São Paulo – A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) alertou que as quebras das safras de milho, nos Estados Unidos, e de trigo, na Rússia, elevam os preços destas commodities e ameaçam a segurança alimentar. O risco existe e especialistas do setor avaliam que o mundo precisará de pelo menos duas colheitas recordes nos próximos anos para recuperar os estoques e reduzir as cotações. Por outro lado, o mau desempenho agrícola mundo afora aumenta o lucro dos produtores brasileiros. Aqui, a produção de milho será recorde e parte do trigo já foi vendida antes mesmo da colheita.
De acordo com o pesquisador de grãos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP, Lucilio Alves, os estoques mundiais de milho em relação ao consumo são os menores desde a safra 1973/1974. Alves observa que 41% do milho é utilizado como alimento ou insumo na indústria alimentícia. A commodity é também uma das principais matérias-primas para produção de ração animal.
“Hoje, os preços de algumas commodities estão maiores do que aqueles registrados em 2008, quando já se falava em crise alimentar. Serão necessárias duas supersafras de milho para equilibrar oferta e demanda”, afirma.
Analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), o engenheiro agrônomo Robson Mafioletti também acredita que serão necessárias safras recordes de milho para que os preços parem de subir e de provocar insegurança alimentar.
“O milho hoje está cotado, em média, a US$ 8,50 por bushel e a soja, a US$ 17,50, valores que estão entre as maiores altas da história. Há previsões de que a cotação do milho chegue a US$ 10 e a da soja a US$ 20. Precisa ter de duas a três safras muito boas no mundo. A demanda não cede tanto quanto a quebra da safra”, observa. Um bushel pesa aproximadamente 27,2 quilos.
Segundo Mafioletti, a quebra da safra de milho nos Estados Unidos chega a 100 milhões de toneladas. A Rússia, que produziu 56,2 milhões de toneladas de trigo em 2011, deverá produzir 43 milhões neste ano. O país deverá exportar oito milhões de toneladas de trigo em 2012. No ano passado, foram 21 milhões de toneladas. A Ucrânia também sofreu quebra de safra: de 22 milhões de toneladas de trigo produzidas em 2011 para 15 milhões este ano.
Os preços do trigo sobem. Na Chicago Mercantile Exchange, a Bolsa de Chicago, os contratos futuros fecharam na última quarta-feira (22) cotados a US$ 8,96 por bushel. Um ano antes, o bushel de trigo estava cotado a US$ 7,35. No período, a alta foi de aproximadamente 22%.
De acordo com o engenheiro agrônomo e consultor em Cascavel, no Paraná, Modesto Daga, o Brasil deverá produzir aproximadamente 5,5 milhões de toneladas de trigo neste ano e consumir 11 milhões de toneladas. A demanda corresponde ao dobro da produção e o País, segundo maior importador mundial da commodity, atrás apenas do Egito, vai continuar a comprar. Mesmo assim, o Brasil vai exportar, pois os preços em alta e a oferta externa em queda animam os agricultores. “O Rio Grande do Sul ainda não começou a colher trigo e já vendeu um terço da safra prevista”, diz Daga.
Mafioletti diz que o Brasil poderá atender mercados do Norte da África que comprariam dos países do Leste Europeu se não houvesse quebra de safra. “Antigamente o trigo era a base da nossa agricultura, mas deixamos de ser grandes produtores. Agora o agricultor está exportando para não ficar na mão da indústria (dos moinhos). Podemos voltar a vender para Egito, Argélia, Nigéria e Líbia, para quem já exportamos em 2010”, afirma. Do total que será produzido neste ano, o Brasil deverá exportar 1,9 milhão de toneladas. Em 2011, exportou 2,3 milhões e, em 2010, 1,3 milhão de toneladas. “A perspectiva de preço é interessante e não deverá abaixar já”, prevê Mafioletti.

