São Paulo – O mundo árabe apareceu pela primeira vez na vida de Camila Klein quando ela era pequena. Durante a infância, era comum ter a casa repleta de amigas árabes da mãe, Rosângela Klein. Com o passar do tempo, a convivência com essas mulheres diminuiu, mas esse mundo cheio de ornamentos nunca saiu do imaginário da paulistana. Em 2020, quando ela já era dona da própria marca de bijuterias – que leva o seu nome – há duas décadas, se viu inspirada pelo Catar e pelas árabes.
“Eu sempre gostei muito da rainha do Catar, a sheikha Mozah bint Nasser al-Missned. Ela é uma mulher de uma beleza inigualável, é chique e tem uma sofisticação sem igual. Em 2020 surgiu o convite para eu ir ao Catar a passeio. Me aproximei ainda mais dessa cultura e decidi fazer uma coleção inspirada em rainhas e princesas árabes. Através dessa coleção queria mostrar a nossa capacidade de transformar os nossos desertos em algo concreto, estruturado e surpreendente”, diz Camila.
O gosto por joias também veio durante a infância, já o apreço pelas bijuterias apareceu anos depois. A artista plástica lembra que a mãe sempre gostou de ornamentos e tinha joias muito diferentes. Quando criança, Camila tirava as peças dos rolinhos de veludo para admirar e na adolescência passou a desenhar joias. Ao criar sua empresa em 2000, começou a fazer joias a partir das peças da matriarca.
“Entre 2000 e 2001, trabalhei com peças maiores, mais pesadas. Mas como a minha mãe não deixou mais eu derreter as joias dela e também era perigoso mexer com ouro, comecei a fazer bijuterias: colares, brincos, anéis, pulseiras e até cintos.”
No início, os negócios da marca eram feitos em feiras nacionais e internacionais. Foi em uma dessas feiras que Camila vendeu pela primeira vez para os Emirados Árabes Unidos. Outros destinos, como Nova Iorque, entraram na lista dos compradores internacionais da brasileira. Mas com o nascimento dos filhos, as feiras acabaram sendo deixadas de lado.
Com foco nas lojas nacionais, Camila chegou a ter 13 estabelecimentos, espalhados pelo Rio de Janeiro, Curitiba, São Paulo, Campinas e Recife. Os cintos feitos com pedrarias, brincos e colares grandes eram as peças preferidas das árabes que moravam no Brasil.
“A marca Camila Klein não vem para empoderar as mulheres, porque elas já são empoderadas, mas vem para resgatar a essência do feminino. Sempre gostei de fazer coisas que causassem impacto e enaltecessem a beleza do feminino. Acho que a árabe é a mulher que mais sabe fazer isso.”
Depois da pandemia, as lojas e as duas fábricas que produziam as peças fecharam. Nos últimos anos, a artista plástica tem aflorado seu lado criativo para criar o melhor da alta joalheria impressa em bijuteria. Para trazer a essência da marca novamente, o site está sendo reformulado e em dois meses a empresária vai abrir uma nova loja conceito no bairro dos Jardins, em São Paulo.
Coleção inspirada em mulheres árabes
Camila sempre gostou dos ornamentos e tapeçarias árabes, por isso tinha a vontade de fazer uma coleção inspirada no Oriente Médio. Durante sua viagem para o Catar criou a coleção Oásis, cujas peças seguem em comercialização pela empresa. “Na coleção de quase 100 peças, existem quatro famílias/conjuntos que foram inspiradas em quatro mulheres do Oriente Médio.”
O conjunto Oásis – Rania foi inspirado na rainha da Jordânia. A família é elegante, moderna e robusta. As criações foram estruturadas com o brilho do metal e o contraste dos triângulos com gotas em movimentos orgânicos espelha uma estética de independência. Os tons de verde, azul e marrom são trabalhados em metais nos banhos ouro velho e prata velho, junto aos cristais, resinas e correntes que complementam o visual de forma marcante.
A princesa e filantropa da Arábia Saudita Ameera al-Taweel serviu de inspiração para o conjunto Oásis – Ameerah. “As bijuterias dessa família foram feitas com metais e cristais em formatos retangulares e quadrados, esmaltação, resinas e pedras naturais como ágata roxa, ágata marrom e ágata indiana em tons de verde e rosa, quartzo rosa e quartzo rutilado. As pedras se unem a elos autênticos, como símbolo de união e realeza”, diz Camila.
Já a família Oásis – Deena foi inspirada na egípcia Dina Abdul-Hamid, que fez parte da família real da Jordânia. “Com seu estilo único, repleto de roupas excêntricas e beleza acentuada, a princesa tornou-se um membro da realeza referência em moda em seu país e no mundo todo. Suas produções repletas de brilho, cor e autenticidade inspiram criações que expressam poder e atitude através de cores como laranja, rosa, verde e turquesa, resultando em um verdadeiro Oásis vibrante”, diz a paulistana.
A rainha do Catar foi a fonte de inspiração para a quarta e última família, a Oásis – Mozah. Camila explica que o luxo e a opulência que revolucionam a arquitetura do Catar inspiram o design de peças maximalistas e exuberantes. “Da brisa do mar ao brilho noturno das cidades, surge um mix único de cristais, metais, pérolas e pedras naturais Aquarita, Jaspe Rosa, Fluorita e Vulcânica Metalizada. Em contraponto, a delicadeza das criações é representada pela curadoria emocional presente nas pedras, fazendo resplandecer o espírito livre, a empatia, a ternura e o amor: o verdadeiro símbolo da riqueza”, completa a artista plástica.
Em um futuro breve Camila deseja criar outras coleções inspiradas em países e mulheres árabes.
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA