São Paulo – A capacidade da Faixa de Gaza fornecer os padrões mínimos de sobrevivência para sua população deverá piorar até 2020. É o que afirma um levantamento sobre a região divulgado esta semana pelas Nações Unidas. De acordo com o estudo Gaza 2020: um lugar habitável?, aproximadamente 1,6 milhão de pessoas vivem hoje no território. Em 2020, quando a população chegar a 2,1 milhões, não haverá água para todos, nem escolas, nem médicos suficientes.
“As pessoas em Gaza permanecem em uma situação pior do que aquela em que estavam nos anos 1990, apesar do aumento real do Produto Interno Bruto (PIB) per capita nos últimos três anos. O desemprego é alto, particularmente entre mulheres e jovens. O PIB per capita de Gaza deverá crescer modestamente nos próximos anos, tornando mais difícil aos moradores de Gaza garantir uma vida decente”, afirma o estudo conduzido pelo coordenador humanitário das Nações Unidas, Maxwell Gaylard, pelo representante especial do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) nos territórios ocupados, Jean Gough, e pelo diretor da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa), Robert Turner.
Em 1994, o PIB per capita na Faixa de Gaza era de US$ 1.327. Em 2011, foi de US$ 1.165 e, em 2020 deverá ser de US$ 1.273. Em 2011, 29% da população estava desempregada e 44% das moradias sofriam com a insegurança alimentar. O estudo reconhece que a economia da Faixa de Gaza está lentamente se recuperando de uma profunda retração. No entanto, observa que a economia informal, como o tráfego de mercadorias nos túneis que ligam Gaza ao Egito, “floresceu” nos últimos anos e beneficiou as autoridades “de facto” do território.
De acordo com as projeções do levantamento, crianças e jovens de até 17 anos somavam 839 mil pessoas e correspondiam, em 2011, a 51%da população da Faixa de Gaza. Em 2020, as 1,029 milhão de crianças e jovens até 17 anos serão 48% da população local. No ano passado 558 mil crianças e jovens estavam em idade escolar. Em 2020 serão 673 mil. Para que todos possam estudar, prevê o estudo, a quantidade de escolas teria que saltar das 250 unidades de 2011 para 440 em 2020. Ainda na área social, em 2020 a Faixa de Gaza irá precisar de mil médicos a mais do que tem hoje e de mais dois mil enfermeiros.
A região precisará de investimentos em energia elétrica e fornecimento de água. A capacidade atual de fornecimento é de 242 megawatts (MW). Em 2011, o pico de demanda chegou aos 350 MW e, em 2020, será de 550MW. Atualmente, apenas 10% da água proveniente do aquífero que abastece a Faixa de Gaza é potável. O estudo prevê que em 2016 não haverá mais água limpa.
“Sem nenhuma atitude, o dia a dia dos moradores de Gaza em 2020 será pior do que é hoje. Praticamente não haverá acesso a fontes confiáveis de água potável, os padrões de serviços de saúde e de educação continuarão a piorar e a existência de um serviço de eletricidade acessível e confiável se tornará uma distante memória para a maioria. O já elevado número de pobres, marginalizados e de pessoas em situação de insegurança alimentar dependentes de ajuda não terá mudado e provavelmente terá aumentado”, prevê o relatório.
O levantamento afirma que a Faixa de Gaza precisa de investimentos em infraestrutura básica, especialmente no fornecimento de água e energia, e melhoria nos serviços de atendimento à população, como educação e saúde. “Um ambiente extremamente urbanizado e com pouco espaço para crescimento, Gaza precisa se abrir e ser acessível ao mundo. A viabilidade de um futuro estado Palestino depende de uma conexão adequada entre a Cisjordânia e Gaza, com acesso ao Mediterrâneo para todos os territórios ocupados Palestinos”, afirmam os autores do estudo.

