Dubai – Lideranças da agricultura de nações do Norte da África têm, entre suas pautas, uma demanda em comum: mais tecnologia para o campo. Em países como o Djibuti, onde a produção agrícola representa a maior parte das exportações, encabeçadas em 2020 por itens como óleo de palma, legumes de vagem, animais vivos e ovelhas e cabras, Fahima Mohamed Ismail (foto acima), chefe da cooperativa de mulheres Restoring Hope, explica que é preciso expandir as possibilidades.
“O Brasil é um grande exportador de açúcar, e no nosso país nós somos grandes compradores de açúcar brasileiro. Meu país é como um deserto, é muito calor, e estamos ainda ‘emergindo’. É uma boa oportunidade para nós, talvez, fazermos parcerias em tecnologia. Quando falamos de fazendas, falamos de inovação”, afirmou Ismail em entrevista à ANBA.
A agricultora participou na Expo 2020 Dubai de um painel dedicado à região do Sahel, que abrange a faixa territorial que separa o deserto do Saara ao norte e as savanas tropicais ao sul do continente africano.
No mesmo debate, também esteve a ex-ministra da Agricultura de Ruanda, Agnes Kalibata, que hoje ocupa o cargo de presidente da Alliance for a Green Revolution in Africa (AGRA). Para Kalibata, as parcerias em tecnologia também serão chave no avanço das produções no continente.
“Antes de tudo, de uma perspectiva africana, nós fazemos parte da organização ICA [International Cooperative Alliance-Africa], da qual o Brasil é membro. Nós temos uma parceria forte entre os países africanos e os da América Latina. Especificamente entre o Brasil e a região do Sahel, o Brasil tem muito conhecimento onde eu acredito que há grandes oportunidades e há parceiras institucionais que o País já realiza com nações africanas. Mas também há as tecnologias com valor agregado e parcerias de negócios nas quais o Sahel pode avançar”, afirmou ela à ANBA.
As similaridades de algumas regiões brasileiras, como o semiárido nordestino, com o Sahel também podem aproximar o País de nações do Norte da África. “Eu penso que há uma grande oportunidade de compartilhar materiais genéticos, porque o clima é muito parecido em diversas partes das duas localidades”, disse Kalibata.
Acesso e financiamento para mulheres
Outra liderança feminina no campo do continente africano é Elizabeth Nsimadala, presidente da Pan Africa Farmers’ Organization (Pafo). A executiva foi convidada para outro evento na exposição universal, o painel Women’s World Majlis: From Farmer to Boss Lady: Developing a gender-equitable agricultural sector, que aconteceu no Pavilhão das Mulheres.
A presidente da Pafo frisou que apesar de as mulheres serem grande parte da população e dos trabalhadores campesinos, elas ainda recebem pouco incentivo financeiro ou educativo. “No Norte da África, assim como em outras regiões, há pequenos produtores e especialmente mulheres, que continuam a encarar desafios. Um deles é o acesso a financiamento, porque em muitos países há muitos [mecanismos] que limitam o acesso das mulheres à terra”, declarou Nsimadala à ANBA.
Ainda é comum que agricultoras não tenham propriedades em seu nome, com documentos em que constam apenas seus maridos ou parentes homens. O fato dificulta o acesso delas a linhas de crédito e mesmo a direitos como aposentadoria. Nsimadala lembra também que a falta de acesso diminui o número de mulheres em posição de liderança, e assim o ciclo se repete.
Por isso, para a executiva, foi importante a criação de programas especificamente durante a pandemia. Um deles é o VALUE4HER, que visa aumentar o ganho financeiro para as mulheres do agronegócio por meio do acesso ao mercado, conhecimento e redes que abordem as barreiras para o empoderamento das mulheres na agricultura, citou Nsimadala.