São Paulo – O ex-craque do Flamengo e da Seleção Brasileira Zico tem uma meta para 2014: classificar a seleção do Iraque, da qual é treinador desde agosto, para a Copa do Mundo no Brasil. A tarefa não é fácil, pois seu novo time está em 109º na tabela de seleções da Federação Internacional de Futebol (Fifa). Mas também não é impossível. Seus adversários no grupo que disputa as eliminatórias são Jordânia, China e Cingapura. Zico tem também a missão de gerenciar as categorias de base do futebol iraquiano em um projeto do governo que faz parte da reconstrução do país.
O treinador chegou ao Brasil, vindo do país árabe, no fim de semana e, no sábado, deverá retornar ao Iraque. Enquanto isso, realiza seus projetos por aqui. Na manhã desta terça-feira (13), Zico e o ex-atacante Ronaldo lançaram, em São Paulo, um site para amantes do futebol que querem seguir a carreira de jogador, o Pnera (www.pnera.com). Durante o evento, realizado no Museu do Futebol, Zico falou sobre sua experiência à frente da seleção de futebol do Iraque.
Embora o objetivo do treinador seja participar da Copa no Brasil, os dirigentes iraquianos têm um projeto maior e de longo prazo. Eles querem reconstruir o futebol do país. “Eu esperava que [o futebol iraquiano] fosse um pouco mais profissionalizado, mas entendo tudo aquilo que aconteceu em termos de guerra, na mudança na federação. Só para vocês terem uma ideia, o vice-presidente da federação é um cara que foi exilado, que era contra o regime do Saddam Hussein. Voltou faz três meses, e agora estão querendo fazer uma renovação grande, alavancar novamente o futebol do Iraque, profissionalizar”, afirma o treinador. Os iraquianos lhe ofereceram um contrato até 2018. Zico fechou até 2014.
Já a federação iraquiana tem outras missões. Uma delas é levar os jogos do time para Bagdá. Atualmente, a seleção treina e joga em Erbil, no Curdistão Iraquiano, um lugar tranquilo, segundo Zico. Lá foi realizado o jogo de estreia de Zico na derrota por 2 a 1 para a Jordânia, em 02 de setembro. “A estreia foi muito tensa porque depois de muitos anos era o primeiro jogo oficial no Iraque e o time, apesar de ter jogado bem, perdeu muitos gols. Acabamos derrotados”, disse Zico.
Na segunda partida ele conquistou a primeira vitória à frente da equipe: venceu Cingapura por 2 a 0. Em outubro, o desafio será vencer os dois jogos contra a China. Um dentro de casa, outro fora.
O treinador não esconde que um dos motivos que o levou a aceitar o convite dos iraquianos foi a vontade de voltar a comandar um time de futebol. O último clube pelo qual passou foi o Olympiakos, da Grécia, em 2010. Ele também dirigiu o CSKA, da Rússia, o Bunyodkor, do Uzbequistão, o Fenerbahçe, da Turquia, e a seleção do Japão na Copa de 2002. Foi sua passagem pelo time japonês, pelo qual venceu 38 dos 72 jogos que disputou, que levou os iraquianos a procurar Zico. Já pelo lado do brasileiro, o que o levou a aceitar a treinar a equipe de um país destruído pela guerra foi o desafio de poder participar da sua reconstrução.
“Me sinto orgulhoso porque pesou [no convite] o trabalho que eu fiz no Japão. A gente pensa realmente em poder, através do futebol, dar essa contribuição. É lógico que isso daí pesa. Você ter um nome que seja escolhido para uma finalidade dessa. Uma missão importantíssima, e tomara que seja realmente válido”, afirmou.
Além de treinar o time e cuidar das comissões técnicas das categorias de base, Zico tem outros sonhos. Um deles é comandar a seleção iraquiana em um amistoso contra o Brasil. Ele confirmou que existe essa possibilidade e até se comprometeu a ajudar a encontrar uma forma de levar o Brasil para o Iraque. Lembrou, porém, que não há nenhuma conversa oficial a respeito deste assunto ainda.
“Se tiver que intermediar [as negociações para a realização do amistoso], faria com o maior prazer, desde que eles (os iraquianos) demonstrem que há segurança e tranquilidade para os jogadores. O Brasil não foi jogar lá no Haiti [em 2004]? Não foram lá e deram toda a segurança e tranquilidade? O Brasil é um catalisador da união dos povos e poderia ser mais uma vez”, disse.
Enquanto esse jogo não chega, Zico se preocupa em encontrar um lugar para morar e arrumar o time. Ele provavelmente irá viver em Erbil, mas levará sua família para Portugal, pois o ex-craque flamenguista é também cidadão português e o país europeu não fica tão distante do Iraque quanto o Brasil.
Enquanto procura um lugar para morar, Zico vai ao Uzbequistão assistir uma partida do time de futebol olímpico do Iraque. Os atletas deste time não podem ter mais do que 23 anos. Zico afirma que o time iraquiano é bom, mas a média de idade dos jogadores atuais é de cerca de 30 anos, alta para disputar a Copa do Mundo. Ele pretende convocar atletas mais jovens.
Zico também já começa a planejar o time para enfrentar a China em duas partidas. Os resultados destes jogos irão determinar se o Iraque vai continuar a buscar a vaga para a Copa de 2014. “O time [olímpico] tem jovens promissores, de muito talento, de muita qualidade técnica que, se bem lapidados, podem ser muito importantes para o desenvolvimento do futebol iraquiano”, disse.