São Paulo – O jejum intermitente de 14 a 16 horas pode melhorar o sistema imunológico, ajudar no controle da glicemia, e também reduzir peso, gordura abdominal, pressão, colesterol e inflamação sistêmica, entre outros benefícios. Foi o que afirmou o médico e diretor-geral do Centro de Oncologia do Hospital Oswaldo Cruz, Riad Younes, no primeiro webinar sobre cultura e saúde promovido pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira em parceria com o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), na noite desta sexta-feira (16). O tema foi “Os benefícios do jejum intermitente sobre o sistema imunológico e a saúde”.
Na apresentação, Younes afirmou que “além da pandemia de covid-19, o mundo está vivendo uma outra pandemia que precisa ser combatida: a da obesidade”. Segundo ele, somente no ano passado, 4,8 milhões de pessoas morreram por problemas relacionados à obesidade, o que representou 8% do total de mortes no período. “Pouco mais de um terço da população está com sobrepeso, e 13% é obesa, é um problema de saúde pública a nível mundial”, afirmou.
O médico disse que à medida que o peso aumenta, aumentam as chances de doenças como diabetes, asma, artrite, pressão alta e até câncer. “Não é meramente uma questão estética, temos que tomar cuidado”, avaliou.
Younes falou que durante anos a recomendação dos médicos para perder peso foi de contar calorias na dieta, comer menos e se exercitar mais. “Recentemente o foco mudou da qualidade para o horário que a gente come, que agora é tão ou mais importante do que o que você come”, afirmou.
No jejum intermitente, é permitido tomar água e bebidas sem açúcar como café e chá. Entre os benefícios listados por Younes estão a perda de peso, a diminuição de calorias ingeridas, de guloseimas, de álcool e bebidas açucaradas. “Também ajuda no controle da glicemia, reduz os picos glicêmicos”, disse.
Um estudo de janeiro de 2020 avaliou pessoas com sobrepeso, diabetes e colesterol alto. Eles fizeram jejum de 14 horas por 12 semanas. “O estudo observou a redução de peso, de circunferência abdominal, de gordura abdominal, de pressão, colesterol e hemoglobina aplicada” disse Younes. Também pode reduzir a inflamação sistêmica, um dos maiores problemas da síndrome metabólica, segundo o médico, principalmente quando o jejum se inicia no final da tarde, depois das 17 horas.
O jejum também pode melhorar marcadores de doenças cardíacas, pressão alta, frequência cardíaca, colesterol, glicose, insulina, e também pode aumentar a longevidade e diminuir a incidência de doenças graves, incluindo o câncer e a obesidade, apresentou Younes no webinar.
Outro benefício da prática é a autofagia, uma autolimpeza celular que consegue melhorar as chances de combater muitas doenças, como o câncer. “A limpeza celular ajuda a nos tornar mais longevos, elimina componentes que matam as células e retarda o surgimento de doenças degenerativas como Parkinson, Alzheimer, entre outras”, disse Soraya Smaili, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e fundadora do ICArabe, que também participou do seminário virtual.
“A indução da autofagia é importante para a sobrevivência das células, autofagia começa com duas horas de jejum e atinge um pico com seis horas. A partir das 12 horas tem um processo de degradação, então não podemos prolongar o jejum por muito mais que 12 horas, porque pode promover morte celular em vez de autofagia. Entre 6 e 12 horas é o ideal para não agredir a célula” afirmou Smaili.
Riad Younes completou a informação. “Quando a gente tem 12 horas de jejum a gente não está sem alimentação por 12 horas, fica tudo normal por várias horas, para depois começar a cair, então pode fazer o jejum de 14 a 16 horas” disse o médico.
O modelo mais adotado do jejum intermitente é o de 16 horas de jejum e 8 horas comendo, disse Younes. Durante a prática, somente água e bebidas sem açúcar são permitidas. Entre as vantagens estão a redução da pressão arterial, colesterol e derivados, e também do risco de infarto, derrame e câncer.
Na quebra do jejum, é importante comer uma dieta balanceada, limitar ingestão de açúcar e álcool e dar prioridade a alimentos integrais. “O jejum veio para quebrar alguns dogmas tradicionais, que o café da manhã é a refeição mais importante do dia, e que a qualidade da dieta é o mais importante”, disse Younes. Tanto ele quanto Smaili disseram ser adeptos à prática do jejum intermitente.
Mas o jejum não é para todos. A prática não é recomendada para pacientes com diabetes instável ou de difícil controle, idosos maiores de 70 anos, jovens menores de 16 anos, grávidas, cardíacos, pessoas com doença renal crônica, anorexia, bulimia, pessoas muito magras, frágeis ou recentemente hospitalizadas.
Ramadã
O Ramadã é o mês sagrado do calendário islâmico em que os fiéis jejuam do nascer ao pôr do sol. Este ano, teve início em 23 de abril e deve terminar em 23 de maio. “O jejum do Ramadã varia entre 13 a 18 horas, todos os dias por 30 dias, e você pode comer o que quiser à noite, por 6 a 11 horas. Isso é por definição um jejum intermitente, afinal você fica sem comer nada por um período, mas com algumas diferenças. O jejum é diurno, não é permitido ingerir líquidos, o que pode provocar uma leve desidratação, e pode comer o que quiser à noite”, disse Younes.
Em média, os praticantes do Ramadã perdem 1,5 kg após o período, mas recuperam depois de menos de um mês. O colesterol também baixa um pouco. “Não tem uma dieta específica, a imunidade baixa muito pouco, não é relevante para aumentar o risco da infecção da covid-19, pode jejuar sem problema”, disse Younes. As restrições são para pessoas com doenças crônicas, diabéticos, nefropatas e cardiopatas.
Smaili pontuou o papel fundamental do Islã para o avanço científico, com estímulo ao conhecimento, estudos e ciência, criação de bibliotecas, tradução de textos antigos e as primeiras universidades, além do primeiro hospital, como ambiente de tratamento e de ensino. “A ciência é tão importante quanto as orações – este é um dito daquela época e nunca isso foi tão atual, principalmente nos dias de hoje”, declarou.
Riad Younes também é vice-presidente de marketing da Câmara Árabe. O presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun, fez a abertura do painel. “A Câmara Árabe tem o propósito de conectar árabes e brasileiros para o desenvolvimento econômico, social e cultural, e sabemos que a cultura e a saúde são a grande base para os negócios e para o desenvolvimento e o crescimento das populações e das sociedades”, disse.
Assista o webinar na íntegra aqui.