São Paulo – Se você as encontrar em um jantar ou um evento social, vai imaginar que são apenas mulheres bonitas, bem vestidas, bem educadas. Se as encontrar na companhia dos filhos, então, talvez ache que o cuidado a eles seja a principal tarefa das suas vidas, tamanha a dedicação. Mas se telefonar para as suas casas numa terça-feira lá pela metade da manhã vai saber que elas acordaram cedo, saíram há algumas horas e já estão em uma reunião de negócios, um telefonema a um fornecedor ou fechando uma venda.
Elas formam a geração de mulheres de origem árabe que ajuda a economia brasileira a andar. A maioria cresceu vendo seus pais construírem grandes ou pequenas riquezas, ouvindo a história dos avós que desembarcaram de navios vindos da Síria, do Líbano, sem um tostão no bolso e viraram mascates até formarem o seu pé de meia. Elas têm sim seus maridos e filhos. E são dedicadas a eles. Mas tempo integral para a casa é idéia fora de cogitação para essas mulheres. Do que elas gostam mesmo é de fazer negócios.
São mulheres como Andrea Kurbhi, Roberta Nahas, Rose Koraicho e outras tantas de rostos anônimos e sobrenomes como Chohfi, Jafet, Nasser, Abdouni. Rose Koraicho, por exemplo, está à frente da Koema, uma das mais importantes incorporadoras imobiliárias do país, que ela mesma criou. Entrar no mundo dos negócios foi quase uma questão de teimosia para a neta de sírios. "A educação que tive foi para ser dona de casa", conta. Aos 28 anos, porém, casada desde os 19 anos e com filhos desde os 20, ela mudou de rumo.
A contragosto do pai começou a trabalhar na Marverich, empresa que ele mantinha para administrar bens próprios. "Tive que mostrar que era real a minha intenção de seguir na carreira profissional. Comecei a ler vários livros do setor imobiliário, o código civil, a lei do inquilinato, fiz muitos cursos. Aos poucos fui conquistando espaço na empresa e a confiança do meu pai", relata Rose.
Parecia difícil ver a vida passar na janela de casa para a moça que tinha visto o avô paterno trabalhar como condutor de charretes e mascate, o pai fabricar suspensórios, conduzir uma loja de armarinhos e levar adiante uma empresa imobiliária. Quando o pai faleceu, em 1996, Rose abriu a Koema. A neta de árabes afirma que não foi fácil entrar para o mundo dos negócios. "No início eu era encarada como a herdeira que estava brincando de empresária. Com o tempo, com os resultados da Koema, seus projetos, os prêmios que ela conquistou, fui sendo admitida no Clube do Bolinha", diz. Rose ganhou em 2005 o prêmio Empreendedor do Ano promovido pela consultoria Ernest & Young.
Ela se define uma empresária dedicada e envolvida com os negócios. "Gosto de cuidar tanto da parte macro como de detalhes, que na minha opinião fazem a diferença. Além disso, procuro conciliar meu trabalho com minha vida familiar. Mesmo com meus três filhos adultos, o convívio familiar para nós é fundamental", afirma. "Mas procuro não ultrapassar os limites do racional. Infelizmente vi de perto os quatro infartos que meu pai sofreu, o primeiro aos 40 anos, devido a sua total devoção ao trabalho.”
Na loja
Roberta Nahas também teve muita influência da atuação da família nos negócios para se tornar uma empreendedora. Ela e Andrea Kurbhi são donas da Spezzato, reconhecida grife brasileira de moda feminina. A família das duas, que são parentes, atua no comércio. "Fui criada dentro da loja, saía da escola e ia para loja. Passava na loja para dar um beijo na mãe. No Natal ajudava na loja. Sempre estive neste ambiente de comércio e moda", conta. Com cerca de 17 anos, Roberta passou a trabalhar na loja de roupas da família.
Ela se espelhou em mulheres de outras gerações da sua própria família, já que tanto a mãe, Arlete Chammas Salum, quanto a sua avó, Ilva Salim Nahas, trabalhavam e trabalham com comércio. Quase ainda uma adolescente, então, Roberta, hoje com 37 anos, resolveu partir para o negócio próprio. Ela e Andrea abriram a Spezzato. Elas perceberam que havia carência de alguns tipos de roupas no mercado e começara a fabricá-los. Primeiro vendiam para a própria loja da família e depois passaram a oferecer para terceiros.
Hoje a Spezzato é uma grife com reconhecimento no mercado nacional e lojas próprias. Roberta cuida, atualmente, da área de criação, enquanto Andrea atua no setor administrativo e comercial. “Não fiz faculdade para trabalhar com criação, aprendi na raça”, afirma Roberta. Andrea conta que o começo dos negócios não foi fácil. O gosto pelo comércio, porém, ajudou a descendente de libaneses a levar a marca adiante. "O comércio nasce com as pessoas. Quem gosta de vender, gosta mesmo", afirma Andrea.
As avós e avôs paternos e maternos de Andrea vieram do Líbano. Ela viu os avôs atuarem no comércio e também o pai e a mãe. O pai de Andrea, Fuad Chammas, assim que teve oportunidade se dedicou à Medicina como cardiologista. "Ele trabalhava na loja de tecidos do meu avô, na rua 25 de Março, mas adorava a Medicina, ficava atrás do balcão estudando Medicina", relata Andrea. Ela acredita que sua paixão pelas vendas é uma herança da dedicação que o pai e a mãe também tinham por suas profissões.

