São Paulo – A imensidão de areia e as dunas do deserto em AlUla, cidade do norte da Arábia Saudita, se tornam o pavilhão a céu aberto da exposição Desert X AlUla, em cartaz até 23 de março. Nela, artistas de diversos países foram desafiados – ou se desafiaram – a criar instalações e obras de arte no deserto. Com o tema de “Na presença da ausência” e com curadoria do brasileiro Marcello Dantas e da libanesa baseada em Oxford, na Inglaterra, Maya El Khalil, a mostra conta ainda com uma instalação de uma artista brasileira: Karola Braga (na foto acima).
Entre obras que buscaram complementar, dialogar ou até se contrapor à aridez do deserto, Karola explorou fragrâncias e cheiros em uma região que se tornou berço do intercâmbio de especiarias por meio da rota do incenso. Artista e pesquisadora olfativa, Karola logo compreendeu que é praticamente impossível competir com o protagonismo de um deserto, mas, ao criar a instalação “sfumato” buscou trazer à memória dos visitantes as recordações que os cheiros podem trazer.
“Quando você lida com uma escala de deserto, este se torna sempre o protagonista. Nas minhas obras, o cheiro é o protagonista. Então, busquei na parte visual e estrutural do projeto – o incensário gigante – uma integração máxima com a paisagem, numa tentativa de manter o aroma como o foco principal da obra”, disse a artista à ANBA.
Os perfumes que o incenso lança ao ar são alguns simbólicos da região, como mirra e olíbano (frankincense). Estudiosa da arte olfativa, Karola diz que os cheiros são capazes de materializar e trazer às pessoas memórias de sua vida. Seja o cheiro de um lugar, de uma flor, de um produto. “Quando eu pego um cheiro, dependendo de onde estou inserida, o que esse cheiro significa dentro daquela cultura? É o que eu tento explorar como artista, além de criar essas memórias, recriar esferas olfativas. Foi incrível fazer esse trabalho lá, pesquisar, refazer a rota do incenso”, diz.
A Desert X foi criada na Califórnia, em 2017, e desde então, em edições bianuais, artistas são convidados a criar projetos que interajam com o deserto. A mostra já teve edições no Vale Coachella, na Califórnia, e em AlUla. Neste ano, além de Karola, levaram projetos para a mostra artistas da Coreia do Sul, Kuwait, Arábia Saudita, Palestina, México, Líbano, Itália, Gana, Iraque, além de um franco-argelino. Dantas, por sua vez, já assinou no Brasil a curadoria de outras exibições, assim como a direção artística da Japan House e do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, onde também fica o ateliê da artista.
Karola recorda que a oportunidade de participar da Desert X surgiu após ela e Dantas se encontrarem em uma premiação de arte olfativa em Los Angeles, nos Estados Unidos, em 2023. “Pedi a ele para deixar eu ‘perfumar’ o deserto” recorda a artista. Após aquele encontro, ela teve o desafio de criar um projeto “da noite para o dia”. Como a rota do incenso é parte dos seus trabalhos acadêmicos e da sua vida profissional, foi possível cumprir o “desafio” a tempo.
Entre discussões e ideias com Dantas, Karola esteve em AlUla em junho do ano passado, e, novamente, por um período de quase um mês entre janeiro e fevereiro deste ano. Retornará para lá no começo de março, quando apresentará uma oficina sobre este trabalho. “Eles estão investindo muito em turismo, hotéis e acho muito interessante que também estejam investindo neste viés da cultura. Há planejamentos de se abrir museus, iniciativas culturais. Acho isso sensacional”, afirma. Confira aqui mais informações sobre a Desert X.