Dubai – No vagão feminino do metrô de Dubai a caminho do mercado de rua da cidade velha, o Souk Deira, eu aguardava meu destino final com curiosidade. No emirado, toda a malha metroviária tem vagões específicos para mulheres e crianças. O trem era inteiriço e apenas uma linha no chão separava a área reservada ao público feminino. Sob pena de multa de 100 dirhams (cerca de R$ 100), a delimitação era respeitada pelos homens que utilizavam o transporte público, sem deixar de ter alguns olhares mais curiosos do que lascivos da parte deles.
Apesar de ser uma das cidades mais progressistas do Oriente Médio, Dubai mantém costumes conservadores. A religião é muçulmana. As mesquitas têm salas de reza separadas para homens e para mulheres, então me vem à mente que o vagão exclusivo pode ser um resultado desta cultura – para eles, uma forma de proteger as mulheres. Pensei que fosse me incomodar com a divisão, mas a verdade é que me senti bastante confortável e segura. Com o trem lotado, não havia mulheres no vagão misto, mas em outros horários eu mesma utilizei os outros vagões sem nenhum problema.
Os trens, assim como a cidade, são muito limpos e seguros, além de pouquíssimo ruidosos, e no vagão destinado às mulheres era possível observar gente de todos os cantos do mundo, turistas e trabalhadoras, oriente e ocidente, de short ou de véu, conversando e enviando mensagens de texto em inúmeros idiomas. Todas num mesmo lugar, filipinas, indianas, francesas, inglesas, chinesas, americanas, brasileiras – ali, éramos todas iguais.
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Na linha vermelha sentido Rashidiya, lotada às 19h – mas sem comparação com a situação lata de sardinha da linha vermelha do metrô paulista – desci na estação Union para trocar para a linha verde, sentido Creek, que estava mais vazia. Pude me sentar, e foi ali que vi um menino de aparência indiana com sua mãe, sentados à minha frente. Ele devia ter seus cinco anos de idade, vestia camiseta vermelha e segurava um balão com suas mãos pequeninas. O garotinho sorriu para mim e trocamos sorrisos e olhares furtivos enquanto a mãe o envolvia em um abraço, com aparência cansada após um dia de trabalho.
Nos Emirados, mais de dois milhões de pessoas são indianas, a maior população de residentes expatriados do país, seguida por paquistaneses, filipinos e bengalis. A população total do país é de cerca de nove milhões de habitantes, a maioria de estrangeiros, vindos de mais de 200 países. Somente em Dubai, são cerca de 245 mil emiratis e 2,8 milhões de expatriados. Os dados são do governo dos Emirados e do Centro de Estatísticas de Dubai.
Mãe e filho desceram na estação seguinte (primeira foto acima), em Baniyas Square, e eu continuei por mais algumas estações até chegar em Al Ras, a mais próxima do Souk, com uma caminhada de 500 metros. Com o sorriso inocente de criança segui o passeio, de coração contente e com a sensação de dever cumprido após uma semana de trabalho na cidade mais global do Oriente Médio.