São Paulo – O Brasil exportou 45.626 toneladas de mel em 2020, um aumento de 52% frente a 2019. O que pode explicar esse crescimento? “Acredita-se que o aumento na demanda por produtos das abelhas esteja relacionado à pandemia do coronavírus, visto que as pessoas de todo o mundo estão em busca de novos hábitos alimentares saudáveis, evidenciando o aumento neste período na procura pelo mel orgânico brasileiro e pela própolis do Brasil”, disse Suelen de Palma Tomazella, gerente administrativa da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel).
Para a gerente, um dos fatores que incentivaram essa subida nos embarques é o impacto da pandemia no mercado chinês, principalmente no primeiro momento. A China é o principal exportador de mel no mundo e, com a pandemia, o as exportações do país ficaram travadas durante um bom tempo, e a demanda deles foi direcionada a outros produtores, como o Brasil.
Outra explicação está na fama de alimento saudável, natural e que pode, ainda, reforçar o sistema imunológico. Apesar de não saber se essa demanda vai se sustentar no cenário pós-covid, a Abemel está otimista. Os brasileiros têm observado o comportamento do consumidor europeu e norte-americano, habituais consumidores de mel, e vê uma tendência do alimento se sedimentar em mercados mais maduros, e se consolidar no Brasil.
Doçura saudável
Os novos hábitos alimentares alavancados pela pandemia contribuíram especialmente para a entrada do produto nos lares. “O consumidor tem passado a maior parte do tempo dentro de sua casa, possibilitando a escolha de produtos com melhor qualidade para sua família em detrimento aos produtos oferecidos em food service”, ponderou a gerente.
Os produtos ligados à saudabilidade chamaram especial atenção, como o mel orgânico brasileiro e o extrato de própolis. De acordo com Tomazella, estudos científicos chegaram a demonstrar que a própolis é um produto que estimula o sistema imune, e é um aliado para evitar sintomas mais graves, o que impulsionou a procura.
Em 2020, a associação observou a demanda internacional crescer e puxar os preços internacionais do produto. Em paralelo, houve uma forte valorização do dólar em relação ao real. “Isso potencializou o preço do mel no nosso mercado. Atualmente, mais de 80% do valor do quilo exportado fica com o produtor rural. Logo, observamos uma maior renda chegando ao produtor rural. O aumento das exportações refletiu no aumento da produção, muitos produtores rurais voltaram a incrementar suas produções de mel para atender a demanda. Neste período, houve também um estímulo para a produção de própolis”, destacou ela.
Oportunidade no mercado árabe e halal
As exportações do Brasil ainda são muito concentradas nos Estados Unidos, que soma 75% do mercado, e na Europa. “Infelizmente os países árabes ainda não figuram como grandes consumidores do mel brasileiro. Essa é, sem dúvida, uma oportunidade ao mel brasileiro, visto que o consumo do mel é parte da cultura árabe”, afirmou Tomazella.
Em 2020, o Omã, principal destino árabe do mel brasileiro, importou apenas 61 toneladas. Para a gerente da Abemel, um país que tem tido papel importante em chamar atenção para o mercado árabe são os Emirados Árabes Unidos. A nação tem realizado eventos, feiras e missões comerciais envolvendo o setor. “No ano passado, a pandemia acabou atrapalhando os planos. Entretanto, assim que voltarmos à vida que tínhamos antes – e confiamos que isso irá acontecer em breve – é fato que a presença nesses países tem todo potencial para gerar negócios”, concluiu ela.
Apesar de diversos mercados demandarem produtos com certificado halal, para os exportadores o custo ainda é um entrave. “É importante destacar que embora o Oriente Médio seja um mercado de grande potencial para o mel brasileiro, os custos acerca da certificação halal são ainda muito elevados, o que muitas vezes inviabiliza o empresário na obtenção da certificação frente aos retornos apresentados”, afirmou a gerente da associação.
Consumo nacional
As variáveis do último ano impulsionam a produção nacional de mel cada vez mais para o mercado externo. Apesar disso, no setor o sentimento é de que houve aumento na procura nacional durante o último ano de 2020.
A questão, no entanto, para Tomazella, é o longo prazo. Historicamente o consumo de mel pelo brasileiro é limitado. “O consumo de mel per capita no mundo gira em torno de 220 gramas por habitante por ano. Na Europa chega a ser em torno de 1 a 1,5 kg por pessoa no ano, e nos EUA fica em torno de 600g por habitante no ano. No Brasil, esse valor não passa de 60g consumidos por pessoa no ano. Um consumo extremamente baixo, e isso tem várias razões. O Brasil, como grande produtor de um mel considerado melhor do mundo, ainda precisa voltar seus olhos para o estímulo do consumo interno”, defende a gerente da Abemel.