São Paulo – O Brasil importa a maioria do óleo de dendê que consome, mas vários projetos são levados adiante no País, reforçando a produção nacional. Um deles, no Pará, conjuga a atividade empresarial com a agricultura familiar. A operação da empresa “Denpasa – Dendê do Pará S/A” tem capacidade para processar 30 toneladas por hora de dendê e, além da produção dos 1.500 hectares próprios e dos 2.500 hectares de parceiros, vai absorver a colheita dos 150 hectares de pequenas propriedades.
O diretor da Denpasa, Roberto Yokoyama, conta que a empresa foi a primeira a plantar o dendê no Pará. A atividade da companhia começou na década de 1970 com o cultivo de variedades de origem africana, que acabaram sendo dizimadas por uma doença, trazendo prejuízos, e ganhou novo impulso anos mais tarde, quando se chegou a um híbrido do cruzamento de espécies africana com brasileira, resistente à doença.

A descoberta foi seguida por dez anos de desenvolvimento de um projeto de clonagem das variedades híbridas. “A partir de 2019 nós começamos a produzir plantas geneticamente com maior capacidade de produção e hoje nós temos um laboratório que é capaz de produzir em torno de umas 500 mil mudas clonadas (por ano)”, diz Yokoyama. Com essas seleções, algumas plantas da Denpasa podem gerar de oito a 10 toneladas de óleo por hectare, diante de uma expectativa, em geral, de 4 a 4,5 toneladas.
O mercado brasileiro é capaz de absorver mais óleo de palma doméstico, já que atualmente importa cerca de 60% do que necessita. De acordo com dados divulgados pela Denpasa, o consumo nacional deste ano está estimado em 940 mil toneladas, sendo que a previsão de produção local é de 400 mil toneladas, em área plantada com 250 mil hectares nos estados do Pará, de Rondônia e da Bahia.
A participação da agricultura familiar no projeto tem relação com a história da Denpasa e o período em que os plantios foram dizimados pela doença. Na época, ela foi ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e parte da sua área foi destinada para assentamento rural. A regularização disso, no entanto, saiu só em 2022, impedindo o acesso a crédito para as famílias plantarem. “Quando fizemos o levantamento dessas áreas, a renda de cada família não passava de R$ 200 por mês”, diz Yokoyama.

Foi aí que a Denpasa resolveu chamar 30 famílias para um projeto piloto que nomeou de Terra Nova 47. Cada família cultiva cinco hectares com fornecimento de mudas e assistência técnica pela Denpasa e outros auxílios viabilizados por parcerias. “Já está entrando no terceiro ano esse projeto e já vai começar a produzir e, então, com a produção dessa área, nós estimamos que cada família vai ter uma renda líquida em torno de R$ 3 mil a R$ 4 mil por mês”, explica Yokoyama. Segundo o diretor, a ideia é ampliar o projeto.
Em uma apresentação feita pela companhia para a imprensa, três agricultores familiares, Regina Silva, Cleitiano Ferreira e Raimundo Ferreira Junior, falaram sobre a iniciativa da qual participam. “Eu estou muito feliz com o projeto do dendê na agricultura familiar, uma oportunidade muito boa para todos nós do assentamento. Eu acredito que muitas pessoas ainda querem fazer parte desse projeto. Depois que implantou esses 30, a gente vê a demanda das pessoas querendo cada vez mais plantar o dendê. Eu espero que isso aconteça e que a Denpasa continue esse projeto com a gente”, disse Cleitiano aos jornalistas.
A Denpasa tem três unidades, nos municípios paraenses de Santa Bárbara do Pará e Santo Antônio do Tauá. A produção de óleo de dendê da companhia é fornecida como matéria-prima para indústrias, mas uma grande parte vai para o estado da Bahia para consumo in natura, de acordo com Yokoyama. Uma das propriedades do óleo de dendê, que o faz ser bem demandado, é ser naturalmente saturado, não necessitando de hidrogenação para adquirir consistência, o que o livra da gordura trans.
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*A jornalista viajou a convite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)


