São Paulo – Sete mulheres são as responsáveis na Palestina pela aproximação entre os brasileiros que vivem no país e a representação diplomática do Brasil em Ramallah. Elas são as atuais integrantes do Conselho de Cidadãos brasileiro, uma iniciativa do Ministério das Relações Exteriores para ajudar na interlocução entre o governo e a sociedade civil brasileira que mora no exterior e no planejamento de ações voltadas para esses grupos.
A formação dos conselhos ocorre a cada dois anos. Na última renovação do grupo na Palestina, no ano passado, ele acabou sendo todo composto por mulheres. Fátima Hamayel (foto acima) é a presidente, Najat Hamad é a vice-presidente, Huda Hamida é porta-voz, Miriam Assaf é a secretária, e são membros ainda Jamila Abed, Líbia Shalabi e Yasmin Shalabi. Para participar, é preciso ser brasileiro, falar português e viver na Palestina.
Fátima conta que a formação feminina aconteceu naturalmente. Os homens já compuseram o conselho em outros períodos e a presidente acredita que eles não estão na atual equipe por causa de disponibilidade de tempo. O trabalho no conselho é voluntário. Apesar da renovação a cada dois anos, Fátima afirma que novos participantes podem se integrar durante o período e que o grupo está aberto aos homens.
Enquanto isso, porém, as participantes desfrutam do lado positivo de integrar um grupo formado apenas por mulheres. Fátima conta que todas ficam muito à vontade no conselho, que são amigas e companheiras, se encontram em cafeterias e restaurantes e sentem que têm um vínculo familiar. “É muito bonita a nossa relação e isso ajuda muito nosso trabalho, que também é em equipe”, afirma.
O momento da escolha do conselho é divulgado nas redes sociais da iniciativa para que interessados se apresentem para participar e a formação ocorre com o apoio da diplomacia brasileira local. Na Palestina, o Brasil possui um escritório de representação diplomática em Ramallah, que desde dezembro do ano passado tem um novo chefe, o embaixador Alessandro Candeas.
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Fátima relata que o conselho funciona como um canal de diálogo entre o escritório de representação e os brasileiros que vivem na Palestina. A pandemia de covid-19 restringiu as possibilidades de encontros presenciais, mas antes o grupo levava pessoalmente informações aos vilarejos onde vivem os brasileiros na Palestina. Também eram promovidas atividades para unir a comunidade e ajudar a preservar a língua portuguesa e a cultura brasileira.
Na gama de ações desenvolvidas estavam treinos de futebol, nos quais se falava português, cursinhos de português, comemoração de datas como Dia das Crianças e Festa Junina, tudo sempre acompanhado por música e culinária brasileiras. O grupo também costuma representar o Brasil em feiras que ocorrem no país, afirma a presidente. Fátima ajuda nos trabalhos do conselho desde a formação do primeiro grupo, em 2014.
O resgate da cultura
O resgate da cultura do Brasil é um dos focos do conselho, já que a maior parte da comunidade brasileira na Palestina se mudou para o país árabe há quase 30 anos, na época do estabelecimento da Autoridade Nacional Palestina (ANP). “Eu mesma não me dei conta que deveria ensinar o português aos meus filhos”, afirma Fátima. A brasileira foi morar na Palestina em 1994, com um pouco mais de 20 anos, se casou com um palestino e teve dois filhos.
A presidente do conselho relata que a região de Ramallah é a que comporta maior número de brasileiros atualmente na Palestina. Grande parte dos homens são comerciantes, ofício que já exerciam no Brasil, e boa parte das mulheres é dona de casa. Muitas, porém, têm pequenos negócios de confeitaria brasileira e artesanato ou atuam no comércio. Uma das integrantes do conselho trabalha como decoradora de festas e como DJ.
Fátima é formada em Ciências Biológicas e atua como diretora-executiva de uma ONG que trabalha pela defesa das mulheres na Palestina. Ela relata que um dos trabalhos do conselho será fomentar o empreendedorismo entre as brasileiras que vivem na Palestina, pensando inclusive na exportação. Para isso, a equipe terá apoio da representação brasileira em Ramallah, descrita por ela como uma grande apoiadora das atividades. O escritório possibilitou o atendimento psicológico das brasileiras, via internet, por psicólogos do Brasil, na língua de origem delas, o português.
Fátima afirma que a maioria dos brasileiros se mudou para a Palestina na criação da ANP, sonhando com um estado palestino livre e independente. “O que infelizmente ainda não aconteceu”, diz. Alguns eram palestinos que retornaram realizando a grande vontade de voltar para a terra natal. Fátima relata que a ocupação israelense dificulta muito o deslocamento interno, e mesmo a viagem ao Brasil, de quem também tem documento palestino.
Mas a brasileira que lidera o Conselho de Cidadãos segue focada naquilo que a levou para a Palestina. “Eu gosto da minha vida aqui, eu optei por vir para cá, eu acredito que aqui é uma terra santa, que aqui é ‘a’ Terra Santa, e acredito na paz, acredito que um dia tudo vai melhorar, acredito que nossa causa é uma causa justa”, disse. Fátima afirma que se adaptou bem à Palestina e que Ramallah é uma cidade linda, moderna e que tem de tudo.