São Paulo – A brasileira Lurdiana Tejas (foto acima), natural da cidade de Porto Velho, no estado de Rondônia, tem 34 anos e há dois anos virou uma verdadeira celebridade no Egito, país árabe do Norte da África. Em outubro de 2020, a dançarina do ventre apareceu em um vídeo se apresentando de um forma espontânea, sem maquiagem ou figurino, em um salão de beleza do Cairo. A publicação viralizou e chegou a quase 200 milhões de views. O sucesso continuou acompanhando a brasileira no país árabe e hoje conta com 2,5 milhões de seguidores no Instagram e 331,5 mil no Tiktok.
A dançarina relata que ficou surpresa no primeiro momento quando soube que o vídeo tinha viralizado e viu seu Instagram atingir mais de 800 mil seguidores em questão de dias. Depois ficou com medo por ter sido algo tão rápido e inesperado. “Todos os jornais e programas de tevê do Egito e dos países árabes, estavam falando de mim, e a minha vida, que era privada, de uma hora para outra virou pública”, relembra Lurdiana, citando ter sido assunto inclusive em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Depois da publicação do vídeo, a profissional, que já morava no Egito desde 2017, ganhou fama e começou a ser mais requisitada para shows casamentos, noivados e outros eventos. Apesar das saudades do Brasil, ela não tem planos de retornar e acredita que ainda tem muito a fazer no país árabe. Além do sucesso no Egito, Lurdiana conquistou seus conterrâneos e já teve participações em programas de alguns dos mais importantes canais de televisão e rádio brasileiros.
Uma dançarina
Lurdiana nasceu e viveu em Porto Velho por sete anos quando se mudou com a família para o sul do Brasil. Antes de viver na terra das pirâmides, ela morou em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Na cidade ela começou a fazer aulas de diferentes estilos, como balé, jazz, hip-hop e sapateado.
O interesse pela dança veio de casa. A mãe, Maria Zilza era professora de balé de dois locais diferentes, um estúdio e uma pré-escola. Além da mãe, o padrasto e os tios também estavam envolvidos com a dança. Aos 13 anos, ainda bastante entusiasmada e mais experiente na arte da dança, ela resolveu ajudar a matriarca da família nas aulas de balé.
A vontade de aprender um novo estilo de dança também foi influenciada pela mãe. Maria começou a fazer aulas de dança do ventre para ensinar futuramente suas alunas, mas o acesso aos materiais e cursos ainda era um pouco escasso. Para ajudar no aprendizado, Lurdiana passou a acompanhar a mãe nessa nova empreitada.
Depois da novela do Clone, em 2001, as alunas regulares de balé da escola de Maria quiseram aprender a dança e Lurdiana entrou para a lista, e permaneceu em sala de aula até os 20 anos. “Nessa época, a minha prioridade não era aprender dança do ventre porque tinha balé e jazz. Aos 15 anos já estava dando aula de balé para turmas sozinha. Mas perto dos 20, minha mãe parou de dar aula de dança do ventre, por isso assumi a turma dela. Como só sabia o básico e na minha cidade não tinha muitas professoras, fui para outras cidades do Brasil, como Porto Alegre e São Paulo, para me aprimorar e fiz cursos com professores que iam aprender no Egito”, conta a Lurdiana.
Antes de decidir que queria seguir na carreira como dançarina, ela cursou um semestre de Educação Física e na sequência quase terminou o curso universitário de Pedagogia, porém desistiu porque o chamado da dança falou mais alto. A brasileira se manteve como professora de dança do ventre, balé e jazz até os 27 anos, quando recebeu uma proposta para se mudar.
Vida no Egito
Antes de seu vídeo viralizar e ela ficar famosa, a grande mudança aconteceu na vida de Lurdiana quando ela recebeu o convite para trabalhar em uma companhia de dança do Egito em 2017. “Minha amiga trabalhava nessa companhia e me indicou. Ela disse que eu poderia tanto trabalhar com a dança do ventre como em um grupo que se apresenta com diferentes estilos de dança”, conta. O fato da amiga estar no outro país deu confiança para que a brasileira seguisse em frente. Dez dias depois de enviar os materiais de apresentações e passar na vaga, ela mudou de casa, de país e de emprego.
A ideia inicial era ficar apenas três meses, inclusive a dançarina tinha uma passagem de volta ao Brasil comprada, mas quando esse tempo passou, ela decidiu permanecer por um ano. No final dos 12 meses, vieram as férias, passadas no Brasil, e na volta Lurdiana renovou seu contrato com a companhia, onde permaneceu até 2020.
Há dois anos na carreira solo, a dançarina se apresenta em casamentos, noivados, restaurantes, Henna Party (festa da noiva, antes do casamento) e eventos em praias no verão, mas ela conta que a adaptação para viver em outro destino foi difícil. “Aqui é outra cultura, outros hábitos, outra língua e religião que predominam, então foi preciso deixar meus julgamentos de lado para entrar nesse espaço. No começo era só mímica para falar porque eu não sabia inglês, tive que aprender do zero.”
Atualmente aprendendo árabe, a dançarina relembra que precisou adaptar seu estilo de dança para o Egito, já que eles se apresentam de uma forma diferente do que no Brasil. “Não uso músicas brasileiras nas minhas apresentações e para me adaptar precisei de muito treino e ajuda no começo. Me esforço para a cada dia dançar mais parecido com as egípcias e fico feliz por ter destaque nessa dança cultural, mesmo sendo brasileira”, diz Lurdina. “Não foi só sorte, eu escolhi a dança e me dediquei inteiramente com todo meu coração, por isso tenho esse retorno”.
A fama e saudade do Brasil
Lurdiana conta que foi muito difícil lidar com a fama porque não esperava e nem estava em busca disso. Até os 32 anos ela podia sair normalmente na rua com os amigos, mas depois do vídeo que viralizou já não podia mais ir em lugares onde tinha muito público pois as pessoas a reconheciam e queriam falar com ela. Para ter privacidade em fazer suas tarefas na rua, Lurdiana usa máscara e prende o cabelo.
Hoje ela está mais acostumada com a popularidade e fica feliz em poder inspirar outras mulheres a seguirem o mesmo caminho. A dançarina diz que sente bastante falta da família e do Brasil. Para matar um pouco da saudade mantém o contato com a mãe, o padrasto e os dois irmãos, e tenta viajar ao seu país de uma a duas vezes por ano. Além disso, a família também a visita em seu novo lar.
*Reportagem de Rebecca Vettore, especial para a ANBA