São Paulo – Até hoje não esqueci a minha primeira visão do mundo árabe. Era um dia ensolarado de junho de 2005 e o avião da Qatar Airways aterrissava em Doha. Depois de ter ido do Brasil até a África do Sul e de lá tomado um voo para a capital do Catar, eu estava chegando no tal mundo árabe. Lá de cima se via a areia do deserto com suas aparentes ondulações. Quando a aeronave se aproximou mais do chão, também pude ver o Mar do Golfo, de um azul esverdeado fantástico.
Ainda hoje guardo um carinho especial pelo Catar – assim como por tantos outros países árabes – por ser o primeiro lugar da região onde coloquei o pé. Eu era jornalista da ANBA há pouco tempo e aquela tinha sido a primeira oportunidade de viagem de alguém da equipe para um país árabe. Não existiam voos diretos e a possibilidade de viajar surgiu a partir de um convite do governo do Catar para a cobertura de uma cúpula do G-77 e a China.
Aquele era um mundo bem exótico para mim, sobre o qual nós jornalistas da ANBA escrevíamos, mas desde o Brasil. Tudo era tão peculiar, tinha cheiro diferente – talvez por causa dos temperos e perfumes bem próprios da região. Tudo era muito bonito e rico – o Catar tem a maior renda per capita do mundo. Os lugares em que passei mais tempo – centro de convenções e hotel – tinham muito mármore e brilho.
Consegui fazer meu trabalho direitinho, e até dei uma escapada a alguns pontos turísticos e tradicionais como o mercado de ouro e a parte mais antiga de Doha, sobre os quais escrevi depois para a ANBA. Também visitei a sede do canal de televisão Al-Jazeera e estive em instituições locais de comércio. Fiz matérias sobre a cúpula e contei com ajuda e o coleguismo de jornalistas de várias partes do mundo que estavam por lá cobrindo o evento.
Fui sozinha – não sem algum receio, e fui muito bem recebida pelos catarianos. Deu tudo certo e aquela foi a estreia das incontáveis viagens que a equipe da ANBA fez aos países árabes. De um lugar exótico, o mundo árabe virou um lugar que também é nosso. Não que saibamos tudo sobre eles – a cada dia e notícia conhecemos algo novo – mas agora somos mais de casa.
Espero lembrar sempre da visão através daquela janelinha de avião, com o deserto e o Mar do Golfo lá embaixo, silenciosos e imponentes, em um desenho lindo que a natureza fez para os árabes – e para nós, que de vez em quando vamos lá espiar a vida deles.