Débora Rubin e Geovana Pagel
debora.rubin@anba.com.br e geovana.pagel@anba.com.br
São Paulo – A auto-suficiência em petróleo conquistada pelo Brasil em abril de 2006 e a recente descoberta de novas reservas de óleo e gás na Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, deram uma animada na enorme, rica e exigente cadeia de petróleo e gás (P&G) do país. O que nem todo mundo sabe é que esse imenso universo pode representar oportunidades para muitos outros setores, inclusive para os pequenos empreendedores.
Entre abril de 2005 e novembro de 2007, 3.365 micro e pequenas empresas participaram de ações que buscam a qualificação como fornecedoras de produtos e serviços da cadeia P&G, com o apoio do Sebrae e da Petrobras. "Foram realizadas 28 rodadas de negócios com estimativa de negócios de R$ 1,5 bilhão", conta a coordenadora nacional de projetos de Sebrae, Eliane Borges. "É um setor que compra de tudo. Desde serviços de coffee break, até uniformes, calçados, móveis, tecnologia da informação e bens eletroeletrônicos", destaca.
As empresas participantes do projeto são dos onze estados brasileiros onde a Petrobras produz ou refina petróleo – Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul. A iniciativa contribui para estimular o desenvolvimento nacional e é um dos objetivos do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp) do governo federal.
"O convênio foi assinado em 2004 e será renovado em janeiro de 2008", adianta Eliane, do Sebrae. Segundo ela, nesse período, 8.544 empresas foram identificadas como fornecedoras efetivas ou potenciais. Dessas, 4.592 micro e pequenas empresas foram convidadas a participar das atividades. Além disso, 188 grandes e médias empresas foram mobilizadas e participaram como âncoras – além das 21 unidades da Petrobras.
Segundo Eliane, o projeto foi dividido em quatro grandes ações estratégias. A primeira foi mapear as regiões onde a Petrobras trabalha. A segunda foi a capacitação dos fornecedores da cadeia – que inclui desde o apoio para se cadastrar como potencial fornecedora até cursos, palestras, workshops e consultoria. "Orientamos 2.207 empresas para realizarem o cadastramento. Das palestras, participaram 6.032 empresas. Dos cursos e consultorias, 1.058 empresas", soma Eliane.
"As empresas pagam cerca de 20% do valor dos cursos e consultoria. A orientação ao cadastramento e as palestras são gratuitas", destaca. "Como o setor é muito exigente, a pequena que estiver apta a fornecer para a cadeia de P&G no Brasil, tecnicamente estará habilitada a fornecer para a cadeia de qualquer lugar no mundo", garante Eliane.
A terceira ação estratégica foi a criação das Redes Petro, que são grupos de cooperação das empresas fornecedoras da cadeia, efetivas ou potenciais, com o apoio de instituições e das grandes empresas. "A Rede Petro Rio Grande do Sul foi pioneira, surgiu antes da assinatura do convênio, e inspirou o modelo no Brasil todo", conta a coordenadora do Sebrae. "Hoje temos 10 Redes Petro em operação e mais três em fase de estruturação", diz Eliane.
Um detalhe que chama atenção é que das 2.207 empresas que participam das Redes Petro, mais da metade, 1.541, estão localizadas no estado de Minas Gerais. Uma das razões, de acordo com Eliane, é o fato de o Estado ser forte na indústria e, por conseqüência, na prestação de serviço. Mas também porque ali eles fizeram um site que facilitou o cadastramento das empresas interessadas. No estado mineiro, foi criado um Núcleo de Inteligência Competitiva cujo objetivo é fazer o diagnóstico da cadeia por meio do mapeamento das oportunidades de fornecedores.
"As Redes Petro são excelentes para as micro e pequenas empresas. Uma das maiores dificuldades que as pequenas têm é o acesso à informação. Com o convênio, foi possível criar todo um sistema de cooperação. Juntas elas conseguem fazer catálogos, ir para feiras", exemplifica.
Por fim, a quarta grande ação do convênio é a mobilização de grandes empresas para que elas ajudem a integrar as pequenas na cadeia. Algumas participam como compradoras em rodadas de negócios, outras fazem parte do comitê gestor do projeto – conta Eliane. "Tem aquelas que participam fazendo palestras sobre seus investimentos, políticas de compras e sobre exigências dos fornecedores. E há ainda aquelas que participam como âncoras das ações de capacitação dos fornecedores, muitas vezes com apoio financeiro", destaca.
Via de mão dupla
Se para os pequenos a cadeia de P&G é um negócio em potencial, para a Petrobras é fundamental ter empresas como essas cada vez mais capacitadas – tornando os produtos mais acessíveis e até mais baratos. É o caso da empresa Filtrex, sediada na Bacia de Campos, que desenvolveu um filtro para óleo que até então era importado. O produto tem as mesmas características do importado, mas é 30% mais barato.
"Eles fabricavam filtros automotivos, souberam da oportunidade, trabalharam duro e está aí o resultado", conta o gestor do convênio na Petrobras, José Luiz de Oliveira Reis. "Para qualquer empresa é muito importante estar dentro da cadeia de petróleo e gás. Por isso buscamos capacitar as micro e pequenas empresas, trabalhando a competitividade e a sustentabilidade delas."
Outro caso de sucesso citado por Reis como bem recebida pela gigante Petrobras é o da empresa Armtec Tecnologia em Robótica, do Ceará, que criou um robô de combate a incêndio. O controle do robô Saci (Sistema de Apoio ao Combate de Incidentes) é feito por bombeiros à distância. A missão do robô, que lança jatos de até 4,2 mil litros de água por minuto, é proteger as equipes que combatem incêndio. "Agora eles estão trabalhando em um novo robô submarino, o Samba, que está sendo desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Ceará e com a Marinha", explica.
Por seu potencial inovador, em 2005 a Armtec conquistou o primeiro lugar na categoria Produto da Região Nordeste no Prêmio Finep de Inovação Tecnológica e com o segundo lugar na categoria Segurança Operacional e Preservação Operacional do Prêmio Petrobras de Tecnologia.
Rede Brasil
Os planos de 2008 do convênio incluem um encontro entre todas as Redes Petro para criar a Rede Petro Brasil e o começo do processo de internacionalização das micro e pequenas empresas por meio de uma parceria com a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Por fim, uma quinta ação estratégica será lançada: a promoção do desenvolvimento e da inovação das micro e pequenas empresas.