São Paulo – Com o empreendedorismo no DNA, a descendente de libaneses Soraya El Khatib (foto acima) começou sua trajetória nos negócios bem cedo, mais precisamente aos cinco anos. Ainda na infância, ela misturava perfumes da mãe e criava fragrâncias, pintava camisetas, fazia sachês, desenvolvia peças de teatro e vendia ingressos, com o objetivo de se autossustentar.
Anos mais tarde, já graduada em Farmácia, El Khatib cursou mestrado e doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E, em 2021, à frente da empresa S Cosméticos do Bem, ela recebeu o título de Empreendedora do Ano pela Unicamp. A marca desenvolve dermocosméticos e é considerada empresa-filha da Unicamp e graduada, ou seja, passou pelo processo de incubação, pela Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp).
Agora, El Khatib se prepara para novos voos. Entre eles, conquistar o mercado B2B com seus produtos, ampliando vendas no Brasil e chegando ao público externo.
À ANBA, a farmacêutica falou com orgulho sobre ter sido a primeira mulher e ex-aluna da Unicamp a ganhar o título de Empreendedora do Ano. Dom herdado do avô que chegou ao Brasil em 1946, vindo do Líbano. El Khatib sempre quis empreender, mas de uma forma sustentável, eficaz e segura. Baseada nesse tripé, ela constituiu o propósito da S Cosméticos do Bem.
Em 2020, depois de 10 anos de empresa, de pesquisa e muito trabalho, ela colocou o primeiro produto no mercado, o Sérum Rejuvenescedor. A empreendedora explica que o Sérum age na pele acelerando a regeneração celular e promove redução dos sinais de envelhecimento. Além disso, ainda tem uma ação probiótica na pele. “Nosso índice de aceitação chegou a 92%. Algo inédito nessa área”, conta.
Para o mercado, a empresa ainda desenvolve mais cinco produtos: gel nasal anti-covid, cujo processo está parado por falta de recursos, dois cicatrizantes – um para PETs, que combate a dermatite atópica nos animais de estimação, e outro para humanos –, além de um repelente natural. Todos são produzidos a partir da Artemisia annua, uma planta de origem asiática muito utilizada na medicina tradicional chinesa, e que tem mais de 3.500 bioativos responsáveis por propriedades terapêuticas.
Na opinião da empresária, o mercado tem sede de propostas sustentáveis e ousadas. El Khatib aconselha para quem quer inovar a construir um propósito forte de negócio para não desviar do objetivo. “Empreender é difícil no Brasil por falta de incentivos. É preciso foco, muito estudo e conhecimento”, pontua.
Um pouco da história
A resiliência e a persistência da empreendedora vêm também da sua dedicação ao esporte. El Khatib foi atleta e vice-campeã brasileira dos 100 metros rasos. Mas é do avô que vêm os principais ensinamentos. “Meu avô foi fonte de inspiração. Temos a arte do negócio no gene e a lapidei para iniciar meu trabalho”, revelou.
O avô, conta, ao chegar no Brasil comprou uma fazenda para cultivo de café, no interior do Paraná, e também uma mercearia. A prioridade do avô, diz El Khatib, era o sustento da família. Quando os filhos precisaram ingressar na universidade e ir em busca de oportunidades de trabalho, o patriarca não hesitou e migrou para Campinas, no estado de São Paulo.
El Khatib até tinha pensado em cursar Medicina, mas foi sua dedicação e empenho na área de Farmácia que possibilitaram abrir outros caminhos. “A Farmácia é um curso que permite vários campos de atuação como fiscalização, legislação e laboratório”, ressalta. Depois da graduação, veio o Mestrado e logo o Doutorado. Chegou a dar aulas em universidades por mais de 20 anos.
Mas a descendente de libaneses sempre quis empreender e viu a oportunidade de concretizar esse sonho com o apoio do ecossistema da Unicamp. Em 2011, a S Cosméticos do Bem foi fundada. Quatro anos depois, em 2015, transformou-se em uma empresa de base tecnológica e esteve incubada dentro do ambiente da universidade até 2020.
A startup acompanha todo o processo, desde o plantio da matéria-prima ao resíduo produzido. É o chamado farm to face, “da fazenda até o rosto” em tradução livre. Além de os produtos gerarem apenas 2% de carbono, eles ainda têm potencial para ser reciclados, já que os resíduos podem ser usados como carvão vegetal para a indústria ou na produção de tijolos ecológicos.
*Reportagem de Lisiane Mossmann, especial para a ANBA.