São Paulo – O mercado de trabalho mudou e vai mudar mais em razão da pandemia. Profissionais capazes de se comunicar em mais de uma língua, dispostos a prestarem serviços a empresas de outros países, que dominam diversas ferramentas digitais e com elevada capacidade de organização vão ser cada vez mais necessários em um ambiente corporativo que nem sempre terá todas as pessoas de uma equipe juntas ao mesmo tempo. As empresas podem se beneficiar com redução de custos, mas a nova realidade vai exigir adaptação e uma nova legislação.
Coordenadora do curso técnico em Recursos Humanos do Senac EAD, Aline Pereira da Silva afirma que as empresas se beneficiaram da pandemia ao reduzir seus custos com aluguel de escritórios e despesas, mas, em contrapartida, perdeu-se o contato próximo entre os colaboradores.
“Acredito que diversas organizações seguirão no regime de trabalho remoto e acabarão realizando encontros esporádicos, mas sem a obrigatoriedade de comparecer periodicamente na organização. No caso de profissionais que trabalham em empresas estrangeiras, esses encontros presenciais quase não existiram, tendo em vista o custo com o deslocamento e hospedagem”, afirma.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Paulo Sardinha, não é certo ainda que todas as pessoas que podem trabalhar remotamente o farão, pois embora seja possível trabalhar à distância, a legislação pode ser um entrave. “Se o funcionário tiver um contrato de trabalho com registro pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), há uma dificuldade maior em se adotar o home office integral”, afirma.
Sardinha acredita, contudo, que um modelo híbrido, em que as pessoas estejam alguns dias no escritório e outros dias em outros locais é certo. “O futuro é híbrido, mas a dúvida é quanto ser presencial ou virtual. Vai variar conforme a atividade, os valores da empresa, a maturidade dos profissionais. Vamos precisar pensar fora da coerção da crise”, diz.
Silva avalia que, para algumas atividades, a região em que a pessoa vive está deixando de ser relevante. É o caso de setores da tecnologia, do ensino à distância e do comércio, que cada vez mais migra para o ambiente virtual. Mas a indústria, por exemplo, continuará com os postos de trabalho nas fábricas.
Certo é que empresas e profissionais saem da pandemia “diferentes”. Sardinha afirma que a liderança terá que mudar, a qualidade da comunicação dos gestores vai precisar melhorar, mas não é só isso que mudará. Funcionários subordinados precisarão aperfeiçoar sua capacidade de autogestão, de priorizar as demandas, de administrar o tempo e tomar decisões. Os profissionais estão mais “expostos” a outros idiomas e precisarão ter um domínio maior de ferramentas virtuais, como aplicativos de reuniões.
Já Silva analisa que o cenário de comunicação online “veio para ficar” e vai exigir mais capacitação dos empregados. “Um profissional que quer estar atualizado no mercado de trabalho deve ter consigo a ideia de ter o inglês como sua segunda língua. Não que sejam obrigatórias todas as reuniões serem em outro idioma, mas não poderemos negar que elas estarão presentes cada vez mais em nossa rotina”. Se o profissional, contudo, buscar emprego em companhias fora do Brasil, falar inglês ganha uma importância maior para se comunicar.
Brasil, Emirados e Europa
Senior brand partnership de uma das maiores marcas de luxo dos Emirados Árabes, Naiara Lopez está vivendo e trabalhando entre Dubai e a Europa e realizando muitas das suas atividades por teletrabalho. Ela observa que o novo cenário abre oportunidades para o profissional de pelo menos um setor em especial: marketing e comunicação.
“O home office já era uma opção para alguns profissionais da área de comunicação e marketing, mas nos dias de hoje empresas de diferentes áreas e portes estão passando a adotar o modelo de trabalho. E para nós, profissionais da área, um novo mundo de possibilidades se abre com a opção da contratação de talentos da América Latina para os Emirados Árabes e outros países”, diz. E Naiara sente no próprio dia a dia os efeitos da mudança: “Quando você consegue organizar o seu tempo e entender as suas prioridades, acaba entregando igual ou melhor trabalhando remotamente”, diz.
*Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA