São Paulo – O governo do Paraná busca investidores para ampliar a Nova Ferroeste, uma iniciativa que vai permitir aos produtores escoar suas safras diretamente do campo para o Porto de Paranaguá – o segundo maior em movimentação no Brasil e o primeiro em eficiência – e de lá para o mundo. A proposta visa ligar por trilhos três grandes regiões agrícolas do Brasil: Paraná, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina, e essa conexão deve reduzir o custo logístico em cerca de 28% e garantir o trânsito de mercadorias para consumo interno, e principalmente, para exportação, por meio de um empreendimento verde.
No total, serão 1.567 quilômetros de trilhos instalados que vão atravessar 66 municípios. A linha principal vai ligar Maracaju, no estado do Mato Grosso do Sul, ao porto no litoral do Paraná. Também estão planejados dois ramais adicionais: um deles conectará Cascavel a Foz do Iguaçu, facilitando o transporte de carga proveniente da Argentina e do Paraguai, e o outro ligará Cascavel a Chapecó, um dos principais polos de produção de proteína animal do País.
“Em grande parte das cidades ao longo da rota ferroviária, o trajeto será desviado dos centros urbanos, passando distante das áreas em desenvolvimento”, garante Luis Henrique Fagundes, coordenador do Plano Estadual Ferroviário. “Fomos pioneiros neste processo ao integrar completamente o desenvolvimento do projeto com a avaliação de seu impacto ambiental. Garantimos que o projeto estivesse em conformidade com as melhores práticas ambientais. Como resultado, conseguimos evitar áreas habitadas por comunidades indígenas, quilombolas e unidades de conservação integral, sem cortar nenhuma delas. Isso incluiu a descida pela Serra do Mar, uma área especialmente delicada. Optamos por um traçado que segue a rota da BR-277, uma estrada já existente, o que nos permitiu trabalhar dentro de sua faixa de domínio e reduzir consideravelmente o impacto ambiental, além dos custos associados.”
De acordo com Fagundes, o empreendimento tem exatamente o que o mundo busca hoje: é verde e está posicionado estrategicamente num estado no qual gravitam, em um raio de mil quilômetros, cerca de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul. “Precisamos da ferrovia para conseguir aproveitar esse posicionamento estratégico do Paraná e virar um hub logístico, ou seja, um local estratégico onde empresas possam escoar e redistribuir mercadorias de forma ágil.” Ele lembra que o Paranaguá ganhou por quatro anos seguidos o prêmio de porto mais eficiente do Brasil. “Espero que conquistemos pela quinta vez esse reconhecimento.”
“A Nova Ferroeste também é atraente porque significa segurança alimentar. Se a gente olhar para a comunidade árabe, por exemplo, o Paraná é o maior exportador de frango halal.” Ele explica que essa produção é um projeto extremamente resiliente e cita os enfrentamentos contra a Covid-19 como um exemplo. “Essa indústria não parou, e continuou exportando, pois se tratava de alimentação. Seguimos procedimentos sanitários muito rígidos e as cooperativas tiveram zero de contaminação dentro das fábricas.”
Trem em vez de caminhão
A Nova Ferroeste será ecologicamente amigável e terá um impacto ambiental mínimo. Na verdade, representa um processo de redução das emissões de carbono na cadeia de abastecimento, desde a produção até o consumidor final. Um único vagão moderno, chamado trem-tipo, substitui praticamente quatro caminhões nas estradas. O uso de um trem composto por 140 desses vagões significa retirar quase mil caminhões das estradas. Isso não só contribui para a descarbonização da cadeia de abastecimento, como melhora significativamente a eficiência da entrega de produtos, como no caso do frango. Além disso, há um grande benefício social, já que menos caminhões estarão circulando em longas distâncias. “Atualmente, as transportadoras enfrentam uma taxa de cerca de 25% de caminhões parados devido à escassez de motoristas e caminhoneiros”, explica.
De acordo com estudos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), haverá um crescimento significativo no consumo de alimentos nos próximos anos e cerca de 50% dessa demanda vai ter que ser atendida pelo Brasil. “Nosso País tem condições para suportar esse crescimento, já que conseguimos fazer duas safras por ano, como soja e depois, milho. Temos muita área para expandir a lavoura sem agredir o meio ambiente.” Além disso, o desenvolvimento de sementes, o reuso da água e novas tecnologias para a agricultura ajudam a credenciar o Brasil como o grande supermercado do mundo.
Fagundes cita centenas de hectares de pastos degradados como áreas de potencial crescimento agrícola. Segundo Fagundes, daria para multiplicar por cinco a produção se essas terras fossem ressuscitadas. “Isso é possível porque a própria criação de gado está mudando. Com seis meses de pasto e um ano confinado, o gado já está com o peso para abate.”
Em dólares
Outra característica importante a ser destacada para os investidores estrangeiros é a lei federal 14.286, de dezembro de 2021, conhecida como Novo Marco Legal do Câmbio, que garante às empresas pertencentes a uma cadeia de suprimentos, na área de transportes e envolvidas em exportação, que os contratos de prestação de serviço sejam feitos em moeda norte-americana. “Com parte do faturamento em dólar, é possível criar uma proteção cambial natural para o empreendimento. Porque se o dólar sobe, o faturamento sobe e compensa o aumento da dívida. Se o dólar baixa e a dívida diminui, o faturamento vai também cobrir isso. Não será preciso contratar qualquer instrumento financeiro para fazer a proteção cambial do seu empréstimo. Isso baixa muito o custo de capital e torna ainda mais atraente o investimento na Nova Ferroeste”, garante Fagundes.
Quando estiver funcionando, a Nova Ferroeste vai ser o segundo maior corredor de exportação do Brasil de contêineres e grãos, só vai perder para a malha paulista, que conecta ao Porto de Santos. “Não existe outro investimento de infraestrutura que eu diria ser tão atraente na área de transporte no País, além de ser um projeto para 99 anos.”
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Reportagem de Paula Medeiros, especial para a ANBA.