Belém – O agronegócio do Pará é famoso por suas propriedades rurais de grande porte e a criação de gado de larga escala. O estado que sedia em novembro a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP30) possui, de fato, extensas fazendas e tem a carne bovina entre os principais produtos de exportação no agro. Mas o Pará vem fazendo um movimento pela diversificação da produção no campo e investindo em cultivos integrados com a floresta amazônica, onde o estado está inserido.

Do Pará vem quase todo o açaí produzido no Brasil, 92,5% ou 1,6 milhão de toneladas por ano, quase metade do cacau, 137,4 mil toneladas ou 46% do total, e praticamente todo o dendê nacional, 97% ou 3,1 milhão de toneladas, segundo dados compilados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). Esses produtos podem ser encontrados no estado crescendo em meio a árvores, nos Sistemas Agroflorestais (SAFs), que combinam árvores florestais e plantas de produção comercial no mesmo terreno.
“O Pará, no cenário nacional, é o maior produtor de açaí, cacau, dendê e mandioca, tem o maior rebanho bubalino, bastante concentrado no arquipélago do Marajó. Em segundo lugar (no ranking nacional) temos rebanho bovino, equino, pimenta-do-reino e abacaxi”, disse a economista Eliana Zacca, assessora técnica da presidência da Faepa a jornalistas que estiveram no estado em visita pré-COP. O grupo conheceu área em que convivem cultivos de cupuaçu, cacau, açaí e dendê, e produção de chocolate a partir do cacau da floresta, entre outras iniciativas sustentáveis, inclusive em terras que foram pastagens degradadas.

Apesar do sucesso de produtos brasileiros como o açaí e o cacau no exterior, quem sustenta a entrada de receita estrangeira do agro do Pará são outras culturas. Complexo soja, carnes e animais vivos respondem por 77,3% da exportação agropecuária do estado, segundo os dados apresentados por Eliana. A soja e seus derivados geram 42% da receita das vendas internacionais do setor, as carnes 21% e os animais vivos (exceto pescados), 14%. Os dados são de 2024, quando o agronegócio paraense faturou US$ 3,5 bilhões em divisas com exportação. No total, a receita de exportação do estado foi de US$ 23 bilhões.
O agronegócio é um dos pilares da economia do Pará. No ano passado, o valor bruto da produção agropecuária do estado foi de R$ 38,5 bilhões, dos quais R$ 23,6 bilhões vieram das lavouras e R$ 14,9 bilhões da pecuária. O estado tem 25,5 milhões de bovinos, 10,7% do total do Brasil, e 775 mil búfalos, 43% do total do Brasil. “Em 14 anos, nós crescemos 15% em área de pastagem e o rebanho (bovino) aumentou no mesmo período cerca de 45%. Isso significa que a expansão do rebanho não vem se dando por novas áreas, mas sim pelo aumento da produtividade, maior eficiência produtiva”, afirma Eliana.

Os agropecuaristas do estado estão empenhados em mostrar que na produção de grande escala eles também preservam. A legislação brasileira determina que no bioma amazônico as propriedades rurais mantenham 80% do terreno com reserva legal (vegetação nativa e sem produção) e não mexam nas áreas de preservação permanente, que são nascentes, topos de morros e similares. Quem plantava antes de 22 de julho de 2008, no entanto, quando o Brasil mapeou sua vegetação nativa, tem diferenciação no percentual.
Um dos grandes desafios é gerar renda para a população em um ambiente de floresta. O Pará é um dos estados brasileiros com pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o 24º do País. O IDH é indicativo da qualidade de vida, acesso à renda, educação e saúde. Apesar dos vários projetos que pipocam no Pará em prol de uma produção harmônica com o bioma, uma boa parcela da população ainda não consegue se beneficiar da riqueza natural. “A floresta em pé precisa de gente em pé também, mas gente com voz, com trabalho, com renda, com educação e, sobretudo, com esperanças”, afirma Eliana.
Assim como em outras regiões do Brasil, no Pará o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), ligado à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), oferece aos produtores assistência para levar mais desenvolvimento e tecnologias ao campo, especialmente aos pequenos produtores. No Pará, são mais de 5 mil produtores assistidos em açaí, cacau, citrus, criações, horticultura, leite, mel, psicultura, bovinocultura de corte e fruticultura. O Senar atua em parceria com federações agropecuárias estaduais.
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*A jornalista viajou a convite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)


