Cidade do Kuwait – A Organização das Nações Unidas (ONU) espera arrecadar mais de US$ 1,5 bilhão na 2ª Conferência Internacional de Doação Humanitária para a Síria, que será realizada na quarta-feira (15) na Cidade do Kuwait. Pelo segundo ano consecutivo, representantes de governos e organizações de ajuda humanitária vão se reunir no país do Golfo com objetivo de mobilizar a comunidade internacional a doar recursos para os afetados pelo conflito civil sírio, que já dura quase três anos.
Em 2013, a quantia arrecadada na primeira conferência, realizada também no Kuwait, foi de US$ 1,5 bilhão. “Quanto deveremos levantar? Isso pelo menos, mas esperamos mais”, disse à ANBA o porta-voz do Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês), Jens Laerke. “Depende da generosidade dos doadores”, acrescentou.
A ONU informou que este ano precisa de US$ 6,5 bilhões para dar auxílio a 9,3 milhões de sírios afetados pelo conflito, entre eles 2,3 milhões de refugiados em países vizinhos e 6,5 milhões de deslocados dentro da própria Síria. “Não esperamos arrecadar tudo isso na quarta-feira, mas haverá outras oportunidades”, afirmou Laerke.
Ele destacou, porém, que as organizações envolvidas no socorro aos sírios contam com a generosidade dos doadores, em sua maioria governos. “Os países do Golfo têm sido muito generosos não só nas doações à Síria, mas também para outras nações como o Iêmen e a Palestina e até para locais fora do Oriente Médio, como o Haiti”, declarou. Só o Kuwait anunciou a doação de US$ 300 milhões na conferência do ano passado. “Esperamos que eles sejam generosos de novo”, ressaltou o porta-voz do Ocha.
O ministro de Estado para Assuntos do Gabinete do Kuwait, Mohammed Al-Abdullah Al-Sabah, que nesta segunda-feira (13) inaugurou o centro de imprensa da conferência no hotel Jumeirah Messilah Beach, na capital kuwaitiana, disse aos jornalistas que parte do dinheiro disponibilizado pelo país no evento de 2013 foi utilizada para viabilizar abrigo para 70 mil sírios que se refugiaram na Jordânia, US$ 40 milhões serviram para comprar alimentos para 1 milhão de refugiados durante quatro meses e outra quantia foi destinada a 83 mil deslocados dentro da própria síria atendidos pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), uma das várias agências da ONU envolvidas no socorro aos afetados pelo conflito.
“Estamos confiantes de que a conferência será um sucesso”, disse o ministro Mohammed. “Nós estamos confiantes que a comunidade internacional vai contribuir para a ajuda humanitária aos sírios. Vamos conseguir este objetivo, ‘inchallah’ (se Deus quiser)”, acrescentou o ministro da Informação do Kuwait, Salman Al-Humoud Al-Sabah, que também participou da inauguração do centro de imprensa.
De acordo com Laerke, os recursos são necessários para atender necessidades básicas da população afetada, como alimentação, água limpa, medicamentos, vacinas e abrigo. “A Síria passa um por um inverno duro [atualmente] e há necessidade de habitações adequadas, de isolamento térmico [das moradias], de combustível [para aquecimento], de cobertores e também de roupas”, informou. “Há crianças que não têm nem sapatos”, alertou.
Na semana passada, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), outras duas agências da ONU que atuam no auxílio aos sírios, lançaram uma campanha com o objetivo de arrecadar US$ 1 bilhão para as crianças atingidas pelo conflito, batizada de “Sem geração perdida”. As instituições calculam em mais de 4 milhões o número de pequenos em risco, sendo um milhão de refugiados e mais de 3 milhões dentro do país.
O ministro Mohammed Al-Sabah informou que 69 países estarão representados na conferência de quarta-feira, além de 24 organizações internacionais. O anfitrião do evento será o emir do Kuwait, Sabah Al Ahmed Al Jaber Al Sabah, e a presidência ficará a cargo do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. O Brasil estará representado no encontro, que contará também com a participação do secretário de Estado norte-americano, John Kerry.
A reunião no Kuwait antecede a segunda conferência da paz na Síria, que está programada para o dia 22 em Montreux, na Suíça. A primeira ocorreu em junho de 2012, em Genebra, por isso a próxima está sendo chamada de “Genebra 2”, embora vá ocorrer em outra cidade. O encontro de 2012 não teve efeitos práticos sobre a guerra civil, já agora a ideia é colocar frente a frente representantes do regime do presidente sírio, Bashar Al-Assad, e dos opositores.
Desde que o conflito começou, em 2011, após protestos populares que ocorreram na esteira da chamada “Primavera Árabe” terem sido duramente reprimidos pelo governo sírio, mais de 100 mil pessoas morreram. Este número, o último confirmado pela ONU, é de julho de 2013. Na semana passada, a organização anunciou que deixou de fazer a contagem dos mortos pela dificuldade em obter dados confiáveis do país.
O jornalista viajou a convite do governo do Kuwait


