São Paulo – As mulheres têm ocupado um espaço cada vez maior na pesquisa no Brasil, gerando a partir dos seus trabalhos científicos novas informações e soluções para áreas que vão da medicina até a agricultura e a indústria nacionais. Elas representam quase 55% dos mais de 395 mil matriculados em cursos stricto sensu, que são mestrados e doutorados, onde grandes descobertas acontecem no País.
Dos beneficiários da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação do Brasil que atua na expansão e consolidação da pós-graduação stricto sensu com bolsas, 58% são mulheres. Além disso, nas áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, as chamadas STEM (na sigla em inglês), elas representam 26%.
A Capes também é responsável por estimular a criação de pesquisas e divulgar informações científicas. Desde abril de 2021, o programa é presidido por uma mulher, Cláudia Queda de Toledo.
Nina Ranieri trabalha como pesquisadora há 30 anos, é professora de Direito e coordenadora da Cátedra Unesco de Direito à Educação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (FDUSP), e durante quatro anos foi presidente da Comissão de Pesquisa da Direito da USP. A Unesco é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Nina, que atualmente trabalha com turmas de mestrado com mais da metade formada por mulheres, fala sobre a importância de haver pesquisadoras no País: “Quando não há diversidade, múltiplos olhares e interesses, a pesquisa fica restrita a poucos temas, e sem ampliação não tem crescimento. Com a diversidade, a pauta de pesquisa vai se renovando e beneficiando a sociedade.”
Assim como Nina, Mariângela Hungria (foto de abertura) trabalha como pesquisadora há três décadas, é engenheira agrônoma e professora universitária de faculdades do Paraná. Além disso, também desenvolve pesquisas na unidade Soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e está entre as 100 mulheres mais poderosas do agronegócio, de acordo com Forbes Brasil de 2021.
Ela percebe que muitas mudanças aconteceram nos últimos anos. “No meu tempo, tinha poucas mulheres estudando agropecuária e eu sofria bastante preconceito, mas atualmente esse cenário está mudando. Hoje fico super feliz porque mais de 60% das orientações que dei na minha carreira foram para mulheres”, afirma. Para ela, a pesquisa tem sido mais buscada por mulheres ao longo dos anos porque elas demonstram ter mais paciência para repetir e testar as teorias do que os homens.
Ana Paula Fernandes é bióloga, professora de Farmácia, pesquisadora do Centro de Tecnologia em Vacinas e Diagnósticos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora da área de diagnóstico de covid-19 da Rede Vírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
A especialista em biologia molecular de análises e vacinas liderou a criação de um diagnóstico sorológico 100% brasileiro para a detecção do coronavírus. “É um prazer muito grande ver que 27 anos de experiência são úteis para servir a sociedade. Acredito que minha atuação possa servir de exemplo para as meninas que sonham em fazer pesquisa. Quando a mulher evolui na carreira e tem o entendimento que pode se tornar uma liderança, abre as perspectivas de oportunidades”, diz.
As pesquisadoras concordam que incentivar mulheres a serem pesquisadoras traz benefícios para os estudos científicos e a indústria do País, e ainda ajuda a construir uma sociedade mais equilibrada. “A mulher traz uma contribuição diferenciada para a pesquisa porque tem um olhar diferente para temas importantes e na forma de condução dos estudos”, diz Ana Paula.
Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA