São Paulo – Em janeiro, a população do Sudão aprovou sua divisão e a criação de um novo país em referendo: o Sudão do Sul. O nome é provisório e a nação só existirá oficialmente a partir de 09 de julho. O país nasce pobre, mas herda do vizinho do norte 75% das reservas de petróleo, o que será responsável por 98% de sua receita.
O que esperar de uma nação que tem infraestrutura precária, poucas rodovias, instituições públicas frágeis e apenas 27% dos adultos alfabetizados? "Oportunidades", diz o especialista em economia africana e coordenador do curso de Economia Internacional da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Barueri, Antônio Carlos Alves dos Santos.
Mais do que oportunidades, o novo país tem desafios pela frente. "Depender de uma única fonte de receita (o petróleo) pode gerar problemas e conflitos. O estágio de desenvolvimento do Sudão do Sul é inicial, é como se ele partisse quase do zero", afirma Antonio Carlos.
Além de petróleo (que o país terá que remeter para a nação vizinha), o Sudão do Sul tem gado, terras férteis e é rico em minério de ferro. O país tem o apoio do Banco Mundial e do Banco Africano, que vai emprestar recursos para a construção da infraestrutura.
Holanda, Dinamarca e Noruega prometeram levar a iniciativa privada ao Sudão do Sul. Obras e oportunidades de ganhar dinheiro não faltam. Do total de 8,2 milhões de habitantes, 80% não têm água potável e 83% da população vive em áreas rurais. As estradas são precárias.
As relações comerciais bilaterais do Brasil com o Sudão têm como crescer. Em janeiro e fevereiro, meses em que as exportações do Brasil para os países árabes atingiram US$ 2,02 bilhões, a participação do Sudão foi de 1% no total. Açúcar e Trigo foram os principais produtos exportados. Embora a relação comercial entre as nações seja pequena, Antônio Carlos acredita que o novo país oferece oportunidade também ao Brasil. "O Brasil está interessado em ser um player internacional e é do seu interesse participar da construção deste país, assim como já faz com outras nações africanas", afirma.
O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, lembra, porém, que os negócios do Brasil com o Sudão são importantes. "O Sudão exporta 99% do etanol da Europa. Tem uma usina de álcool de primeiro mundo. Também tem empresa brasileira plantando soja e algodão lá", afirma ele, referindo-se ao Grupo Pinesso, do Mato Grosso do Sul.
Mas Alaby lembra que a tarefa de entrar no país que agora se forma não será simples. E apresenta duas razões: a primeira dificuldade é enfrentar a concorrência de países que já têm forte atuação no Sudão: Malásia, Índia, Turquia e China. Ele avalia que essas nações deverão exercer sua influência sobre o vizinho do sul. O segundo motivo é a divisão religiosa e tribal do país. "É difícil administrar as tribos, o norte muçulmano e o sul cristão. Tudo isso é um desafio. É preciso que a porta de entrada seja pelo norte", diz.
História
O referendo de janeiro foi resultado de um acordo de paz assinado em 2005 que pôs fim a mais de duas décadas de guerra civil entre o norte e o sul. As duas regiões têm grandes diferenças étnicas e religiosas. Enquanto a população do norte é majoritariamente árabe e muçulmana, no sul a maioria é cristã, mas de diferentes tribos.
Segundo Antonio Carlos, da PUC de Barueri, o governador do Sudão do Sul, Salva Kiir, tem, entre tantos desafios, comandar todos os territórios. "O Sudão é uma região tribal e o governo central não controla todas as tribos", declara. A crise étnica e religiosa, porém, não deve ser repetir no novo estado. "É uma nação homogênea em termos culturais e isso ajuda", diz.