Geovana Pagel
São Paulo – O crescimento da agricultura orgânica no Brasil, que neste ano deve movimentar mais de US$ 350 milhões, acontece no mesmo momento em que a Arábia Saudita passa a se interessar por esses produtos. O Ministério da Agricultura do país árabe está coletando toda informação possível sobre esse tipo de agricultura, incluindo padrões e especificações de produção, normas e regulamentos que regem a área.
A possibilidade de prospectar o mercado árabe é recebida com entusiasmo pelos produtores brasileiros, no período em que o setor movimenta no Brasil cerca de US$ 250 milhões por ano, com crescimento anual de cerca de 50%. A expectativa é de que o mercado de orgânicos movimente mais de US$ 350 milhões no país, ainda em 2003.
Alimentos processados
“Nossa produção orgânica está saindo da fase primária e passando para a etapa seguinte, que é a de alimentos processados. Já temos 174 processadoras certificadas operando no país”, explica Maria Cristina Prata Neves, pesquisadora da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica, no Rio de Janeiro.
São usinas de açúcar, indústria de sucos, torrefadoras, pequenas agroindústrias de alimentos minimamente processados, doces, geléias. Eram apenas 127 em 2001 e aumentaram para 174 neste ano.
“O Brasil exporta principalmente para a Alemanha e a Holanda. Esses países compram nossos produtos, processam e comercializam para outros países. Os Estados Unidos e o Japão também são grandes importadores”, diz a pesquisadora.
Carne e frango
Maria Cristina lembra que o Brasil já é tradicional exportador de alimentos para os países árabes, especialmente carne e frango. E agora inicia as negociações para exportar carne e frango orgânicos.
Com relação à carne, afirma a pesquisadora, já existe produção para exportação. Já as iniciativas com frango ainda se limitam ao mercado local, mas nada impede que venha aumentar.
“Tudo depende de mercado, demandas, interesse”, explica. “A tecnologia existe. Suco de laranja, café, açúcar, soja, palmito, frutas frescas e uvas, por exemplo, são produtos que já estão sendo exportados e que poderiam ampliar seus mercados para o Oriente Médio”, completa.
Segundo Maria Cristina, pelo menos 135 pesquisadores da Embrapa trabalham para disponibilizar tecnologias e produtos apropriados para a produção orgânica, formas de manejo das culturas e criações num esforço para diminuir os custos para os produtores, vencer as dificuldades e solucionar os problemas que possam vir a limitar a produção orgânica.
Conferência Biofach
O mercado de produtos orgânicos, que movimenta cerca de US$ 25 bilhões no mundo, de acordo com estimativa para 2003 da Federação Internacional para os Movimentos da Agricultura Orgânica (IFOAM), foi o tema da 23ª Conferência BioFach que, no final de setembro, aconteceu pela primeira vez na América do Sul.
A Conferência, realizada no Rio de Janeiro, possibilitou o lançamento oficial do programa Cultivar Orgânico, que oferecerá condições diferenciadas aos produtores para estimular a agricultura orgânica no estado.
“O evento reuniu especialistas de 14 países, entre os quais os dois maiores compradores de orgânicos do mundo, sediados na Alemanha e na Holanda”, disse a diretora do Biofach, Maria Beatriz Costa. Ela destacou ainda a participação do Ministério do Desenvolvimento Agrário no evento, para divulgar as iniciativas de incremento à produção de orgânicos no Brasil, por meio da agricultura familiar.
Durante a Conferência BioFach, estiveram em debate o mercado brasileiro orgânico: perspectivas e dificuldades; certificação participativa; carne orgânica; visão mundial do marketing orgânico, entre outros temas.
“Estamos muito satisfeitos com a participação deste ano e já temos a confirmação de que a Biofach Amárica Latina será realizada aqui no Rio, nos dias 8, 9 e 10 de setembro de 2004”, conta.
Em relação à possibilidade comércio com o mundo árabe, a diretora do projeto garante que o interesse é recíproco. “É só uma questão de estabelecermos os contatos certos e planejar o mercado para que não ter mais demanda do que oferta”, avalia.
Café orgânico natural
João Pereira Netto é consultor de café orgânico natural, em Mocóca, no interior paulista. Há 10 anos ele exporta para o Japão praticamente toda a produção da sua propriedade, a fazenda Santo Antônio. Atualmente a safra fica entre 5 e 6 mil sacas.
“O café que nós produzimos aqui é orgânico natural porque não utilizamos nenhum tipo de fertilizante. Depende somente do solo, que precisa de um manejo bem conduzido, e da chuva”, explica Netto.
Entre as fazendas vizinhas para as quais Netto oferece consultoria, o destaque fica para a Fazenda Ambiental Fortaleza, cuja produção de café orgânico natural receberá o selo de certificação em 2004. Isto significa entre 1.200 a 1.500 sacas prontas para serem exportadas, inclusive para a Arábia Saudita, que tem demonstrado abertura para os produtos orgânicos.
“Nossa safra depende muito do clima, mas temos muito interesse em estabelecer novos contatos e conhecer outros importadores interessados no nosso café”, garante.
Contato
Fazenda Ambiental Fortaleza
Fone: (+5519) 3695.4180
E-mail: fazendafortaleza@dglnet.com