São Paulo – As empresas fecham as portas para um recesso, as famílias se reúnem, as orações acontecem e as celebrações estão por todo o lugar. É dia de ir na mesquita rezar e de encontrar conhecidos em casa e em espaços públicos. Assim costuma ser um dia de Eid al-Fitr em países muçulmanos. É feriadão, é uma festividade, é o encerramento do Ramadã e é uma das datas mais importantes do calendário islâmico. Veja abaixo fotos da comemoração do Eid al-Fitr no ano passado em diferentes países. Acima, família egípcia passeia na data.
O Eid al-Fitr é motivo de feriado de cerca de três dias em nações com populações muçulmanas. Ele ocorre em datas diferentes a cada ano, assim como o Ramadã, mês sagrado do Islã em que os fiéis jejuam do nascer ao pôr do sol. A data é sabida apenas em cima da hora, já que é regida pelo calendário lunar. Neste ano, o Eid al-Fitr deve ocorrer nesta sexta-feira (21), encerrando o Ramadã que se iniciou em 23 de março. Cada Ramadã pode durar 29 ou 30 dias.
“O Eid al-Fitr é o momento em que você finaliza essa jornada de 29 ou 30 dias. Você imagina o Criador Altíssimo satisfeito com você. Ele está satisfeito porque você melhorou em todos os aspectos, então é uma grande festa”, explicou o vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), Ali Zoghbi, à ANBA.
No Ramadã, além do jejum diurno de bebida e comida, os muçulmanos devem aumentar a caridade e as orações, assim como seguir outras práticas e restrições em conexão com Allah, que é como chamam a Deus. Nesse período também as mesquitas ficam repletas e o jejum normalmente é quebrado de forma coletiva, em família ou com amigos e parceiros de fé. “Há um pressuposto de que você saia um ser humano melhor”, afirma Zoghbi.
Uma das bases do jejum do Ramadã é se solidarizar com quem passa fome. Mas Zoghbi explica que o jejum não deve ser só de alimentos, mas também espiritual, ao lidar com o ser humano com mais carinho e respeito, relevar as ofensas e buscar reconciliações com as pessoas. “É um tempo de conciliação, de depuração espiritual, um tempo de caridade, de devoção, além de ser um exercício bastante importante de autocontrole”, afirma.
Vivido tudo isso, o Eid al-Fitr é o momento de deixar o jejum de alimentos e bebidas para trás e comemorar as conquistas do período sagrado. O dia do festival – também é chamado assim o Eid al-Fitr – deve começar com uma oração voltada para a data na mesquita, onde também são entoados cânticos religiosos especiais. A reza é conjunta e complementada pela confraternização ou até um café da manhã coletivo no local religioso.
O que vem a seguir é um ritual de fraternização entre amigos, famílias e conhecidos. As pessoas se visitam, passam de casa em casa para tomar juntas um café, fazer uma refeição, comer um doce. As famílias já ficam preparadas para receber os demais. Zoghbi conta que nessa visita uns desejam aos outros felicidade no dia magnífico que é o Eid al-Fitr. Durante os dias seguintes do festival, essa grande confraternização segue acontecendo nos países.
“É um período de grande alegria para a comunidade muçulmana, onde todos estão juntos confraternizando e, eu diria, comemorando um final de processo de aprimoramento individual e coletivo também”, afirma. Vestir a melhor roupa que tiver faz parte do ritual de uma data especial, assim como entre alguns grupos de muçulmanos costuma haver troca de presentes, doações de brinquedos ou entrega de lembranças para as crianças da família.
Adaptação ao período
O Eid al-Fitr é um feriado religioso, como é o Natal no Brasil e em outros países com populações majoritariamente cristãs. O funcionamento das atividades nas nações islâmicas nesse período é parecido com o que acontece no Ocidente em tempos natalinos, apenas com serviços básicos, restaurantes, hotéis e empreendimentos de lazer abertos ao público. Por isso, quem tem relacionamento comercial com muçulmanos precisa levar essas peculiaridades em conta, assim como é necessário observar a mudança da rotina durante o próprio Ramadã.
O Brasil é um fornecedor importante de alimentos para países muçulmanos e as exportações para esses mercados aumentam no período de um mês antes do Ramadã, quando são abastecidos os estoques locais. Apesar do jejum, as refeições noturnas coletivas nos países fazem aumentar o consumo. No entanto, no decorrer do mês sagrado, as atividades são reduzidas e são adotados horários especiais em função do jejum. Algumas nações reduzem a carga horária de trabalho, encerrando tudo mais cedo, em outras o expediente começa após o desjejum.
“É importante respeitar esses horários nestes países e, acima de tudo, respeitar esse momento, respeitar essa diferença. Você pode não ser muçulmano, mas você tem que considerar que aquela pessoa está num momento importante para ela e, ao mesmo tempo, debilitada por conta [da falta] do alimento”, afirma Zoghbi, sobre o jejum. Ele lembra que o Ramadã ocorre em diferentes estações em cada região. “Há países que estão no verão, o dia é mais longo”, diz.
Durante o Ramadã, o trabalho não é interrompido nos países muçulmanos, mas sofre adaptações. Para quem precisa fazer reuniões de trabalho ou negociar com quem está jejuando, é recomendado marcar cedo. Zoghbi sugere evitar reuniões próximas do horário da quebra do jejum ou das orações, essas últimas feitas por muçulmanos o ano todo. Para transações financeiras também é preciso levar em conta os horários dos bancos no Ramadã. Já no feriadão do Eid al-Fitr não há expediente nas empresas em geral.
Muçulmanos no mundo
Cada país tem suas práticas. O Eid al-Fitr, no entanto, costuma observado tanto em países que são oficialmente de religião muçulmana como em outros que não o são, mas têm grandes populações que seguem o Islã. A Indonésia, por exemplo, não é um estado de confissão islâmica, mas tem 250 milhões de muçulmanos entre os seus mais de 270 milhões de habitantes. “É feriado”, explica Zoghbi, sobre a data no país. A Turquia também é um país oficialmente laico, mas de maioria muçulmana, e tem no Eid al-Fitr um importante momento nacional.
Visitar um país muçulmano a turismo durante o Eid al-Fitr é uma boa ideia? “Vai ser muito bem-recebido, é uma festa, uma alegria”, afirma Zoghbi. Mas sendo feriado religioso, será um momento de parada também para os moradores, então, nem todos os estabelecimentos estarão funcionando normalmente, exceto aqueles que se preparam para receber clientes em função do momento festivo ou pela demanda que ele gera. Quem estiver em um país árabe no Eid al-Fitr, diga: “Kol Aam Ua Antom Bikhair”. Significa “Que todos os anos você esteja em paz e bem” e é o cumprimento da data.