São Paulo – O novo embaixador da Argélia em Brasília, Rachid Bladehane (foto acima), quer ver crescer o comércio e as relações políticas, diplomáticas, culturais e sociais do seu país com o Brasil. Ele assumiu o posto em novembro do ano passado e está cumprindo agenda em São Paulo. O diplomata visitou a sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira e se reuniu com o presidente, Osmar Chohfi, e com o vice-presidente de Relações Internacionais da entidade, Mohamad Mourad, na manhã desta quinta-feira (24). Participou do encontro a analista de Relações Institucionais da Câmara Árabe, Elaine Prates.
Entre os 22 países árabes, a Argélia é o sexto destino das exportações brasileiras e o terceiro maior fornecedor do País. O Brasil exporta principalmente açúcar, soja, milho, minério de ferro, óleo de soja, amendoim e café, enquanto a Argélia envia ao País principalmente petróleo, fertilizantes, petróleo refinado e cimento.
Em entrevista à ANBA, Bladehane enfatizou que a relação entre Argélia e Brasil sempre foi excelente e que isso se deve à história dos dois países. “Nós, argelinos, respeitamos muito os brasileiros e vice-versa. Como embaixador, minha função é trabalhar para fortalecer as relações entre os países”, disse.
Para ele, o relacionamento entre Argélia e Brasil é um campo fértil para o desenvolvimento. “Nossos países estão prontos para melhorar os meios de cooperação mútuos no âmbito da existência de uma base jurídica e institucional, que é muito importante, e que temos que aproveitar para aprofundar ainda mais a cooperação. Há um esforço para fazermos o intercâmbio comercial crescer”, declarou.
Sua história como diplomata iniciou em 1985, quando começou a trabalhar para o Ministério das Relações Exteriores da Argélia. Ele foi conselheiro do embaixador do país árabe na Argentina em 1988. Em 1998, assumiu o primeiro posto como embaixador, na Malásia, cobrindo também Tailândia e Filipinas. Em 2004, Bladehane voltou para a Argélia e foi diretor-geral das Relações Internacionais multilaterais do ministério. Em 2008, ele se tornou embaixador da Venezuela, cobrindo outros 15 países da região, como Equador, Trinidad e Tobago, República Dominicana e Jamaica.
Ao retornar a seu país, foi diretor-geral de Assuntos Políticos e Segurança Internacional do Ministério das Relações Exteriores, em 2015, e em seguida foi promovido a secretário-geral da pasta. Em 2020, foi nomeado secretário de Estado ou vice-ministro da comunidade argelina no exterior. Em novembro de 2022, chegou ao Brasil.
“O que precisamos fazer agora é coordenar visitas mútuas para que ambos os lados tenham uma ideia das possibilidades da economia dos países, para desenvolver essas relações. A Argélia quer se beneficiar da expertise do Brasil no campo econômico, tecnológico e comercial, assim como o Brasil está interessado em internacionalizar mais as suas empresas, e a Argélia pode ser um ponto de desenvolvimento dessa internacionalização, porque estamos em um local geoestratégico muito importante. Estamos em frente à Europa, somos uma porta de entrada para a África, e temos um laço com o Oriente Médio”, informou o embaixador. Segundo ele, o país está a 20 minutos da primeira costa espanhola, a uma hora de Barcelona e Marselha e a 1h10 de Roma, de avião. “É menos que ir de São Paulo a Brasília”, disse.
Importar e exportar
A Argélia tem muitos produtos que podem interessar às empresas brasileiras. Em uma reunião na manhã desta quinta-feira, ele percebeu que muitas empresas estavam interessados em ureia, sulfato de potássio e frutas argelinas, como as tâmaras. “Temos as melhores tâmaras, não creio que haja algo parecido no mundo. Temos um microclima ideal para a fruta. Há outros países que têm boas tâmaras, mas como a Deglet Nour não há. Temos 48 variedades de tâmaras ou mais, mas essa é a melhor”, disse o diplomata.
Apesar de os principais produtos da Argélia ainda serem petróleo e derivados, o país vem investindo na agricultura e na indústria nacional. “A Argélia evoluiu muito no setor econômico, principalmente na agricultura. Hoje em dia, 30% dos produtos agrícolas vêm do deserto, no Sul do país. Agora, há um sistema de irrigação por gotejamento que está dando muito bons resultados, e isso é muito importante porque não precisamos mais importar tudo, apenas uma parte”, contou.
Bladehane disse que o país subsidia produtos estratégicos da cesta básica, como trigo e azeite de oliva (produzidos localmente), e também açúcar, café e óleo de soja. “Para garantir a segurança alimentar, todos os países têm que importar um pouco, mas estamos garantindo o mais importante. O governo vende esses produtos a um preço menor do que o valor da importação”, disse.
Ele afirmou que há muitas oportunidades para o Brasil exportar, e deu como exemplo frutas como abacate, mamão papaya e manga, que o país árabe não cultiva. “Compramos a carne brasileira halal, e os brasileiros podem exportar muitos produtos para o nosso país. A importação da Argélia não está condicionada à produção local ou não de produtos. Se uma empresa quiser importar laranja brasileira, não tem problema, nós temos laranjas de boa qualidade, mas pode importar, e o mercado é que vai definir os preços”, informou.
Os principais objetivos do embaixador em seu posto no Brasil são promover a cooperação bilateral e organizar uma ponte entre os dois países no comércio, para que as empresas se encontrem neste mercado global. “E também no campo político, claro. Temos que nos unir, porque o mundo está vivendo uma revolução dramática. E temos que promover essa troca de pontos de vista e tentar trazer doses de racionalidade no mundo internacional, para promover a legalidade internacional”, afirmou, lembrando das situações que vivem Ucrânia, Síria, Palestina e Iêmen. “É necessário haver respeito aos princípios do direito internacional, independentemente da situação”, afirmou.
Agenda em São Paulo
Na passagem por São Paulo ele tem na agenda encontros com lideranças de entidades, associações setoriais, setor público e empresas. “Essa é uma viagem de contatos e troca de informações. Um embaixador tem por função reunir empresas, informar e promover os produtos de seu país”, disse. Seu papel é também o de mostrar ao Brasil que a Argélia apresenta boas oportunidades, e que as empresas argelinas podem fazer o mesmo no Brasil. Rachid Bladehane afirmou que o que mais gosta no Brasil são as pessoas.