São Paulo – Em discurso na abertura da 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, nos Estados Unidos, nesta terça-feira (19), o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, chamou os líderes dos países a uma luta contra a desigualdade e a combater as mudanças climáticas.
Lula disse que a sua primeira fala na assembleia de 2003 teve como foco a desigualdade e que hoje, 20 anos depois, o mundo está mais desigual. “A fome, tema central da minha fala neste Parlamento Mundial 20 anos atrás, atinge hoje 735 milhões de seres humanos, que vão dormir esta noite sem saber se terão o que comer amanhã”, falou.
O presidente do Brasil disse que falta vontade política dos que governam o mundo para vencer a desigualdade. Segundo ele, reduzir desigualdade nos países requer incluir os pobres nos orçamentos nacionais e fazer os ricos pagarem impostos proporcionais ao seu patrimônio.
Lula afirmou que o mundo está mergulhado em crises, como a covid-19, a climática, a insegurança alimentar e energética gerada pelas tensões geopolíticas, e que elas, além do racismo, a intolerância e a xenofobia, são agravadas ou têm em sua raiz a desigualdade.
O líder brasileiro criticou a evolução da Agenda 2030, ação da ONU com metas dos países para o desenvolvimento, que incluem a erradicação da pobreza. “O imperativo moral e político de erradicar a pobreza e acabar com a fome parece estar anestesiado”, falou. Ele disse que, ao assumir a presidência do G20, em dezembro, colocará no centro da agenda internacional o combate às desigualdades.
Mudanças climáticas
Lula também puxou o tema da desigualdade ao abordar a mudança do clima. Ele disse que são as populações vulneráveis do Sul Global as mais afetadas pelos danos causados pela mudança do clima. “Os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase a metade de todo o carbono lançado na atmosfera. Nós, países em desenvolvimento, não queremos repetir esse modelo”, falou Lula.
O líder falou sobre o posicionamento do Brasil na transição para uma economia verde. “Estamos na vanguarda da transição energética, e nossa matriz já é uma das mais limpas do mundo. 87% da nossa energia elétrica provem de fontes limpas e renováveis”. Segundo ele, em oito meses, o desmatamento na Amazônia brasileira caiu 48%.
O presidente falou que a promessa de destinar US$ 100 bilhões anualmente para os países em desenvolvimento para enfrentar a questão do clima permanece sendo apenas uma promessa. “Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”, disse.
Brics
Lula também disse que o Brics se constitui em uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes. “A ampliação recente do grupo na Cúpula de Joanesburgo fortalece a luta por uma ordem que acomode a pluralidade econômica, geográfica e política do século 21”, falou.
Guerras
O presidente do Brasil defendeu ainda a paz e disse que não haverá sustentabilidade sem ela. Lula falou que é perturbador que persistam antigas disputas não resolvidas e que surjam ou ganhem vigor novas ameaças. Ele falou da dificuldade da criação de um Estado para o povo palestino e citou os problemas enfrentados por Haiti, Iêmen, Líbia, Burkina Faso, Gabão, Guiné-Conacri, Mali, Níger, Sudão e Guatemala, além da guerra na Ucrânia.
Marrocos e Líbia
Entre outros temas, o presidente expressou condolências às vítimas do terremoto no Marrocos e das tempestades na Líbia. “A exemplo do que ocorreu recentemente no estado do Rio Grande do Sul, no meu país, essas tragédias ceifam vidas e causam perdas irreparáveis. Nossos pensamentos e orações estão com todas as vítimas e seus familiares”, disse.