastilhas feitas da casca do coco e verniz à base de água. "São materiais que trazem beleza ao móvel e agregam valor artesanal e ambiental", resume Silveira.
Contatos:
Sebrae em Ubá:
+55 (32) 3531-5166
Parma Móveis:
+55 (32) 3531-2322

