São Paulo – Autora finalista do Prêmio Jabuti e vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura, Cristina Judar lançou neste ano seu novo romance. Em ‘Elas Marchavam Sob O Sol’, a autora traz a perspectiva de diversos narradores, especialmente de duas jovens, que fazem um paralelo entre moderno e ancestral e, aos poucos, têm suas trajetórias se aproximando.
Paralelos que poderiam facilmente ter sido inspirados em histórias como a do Líbano, país que vive entre o milenar e o cosmopolita, de onde vieram os avós paternos da autora. Mas ao invés disso, a inspiração aflorou pela própria busca da autora por contar histórias mais plurais.
Elas Marchavam Sob o Sol
Embora não tenha retratado sua própria vivência no livro, a autora acredita na importância de manter e resgatar a cultura ancestral. “É um livro ficcional, então não traz uma história específica minha, mas claro que tudo isso alimenta e faz parte. Acho importante que cada pessoa trabalhe sua própria ancestralidade. Tento respeitar isso, mesmo que eu já não tenha um conhecimento profundo sobre essas mulheres que me antecederam. Muitas histórias eu perdi porque não tive contato com as pessoas, mas acho que só o fato de honrar essas existências já é algo importante”, disse ela.
A obra, publicada pela editora Dublinense, explora os olhares de seus narradores para trazer diversidade e dinamismo. A criação múltipla era a intenção de Judar. “É um desafio e é interessante para exercitar a capacidade de criar várias vozes que caminham juntas para construção de um todo. Para o que eu queria propor, eu precisava de muitas vozes. Elas enriqueceram as narrativas, é como se fosse um costurar, um tecer. São vários fios que se unem para constituir esse retrato amplo”, contou.
Com as duas personagens principais, Ana e Joan, experienciando o passar dos meses até completarem 18 anos, a autora traz questões de opressão, especialmente relacionadas ao gênero, à luz do dia. “É uma marcha em prol da liberdade, pela reinvindicação de diretos, essa passagem [do texto] significam muito para o livro inteiro. É a visão de uma marcha exposta para todos os olhos, à luz do dia. É algo que precisa estar explícito. E é uma caminhada conjunta, mesmo que cada uma em um ritmo diferente. Então elas marchavam, e marcharão”, destaca Judar.
Ancestralidade árabe
Na vida da autora os vínculos com a cultura árabe vieram principalmente na infância. “Meu pai era filho de libaneses, alguns irmãos dele até nasceram lá, mas ele era mais novo e já nasceu no Brasil. “Eu conheci minha avó paterna, e pela diferença geracional, acabei tendo pouco contato. Mas a parte cultural e gastronômica é algo que sempre esteve presente na minha vida”, contou a escritora.
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As lembranças da família são principalmente de um ambiente descontraído. “Era uma família animada. Sempre foram um povo muito festeiro, o que é uma herança muito legal. Uma gente apaixonada pela vida”, descreveu ela. Além de Cristina, a irmã Tania Judar também seguiu o caminho da literatura, mas em gêneros infantis. “Nós duas escrevemos, mas cada uma no seu universo”, lembra a autora, que deixou a carreira de jornalista para ser escritora e desde 2009 vem publicando obras que vão de contos a histórias em quadrinhos e romances.
Agora, Judar trabalha no pós-lançamento e divulgação da nova obra. E, enquanto ainda não teve nenhum de seus livros publicados em países árabes, revela que a tradução de alguns textos já a pegou de surpresa. “Eu tive textos, contos, que foram traduzidos ao árabe. Eu soube por acaso. Levei até um susto. Um dia apareceu a minha foto em uma página em árabe e eu não sabia o que era. Comecei a pesquisar e cheguei em outra autora brasileira, a Leila Teixeira, e ela me contou que uma tradutora encontrou nossos textos em inglês e aí traduziu ao árabe”, disse ela.
As obras completas, no entanto, ainda não chegaram aos países árabes. “Ainda não tenho contato com editoras de lá. Adoraria saber através de quais caminhos posso ter essa experiência [de ter um livro traduzido ao árabe]. Seria muito interessante até uma ida a alguma feira literária em países árabes”, declarou a autora.