São Paulo – Para explorar o vasto mercado de consumidores muçulmanos, é preciso levar em conta as suas características, como a maior fidelidade às marcas e o senso de coletividade. As peculiaridades do comportamento de compras dos muçulmanos foram apresentadas nesta quinta-feira (20) pelo presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Rubens Hannun, em aula ministrada no curso “O Mundo Islâmico: Oportunidades e desafios para a agropecuária no Brasil”, que ocorre de forma online.
O curso é promovido pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) e Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com apoio da Câmara Árabe e da Academia Halal do Brasil. As classes ou módulos ocorrem em quatro dias neste mês de agosto. Nas aulas desta semana, além de Hannnun, também foi palestrante o embaixador Orlando Leite Ribeiro, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
De acordo com dados apresentados por Hannun, as empresas e marcas tradicionais conquistam maior fidelidade dos muçulmanos. “O que é bom para nós porque eles são fiéis ao Brasil”, afirmou o presidente da Câmara Árabe, referindo-se ao fato de o Brasil ser um dos maiores fornecedores de produtos halal aos países muçulmanos. Segundo Hannun, o Brasil é o terceiro país melhor classificado no Indicador Global de Economia Islâmica (GIEI), do Centro de Desenvolvimento de Economia Islâmica de Dubai.
Segundo a apresentação de Hannun, os muçulmanos demoram mais a se aproximar de novas marcas e empresas, e optam por aquelas que consideram confiáveis e estruturadas, não estão muito disponíveis para testes, novidades ou tudo o que é desconhecido. Se uma marca não respeitar valores culturais locais, não terá aceitação. Também há muito senso de coletividade. “Se eu comprei o produto e ele é ruim, tenho a obrigação de contar para o outro, eu tenho a ver com o bem estar do outro”, exemplificou Hannun.
O Brasil já é um fornecedor reconhecido pelos consumidores muçulmanos. No ranking GIEI, que avalia os pontos fortes de um país para apoiar o desenvolvimento da economia islâmica, são levados em conta questões como disponibilidade, governança do halal, sensibilização quanto ao halal e indicadores sociais. “O Brasil está muito bem posicionado pelo volume de produção”, diz Hannun. No topo da lista estão os Emirados Árabes Unidos, seguidos pela Malásia.
A população islâmica tem um índice de crescimento bem acima do geral e uma população bastante jovem. Hannun apresentou no curso resultados de uma pesquisa, da agência ASDA’A Burson Marsteller, que mostra as preferências, atitudes e preocupações comuns dos jovens árabes. A pesquisa aponta o papel importante da religião na vida destes jovens e a crença deles que instituições religiosas precisam ser reformadas, a preocupação com as crises econômicas e o sentimento de que estão aptos a apoiar os governos, a insatisfação com a educação e a vontade de fazer curso superior fora do país de origem, entre outros comportamentos.
Mercados
Ribeiro, do Ministério da Agricultura, mostrou aos alunos do curso a importância do mercado islâmico para o agronegócio brasileiro. “Exportamos US$ 9,5 bilhões para esses países até julho, apesar dessa situação de pandemia que a gente vive”, afirmou ele. Segundo dados apresentados, os países integrantes da Organização para a Cooperação Islâmica (OCI) responderam por 18% das compras de produtos do agronegócio brasileiro no período. A Turquia foi o maior mercado, seguida por Indonésia, Bangladesh, Arábia Saudita, Egito, Argélia, Paquistão, Emirados, Irã e Malásia. Os principais produtos vendidos foram açúcar, soja e carne de frango.
Ribeiro relatou que o Brasil abriu 87 mercados para o agronegócio no atual governo e ressaltou a importância da atuação da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que entende que para conseguir novos mercados é preciso que o Brasil também abra os seus aos demais países. O secretário citou mercados abertos em países islâmicos e árabes nos últimos meses, como de carne bovina no Kuwait, material genético avícola no Marrocos, embriões, sêmen bovino pelo Catar e derivados de carne de frango pelo Egito.
Ribeiro também abordou outros temas, como o potencial de investimento de fundos árabes no agronegócio e no setor de infraestrutura, a preocupação dos mercados com sustentabilidade e o cenário pós coronavírus. O embaixador acredita que o mundo ficará muito mais protecionista depois da covid-19 e tem preocupação com barreiras a produtos brasileiros.
A aula foi aberta e conduzida pelo vice-presidente da Fambras, Ali Hussein El Zoghbi, e por Sueme Mori, coordenadora de inteligência comercial da CNA. O curso ainda terá uma aula na próxima terça-feira, 25 de agosto, sobre banca islâmica e fundos soberanos de países islâmicos, com palestras de Ângela Martins, gerente de país para América Latina no First Abu Dhabi Bank, e Yana Dumaresq Sobral Alves, secretária Especial Adjunta de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia.