São Paulo – Quando o libanês Nissim Hara colocou seus pés na capital paulista, na década de 60, o dinheiro que tinha não dava para comprar um automóvel. Hoje, 45 anos depois, ele e seus irmãos são donos de uma das maiores marcas de lingerie do país, a Hope, com fabricação de 650 mil peças ao mês e meta de chegar a um milhão de unidades ainda neste ano. "Muito trabalho", afirma ele, ao explicar, com poucas palavras, o sucesso da marca que fundou.
Nissim é mesmo de poucas palavras e de jeito simples, apesar do império da lingerie que comanda. As características do dono, aliás, transparecem na sede administrativa da empresa, no Bom Retiro, um edifício bem cuidado e com poltronas de cor rosa choque na recepção, mas sem muito luxo. É ali que ficam desde o departamento de criação e o showroom até a área de compras e vendas da empresa. A fábrica da Hope está no estado do Ceará.
O libanês hoje tem a ajuda das três filhas para levar a Hope adiante. Karen, a herdeira mais velha, cuida das finanças e administração, Sandra da produção e do marketing, e Daniela se encarrega das vendas. Mas nem por isso Nissim trabalha pouco. "Trabalho 24 horas por dia", diz ele, esquecendo de descontar o tempo do sono diário. O imigrante naturalizado brasileiro, no entanto, não acha ruim a rotina de empresário e industrial. "Gosto de trabalhar", diz.
Nos primórdios da fábrica, era Nissim mesmo quem cuidava de quase tudo na empresa. "Eu vendia, comprava, entregava", conta. Na época, a Hope não tinha mais que meia dúzia de funcionários. A marca produzia apenas um tipo de calcinha, de helanca, que chegou ao mercado brasileiro fazendo sucesso. Mas e a criação das peças, item tão importante em uma confecção? A princípio, predominava o gosto de Nissim. "Como eu também era vendedor, tinha visão do que estava vendendo mais, quais seriam os próximos lançamentos", conta.
Três anos depois, os irmãos de Nissim entraram no negócio e, aos poucos, foram sendo expandidos os tipos de artigos fabricados. Com o crescimento da empresa vieram também a contratação de estilistas e modelistas. Atualmente, a marca já tem uma rede de franquias, com 55 unidades, no Brasil e exterior, e planos de chegar a 100 até o final de 2011. As franquias fora do país estão em países como Portugal, Israel e Japão. E também há exportações esporádicas para outras regiões, incluindo Paraguai, Uruguai e Equador.
Mas Nissim se diz mais focado no mercado interno. Principalmente porque ele acha que se for para vender fora do país, tem que ser para valer, com campanhas de marketing, acompanhamento do produto e tudo mais. Para Dubai, ele já fez algumas vendas. "Mas se você não vai lá, não leva marketing, não tem como ir para frente", diz. Ele acredita, no entanto, que se resolver vender, de fato, no Oriente, os europeus terão que se cuidar. "Eles não vão conseguir vender com o meu preço".
A argumentação do libanês explica um pouco da sua história, de quem só entra nos negócios para ganhar. Tanto que foi larga a trajetória do empresário até encontrar o nicho de maior sucesso. Começou ainda lá em Beirute, no Líbano, onde Nissim nasceu e começou a trabalhar, aos 12 anos, de assistente de vendedor. O pai havia falecido e ele teve que batalhar. "Senão eu seria um filho de papai", diz. Após a primeira atividade, se associou aos irmãos na fabricação de baralho e de fósforos. Também trabalhou com importações de Japão.
Mas o Líbano entrava em conflito e Nissim foi morar no exterior. Passou pela Europa e Estados Unidos e de lá veio ao Brasil para ficar duas semanas a negócios, a mando dos seus tios. Resolveu ficar no país. Em terras brasileiras, primeiro Nissim tentou a vida em Belém, no Pará, transportando de avião produtos como legumes, verduras e carnes para outros estados. "Não tinha grandes resultados". Foi daí que partiu para São Paulo e resolveu apostar na sugestão de um amigo, segundo o qual, lingeries estavam vendendo bem.
Hoje a Hope faz a propaganda dos seus artigos com algumas das estrelas mais bem pagas do Brasil e exterior. A atriz global Juliana Paes já vestiu as lingeries da marca e atualmente a garota-propaganda da Hope é a modelo internacional Gisele Bündchen, com quem a indústria tem contrato até o ano que vem.
Ao Líbano, o empresário costuma voltar uma vez a cada dois anos. Mas a comida e o idioma da região fazem parte do seu cotidiano. Nissim diz que ainda se sente um libanês, apesar de gostar muito do Brasil. "Me sinto muito bem aqui, gosto do povo", afirma. Foi no Brasil que ele se casou, com Raquel, descendente de sírios, e teve três filhas. A mãe do empresário, inclusive, chegou a morar no Brasil, mas faleceu em 1969, ainda no começo das atividades da Hope.
O nome da marca criada por Nissim quer dizer "Esperança".
Contato:
Hope
Telefone: +55 (11) 2169 2266
Site: www.hopelingerie.com.br

